A Crise Internacional – Parte 2
O que se passa neste momento, no mercado petrolífero, é o característico e recorrente fenómeno capitalista de sobre-produção.
Aquilo que se registou no mercado imobiliário em 2008, regista-se agora no mercado petrolífero. Existe uma produção petrolífera mundial muito superior àquilo que se consome. Isto fez com que os preços tenham sofrido uma queda superior a 70%, desde inícios de 2014, e que se preveja que alcance uma quebra acumulada superior a 80%, em 2016.
Para tal comportamento, vão contribuindo diversos factores: (i) a estagnação das economias desenvolvidas, e (ii) o abrandamento geral e acentuado das economias emergentes. A desaceleração conjugada destas duas forças retrai, em grande medida, o consumo de petróleo e seus derivados; (iii) o aumento da produção própria dos EUA, que passaram a extrair petróleo do seu próprio território, através do fracking. Para além dos EUA, segundo a OPEP, terá existido um “fenomenal crescimento” da oferta de petróleo por países não-OPEP, nos últimos anos. Note-se que até em Portugal começam a surgir as primeiras explorações petrolíferas, um pouco por toda a nossa costa. A acrescer, o Irão que, após o acordo sobre os ensaios nucleares em Julho de 2015, estará livre para começar a explorar petróleo, adicionando mais oferta ao enorme excedente que já existe; e, (iv) o facto de a OPEP ter optado por manter a sua capacidade produtiva como forma de baixar preços e, sendo o maior cartel produtor, abocanhar mercado através do esmagamento dos produtores com custos de exploração mais elevados. A OPEP, através da Arábia Saudita, pretende mesmo retirar os EUA do mercado, que com o seu petróleo proveniente do fracking necessitam praticar um preço mais elevado para extrair lucro.
A descida do preço do petróleo poderia ser, à primeira vista, um contributo ao crescimento económico, pois pressionaria os preços de grande parte dos produtos a baixar e, consequentemente, estimularia o consumo e o investimento.
No entanto, será que a diminuição do preço do petróleo trará crescimento económico à Europa? Recordemos que a Europa vive sob pressões deflacionistas. Estamos a viver um cenário de crise em que os planos de austeridade aplicados têm tido um resultado inequívoco: forte redução dos salários, do poder de compra e do consumo que, por sua vez, pressionam os preços a baixar – para continuar a vender, com salários mais baixos, as empresas vão baixando paulatinamente os seus preços.
Isto cria todo um cenário de estagnação económica, pois com o consumo já retraído e com perspectivas de que essa estagnação se mantenha e até se aprofunde, resvalando, em alguns casos, para a recessão, o investimento sofre também um grande travão. É uma bola de neve que tem tendência a auto-alimentar-se: menos consumo, conduz a menos investimento e, por sua vez, ao corte de custos nas empresas, diminuição de salários e de postos de trabalho, alimentando um consumo menor e por aí em diante.
Juntemos-lhe agora uma forte queda do preço do petróleo que está presente em todas as indústrias transformadoras e de transportes. A pressão para que o cenário deflacionista – fraco investimento, baixos salários e retracção do consumo – se aprofunde é muito grande, não só na Europa mas em todo o mundo.
Portanto, aquilo que poderia representar um sinal positivo pode vir a ser mais um problema a acrescer aos já existentes – estagnação económica nos países desenvolvidos e abrupto arrefecimento nas economias emergentes.
José Aleixo