Tirem as mãos da Venezuela! Não em nosso nome!

Repudiamos profundamente o seguidismo acrítico do Governo português e dos restantes governos dos países europeus que apoiam a política de agressão de Trump e Bolsonaro sobre a Venezuela.

Augusto Santos Silva, Ministro dos Negócios Estrangeiros, reconheceu Guaidó (fantoche dos EUA) como presidente interino, referindo que “pode fazer-se a transição com eleições presidenciais, na medida em que o presidente da Assembleia Nacional Venezuelana, pode assumir funções de presidente interino para convocar eleições presidenciais“. Guaidó é um testa de ferro de Trump e da direita reacionária venezuelana, que não tem qualquer legitimidade para governar a Venezuela.

É mais um capítulo na história das sistemáticas intervenções norte-americanas na América Latina. A intenção dos EUA é, o invariável, domínio directo de uma das maiores fontes de recursos naturais do mundo. Tudo em função de uma economia mundial ainda completamente dependente dos combustíveis fósseis, sob o domínio das elites reaccionárias dos EUA, negacionistas do aquecimento global.

A direita portuguesa (CDS e PSD) veio também a terreiro legitimar o golpe de Guaidó e de Trump e ainda tem a hipócrita desfaçatez de falar em democracia e de colar o regime de Maduro à esquerda. A falta de memória à direita é grande, pois esquecem-se quando Passos Coelho ou Paulo Portas foram recebidos, com honras de Estado, em Caracas, com o intuito de estabelecer negócios que beneficiassem as elites dos dois países.

Importa salientar as semelhanças da actual situação venezuelana e da Guerra do Iraque, em 2003, movida pelos EUA e UE. No Iraque, a justificação para intervir foi as, nunca encontradas, “armas de destruição massiva”. Hoje, na Venezuela, é a “necessidade de democracia”. Independentemente da Venezuela precisar de uma democratização do seu regime, esse é um assunto que diz respeito, apenas e só, ao povo venezuelano. A actual “necessidade de democracia”, na Venezuela, corresponde às “armas de destruição massiva”, no Iraque, em 2003. São simples justificações, com fácil adesão ao imaginário popular, transformadas em razão plausível para mais uma intervenção imperialista. Caso a “democratização” fosse o verdadeiro móbil dos EUA, não seria estranho que não tenham já intervindo na sua aliada Arábia Saudita? Ou, desde que sejam aliados do imperialismo, os regimes ditatoriais têm carta-branca para fazerem o que bem entenderem com o seu povo? E o que dizer de uma “democratização”, através de uma agressão externa, tendo como aliado o Governo Bolsonaro? Grotesco, no mínimo.

É conveniente não nos afastarmos de um facto incontornável: Guaidó, ao contrário de Maduro, não teve um único voto. Cozinhou a sua auto-proclamação com os EUA e UE, auto-proclamou-se Presidente da Venezuela e a comunidade internacional, conforme previamente acordado, reconheceu-o. A ideia é pressionar, interna e externamente, o regime de Maduro até que a casta militar venezuelana, na qual se apoia, comece a ceder, fazendo o regime desmoronar. Os EUA e a UE mostram-nos, mais uma vez, que a democracia e a soberania dos povos são secundárias face ao interesse das suas elites em lucrar à custa da espoliação dos recursos de outros países. A Venezuela é o maior produtor de petróleo do mundo, para além de ter um subsolo rico em ouro, cobalto e diamantes. Os EUA precisam voltar a aprofundar o seu domínio sobre toda a América Latina, para explorarem de forma desenfreada os seus recursos e condenar os povos a patamares superiores de exploração. Esta será uma ajuda importante para fortalecer o seu domínio mundial.

Não reconhecemos qualquer autoridade aos EUA, ou outro qualquer país imperialista, para determinar quem é o presidente da Venezuela. A UE, controlada pelo Eurogrupo, organismo informal composto por duas dúzias de burocratas, não eleitos, que decidem a vida de 500 milhões de pessoas que vivem na UE, não estão em condições de dar lições de democracia a outros povos. O Tratado orçamental europeu esvaziou a soberania dos Estados europeus, determinando a sua política: planos de austeridade, precarização dos vínculos laborais, delapidação dos serviços públicos e descapitalização das seguranças sociais. Ao mesmo tempo que continuam a transferir dinheiro público para os privados.

O povo venezuelano não pode ter qualquer ilusão nas pretensões ”democráticas” dos países imperialistas e deve-se mobilizar contra a ingerência de países estrangeiros. Não é a primeira vez que os EUA tentam colocar um governo mais favorável aos seus interesses. Em 2001, houve um golpe perpetrado pelos EUA, que chegou a tirar Chavez do poder, mas imediatamente o povo saiu à rua e recolocou Chavez no poder. A cúpula chavista foi totalmente condescendente com os golpistas, deixando-os em liberdade. Chavez e Maduro ao longo dos anos desmobilizaram os trabalhadores, iludiram-nos que, com ele, a revolução bolivariana seria vitoriosa, e o socialismo do séc XXI seria alcançado. Mas os avanços que se alcançaram foram tímidos e fugazes. Chavez e Maduro distribuíram generosas rendas do petróleo por inúmeras multinacionais imperialistas mas esqueceram-se do povo que o elegeu. Apesar das traições à classe trabalhadora, uma parte significativa continua com ele. E a maioria da população venezuelana votou nele.

Não somos chavistas, não apoiamos politicamente o Governo Maduro e não consideramos a Venezuela como um modelo de socialismo ou mesmo a caminho do socialismo. No entanto, estamos incondicionalmente ao lado dos povos latino-americanos contra qualquer tentativa de golpe pró-imperialista, que se organiza sob o manto de defesa de uma suposta “democracia”.

Lamentamos também que, no preciso momento, em que as garras do imperialismo ameaçam fazer sangrar a Venezuela, o BE, nas palavras de Catarina Martins, tenha como política: “Nem Maduro, nem Guaidó”. O que está em causa aqui, é uma disputa de poderes, entre um projeto político que foi sufragado nas urnas, e um projeto político imposto por Trump, Bolsonaro e restantes potenciais europeias. Quando Estados imperialistas se intrometem nos destinos de um país semi-colonial, com o único propósito de aumentar a exploração e torná-lo ainda mais dependente, refugiarmo-nos na neutralidade é escondermo-nos cobardemente. Numa luta entre desiguais, onde a disparidade de forças é inequívoca, a neutralidade é a complacência com os mais fortes. Assim, a posição do BE de suposta neutralidade legitima, na verdade, o golpe de Guaidó.

Saudamos a posição do PCP de repúdio à intervenção imperialista de Trump e companhia, mas não deixa de ser contraditório assumir essa posição ao mesmo tempo que se presta apoio a um Governo PS que legitima internacionalmente aquela mesma intervenção imperialista.

 

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