Bolsonaro, o candidato neofascista das eleições brasileiras, foi eleito Presidente do Brasil. Este, durante a campanha eleitoral, ameaçou que os seus opositores e organizações populares, os trabalhadores, a massa de pobres e favelados, as organizações e partidos de esquerda, assim como os movimentos sociais de mulheres, LGBTs e setores pobres, deviam sair do país sob pena de virem a ser presos. Isto pelo, simples, facto de se oporem ao seu plano reacionário e conservador de extrema-direita.
Esta ameaça não se ficou apenas pelos limites da retórica da campanha eleitoral, pois abriu terreno a que os apoiantes e capangas do agora Presidente do Brasil tenham vindo a colocar em prática um afluxo crescente de terror sobre LGBTs, negros, mulheres e ativistas de esquerda, onde se incluem já vários casos que terminaram em assassinato. A eleição de Bolsonaro e a composição do seu governo tem tudo para piorar e vir institucionalizar a selvática acção dos seus apoiantes milicianos. As polícias e as forças militares têm o terreno aberto para reprimir e matar indiscriminadamente quem se oponha politicamente ao programa de Bolsonaro. Aliás, a noite da eleição foi já marcada por desfiles de carros militares, nalgumas concentrações de pessoas que festejavam a eleição de Bolsonaro.
Para além da prometida fascização do regime brasileiro, onde se incluem as sucessivas saudações à ditadura militar brasileira, a esterilização de direitos políticos, a humilhação e perseguição de ativistas e organizações de esquerda, Bolsonaro prometeu ainda um aumento brutal da austeridade sobre o povo brasileiro, para enfrentar a crise económica. Este programa de austeridade prevê cortes salariais, privatização de serviços públicos, corte de direitos laborais, ao mesmo tempo que é assegurada e reforçada a livre iniciativa capitalista, nomeadamente, através da diminuição de impostos sobre as empresas.
Bolsonaro prometeu, assim, um profundo plano de austeridade, garantido pela neutralização ou eliminação de qualquer oposição. Os sindicatos e as organizações de trabalhadores estão sob ameaça.
Ora, este foi precisamente o Presidente e o projecto político, para o Brasil, que o Presidente da República portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, e o Primeiro-ministro, António Costa , já fizeram questão de felicitar.
Marcelo e Costa: prestam saudação a Bolsonaro!
O que Marcelo de Rebelo de Sousa e António Costa se preocuparam em salvaguardar, no imediato, foi os interesses que as empresas portuguesas detêm no Brasil. Com sorte, pode ser que o conjunto de privatizações que Bolsonaro prometeu ainda chegue para alimentar alguns interesses minoritários portugueses, uma vez que a maioria será rapidamente abocanhada por interesses imperialistas superiores.
O que fica evidente é que o chefe de Governo assim como o chefe de Estado portugueses não olham a meios para salvaguardar os interesses privados das empresas portuguesas a atuar no Brasil. Nem mesmo frente a um projecto político fascista se vê, sequer, traço de cuidado na defesa dos interesses dos mercados! Para quem espalha tantos afetos e se diz tão democrata, pode dizer-se que de democracia entende muito pouco!
CDS/PP e PSD: prestam saudação a Bolsonaro!
Tal já tinha ficado evidente por parte de outras figuras da direita portuguesa, muitas vezes tidas como democratas. Assunção Cristas, por exemplo, Presidente do CDS/PP, há uns dias disse que, no 2º turno das eleições brasileiras, se tivesse de votar, não o faria.
Ou seja, entre um projecto político democrático e um outro, evidentemente, autoritário, Cristas esconde o jogo e opta por não votar. Isto denuncia o raciocínio de que, para não chocar com parte do seu eleitorado, mais democrata, não cairá bem defender abertamente um candidato autoritário. No entanto, fica evidente que essa é a sua verdadeira opção. Se assim não fosse, sairia Cristas fragilizada em defender um projecto democrático, mesmo que do PT? Retiremos daqui as devidas conclusões.
Mas o sintoma é mais profundo e denuncia também que o CDS/PP não se desligou completamente do legado autoritário, reacionário e conservador que o Estado Novo, apesar da Revolução de 1974, deixou em alguns setores do nosso país, setores esses que são base de apoio do CDS/PP e direita portuguesa.
Tanto assim é que Nobre Guedes, ex-líder do CDS, afirmou, nos últimos dias, sem pudores, que votaria Bolsonaro. Tanto através daquele que diz por meias palavras, como aquele que o diz abertamente, fica evidente que a direita portuguesa ainda vive “sonhos molhados” com um regime autoritário.
No entanto, estas lamentáveis posições políticas da direita, dita democrata, não se circunscrevem apenas ao CDS/PP. O PSD, apesar de não se ter posicionado antes das eleições brasileiras, já veio dizer que “ganhasse quem ganhasse, Haddad ou Bolsonaro, Portugal deve manter ótimas relações com o Estado brasileiro, independentemente de quem é o seu Presidente”[1]. Este é o mesmo raciocínio de Marcelo Rebelo de Sousa ou António costa que aponta a única preocupação de manter os negócios e os lucros com o Brasil, desvalorizando se estamos perante um projecto neofascista ou democrático parlamentar.
Na verdade, para CDS/PP, PSD e PS parece não existir diferença entre um regime democrático parlamentar ou autoritário, desde que os benefícios dos mercados sejam salvaguardados.
No mundo, vêm crescendo figuras e projectos de extrema-direita como Trump, Salvini, Viktor Órban, Marien Le Pen ou Rodrigo Duterte. No entanto, verifica-se que o que preocupa os ditos “democratas” portugueses é o dinheiro e os lucros dos mercados.
Todos os que defendem a democracia devem repudiar, desde já e sem espaço para dúvidas, o futuro Governo Bolsonaro e apoiar a resistência ao ataque à democracia e aos direitos, no Brasil.
BE e PCP vão assobiar para o lado?
As felicitações do chefe de Governo e do chefe de Estado portugueses a um Governo fascista deviam colocar imediatamente o BE e o PCP de fora dos acordos da Geringonça. Ou BE e PCP consideram correto suportar um governo português que felicite um Governo brasileiro que, por sua vez, tem como referência política uma ditadura militar?
BE e PCP condenam o projecto político de Bolsonaro, mas nada fazem sobre o Governo português, pelo que irão votar favoravelmente o seu último Orçamento do Estado, daqui a uns dias. Orçamento do Estado que, como agravante, terá uma boa verba de aumento da despesa militar para a NATO, exigido por Trump, uma das figuras mundiais da extrema-direita.
Como é que a esquerda pode suportar um Governo PS que felicita, presta apoio e considera manter relações externas “normais” com um Governo Bolsonaro?
Contra a extrema-direita e o fascismo só temos uma resposta: organização, unidade dos trabalhadores e oprimidos e das suas organizaçãoes, na sua mais ampla diversidade, entre mulheres e homens, LGBTs e heterossexuais, brancos e não brancos, tudo em função do seu combate e luta.
Aqueles que, sem dúvidas, defendem uma verdadeira democracia, em que as pessoas não só são ouvidas mas participam activamente, temos a esclarecer o seguinte: a Bolsonaro só temos resistência e luta para oferecer, dentro e fora do Brasil!