1. No dia 7 de Maio último, o Parlamento português aprovou por maioria o empréstimo financeiro de Portugal à Grécia, na ordem dos 2064 mil milhões de euros. O empréstimo teve os votos favoráveis do PS, PSD, CDS e Bloco de Esquerda (BE) e os votos contra do PCP e Verdes.
2. O empréstimo português integra um pacote europeu de empréstimos ao Estado grego, iniciativa promovida pela União Europeia (UE) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), com o objectivo de impedir a ruptura de pagamentos da Grécia aos seus credores internacionais, em especial a banca alemã e francesa, resguardando assim os interesses do imperialismo europeu e norte-americano.3. O voto favorável do BE a esse empréstimo foi denunciado pelo Ruptura/FER, uma das correntes que integram esse partido, na edição de Maio do seu jornal, num artigo intitulado “Voto do BE ao empréstimo foi errado”. O artigo dizia: “Foi errado o Bloco ter apoiado o empréstimo português à Grécia, sob a alegação de que, como disse a deputada Cecília Honório, ‘recusar este empréstimo seria, nas actuais circunstâncias, impor a bancarrota à Grécia’. Está errado por duas razões: a primeira é a de que este empréstimo está condicionado ao cumprimento de um plano de austeridade que impõe, este sim, a bancarrota ao povo grego; e está errado também porque este crédito não vai ajudar a Grécia, mas sim os banqueiros, em particular a banca alemã e francesa, os principais credores do País, que especulam com a dívida grega”.
4. Na Mesa Nacional do BE a seguir à aprovação do empréstimo à Grécia, realizada a 3 de Julho, os integrantes do Ruptura/FER nesse organismo apresentaram um “Contributo para a discussão sobre a situação política” em que criticavam, mais uma vez, a conduta do partido naquela matéria.
5. Antes mesmo de os parlamentares do BE terem votado a favor do empréstimo, a corrente Ruptura/FER já vinha denunciando essa manobra do imperialismo europeu e norte-americano, em vários artigos publicados no seu site e jornal, em que se solidarizava com a luta da classe trabalhadora grega, que sempre rejeitou empréstimos cuja moeda de troca implicaria necessariamente em mais sofrimento, pobreza e retirada de direitos para a maioria da população daquele país.
6. Infelizmente, este posicionamento crítico do Ruptura/FER sobre a votação do BE ao empréstimo à Grécia parece ter sido ignorado por algumas correntes da esquerda internacional. O Movimiento al Socialismo (MAS), da Argentina, por exemplo, afirmou em seu jornal Socialismo o Barbarie, nº 179, de 24 de Junho de 2010, que “Mientras los diputados [do BE] trataban de defender lo indefendible, otra corriente que integra el Bloco de Esquerda, la enrolada en la LIT-PSTU, tomó una actitud distinta pero no menos reprobable: simplemente, callarse la boca y mirar hacia otro lado”; “Es difícil decidir qué es peor: si la defensa abierta de haber votado el inicuo ‘rescate’ de la UE a Grecia que hacen los diputados del Bloco, o el silencio cómplice de la sección de la LIT al respecto”.
7. Desta forma, e para que não possam existir dúvidas sobre o posicionamento do Ruptura/FER sobre esta matéria, queremos deixar claro que, para nós, o voto favorável do BE ao empréstimo à Grécia, dado num momento em que as lutas do povo grego contra os planos de austeridade do governo grego, da UE e do FMI são referência internacional, representa uma gravíssima capitulação aos planos do imperialismo europeu e norte-americano de desmontar a crise económica capitalista às custas do aniquilamento social da classe trabalhadora mundial. Com este posicionamento de voto, o BE acabou por fortalecer, objectivamente, a política da UE e do FMI dos supostos “empréstimos de salvamento” e dos planos de austeridade a estes associados.
CE do Ruptura/FER
Lisboa, Agosto de 2010