O Sindicato dos Transportes (RMT) convocou uma manifestação para 23 de Outubro, em Londres, contra os cortes de “austeridade” e marchou até a sede do TUC (Federação Sindical Nacional) exigindo uma acção imediata contra os cortes. A marcha foi apoiada pelo FBU (sindicato de bombeiros), o NUT (sindicato de professores) e outros sindicatos. Cerca de 1500 pessoas participaram da manifestação.
No comício, Matt Wrack, o líder do FBU, falou sobre a greve iminente dos bombeiros em Londres. “Os patrões estão dizendo – andem na linha ou vamos despedi-los. Bem, nós estamos andando… em greve”.
Em 20 de Outubro, dia em que o governo anunciou os cortes mais profundos desde a 2ª Guerra Mundial, 2,5 mil marcharam em Londres em oposição, e em todo o país muitas outras manifestações foram realizadas. Existem outras manifestações previstas, no entanto, a liderança do TUC recusou-se a convocar uma manifestação nacional.
Na Escócia, o TUC escocês mobilizou e 20 mil marcharam em Edimburgo.
Durante a passeata, estudantes realizaram um protesto gritando “Somos todos franceses”. A população da Escócia é de cerca de 5 milhões, e uma mobilização equivalente na Inglaterra e no País de Gales teria visto 200 mil ou mais nas ruas de Londres.
A paralisia do TUC é para tentar impedir qualquer manifestação nacional das massas até Março de 2011. Entretanto, a acção está sendo tomada agora pelos sindicatos que estão sob ameaça imediata, como no caso dos cortes para o serviço de combate a incêndio em Londres e os ataques aos empregos no sector ferroviário.
Uma vez iniciados os cortes, não existirá um único sector onde os trabalhadores não serão ameaçados. George Osborne, o ministro da Fazenda, anunciou cortes de 490 mil empregos no sector público, e é amplamente reconhecido que isto significa mais 500 mil no sector privado. Haverá um corte total combinado de £18 mil milhões nos benefícios sociais (desemprego, habitação, criança, invalidez e benefícios relacionados com o trabalho) e, em 2020, a idade da reforma será aumentada para 66 anos (hoje é de 60 para as mulheres, mas em crescimento, e 65 para os homens). Ocorreram cortes de pelo menos 20% em muitos Ministérios.
Há um corte de pelo menos 40% para o financiamento das Universidades e de 20% nas instituições de ensino superior. Isso vai significar o fechamento de algumas universidades e faculdades, e isso significa que os pobres serão impedidos de fazer cursos caros, pois as taxas escolares irão dobrar.
Quando George Osborne anunciou o corte de empregos no sector público, os parlamentares conservadores esqueceram a sua interpretação pública de “assistência, uma nação” [1] e aplaudiram, revelando um desprezo indisfarçável à classe trabalhadora.
Estes cortes dizem respeito à privatização da previdência social. Os serviços públicos serão contratados no sector privado, e os serviços públicos estatais serão cortados. O RMT e outros estão chamando os dirigentes sindicais a preparar uma manifestação nacional este ano, e muitos sindicatos farão greves quando os cortes atingirem as suas bases de servidores públicos e os seus empregos. Alguns sindicatos são obrigados a mostrar que estão respondendo, tomando medidas sob seu controle, tais como a criação de novos comités de base, mas proporcionando-lhes poucos recursos e também realizando actos de protesto com convocação apenas na véspera.
Os ataques aos trabalhadores só podem ter sucesso para a burguesia e o governo se gerarem novas divisões e ataques mais profundos sobre os pobres, mulheres, jovens e imigrantes. Já nesta semana, o cardápio de um hospital público não continha alimentação muçulmana. Os pacientes que a necessitem têm de arrumar a sua própria refeição. Este é mais um ataque a muçulmanos e comunidades de imigrantes.
Alguns distritos de Londres já começaram a preparar um êxodo em massa de 200 mil pobres das áreas mais ricas da cidade. Esta é uma consequência do ataque contra os subsídios à habitação, que ajudam a reduzir o valor das rendas e hipotecas para os trabalhadores com baixos salários e os desempregados. O subsídio à habitação deverá ser limitado a valores abaixo das taxas de mercado e deverá chegar a 30% da taxa de mercado até Outubro de 2011. Isso significa que uma limpeza social e económica em massa está sendo preparada nas cidades.
Os trabalhadores deste país estão a entrar num período que vai mudar as relações de classe e de luta, mas as burocracias sindicais estão tentando controlar e suprimir a reacção da classe. Os sindicatos que estão se movendo para a luta precisam ajudar a coordenar uma acção mais ampla, reunindo estudantes, trabalhadores, comunidades e imigrantes num movimento que exija o fim dos cortes e com uma mensagem clara de que não vamos pagar pela crise dos especuladores e banqueiros. Esse é o entendimento das comissões contra os cortes que começam a desenvolver-se em toda a Grã-Bretanha.
[1] Uma nação (one nation): termo usado para referir-se a uma ala do Partido Conservador que prega a “união entre ricos e pobres” na Inglaterra, em oposição à polarização social existente entre as classes.
Ralph Martin
Membro do Sindicato de Professores Universitários (UCU), do Conselho Sindical de Liverpool e do movimento contra os cortes.