No dia 20 de agosto, Alexis Tsipras, primeiro-ministro grego e principal dirigente do Syriza, anunciou que vai renunciar ao seu cargo e convocar a novas eleições porque “o mandato para o qual fui votado (a negociação com a UE, NdR) já foi cumprido”.
Esta decisão é uma clara manobra, típica dos jogos eleitorais-parlamentares da política burguesa. No mesmo dia veio a público dizer que a Plataforma de Esquerda tinha rompido com o Syriza para formar a Unidade Popular, com o seu próprio bloco parlamentar e apresentando-se em separado nas próximas eleições.
Tsipras e a maioria do Syriza traíram a luta e as aspirações dos trabalhadores e do povo grego ao assinar o recente acordo acerca da dívida externa do país com a União Europeia e os bancos credores. Este acordo contém um brutal plano de ajuste e medidas que implicam uma perda ainda maior da soberania do país, como a privatização dos 14 aeroportos do país e a sua entrega a empresas alemãs.
Eles traíram a heroica luta dos últimos anos contra os planos de ajuste anteriores, as aspirações expressas nas eleições de janeiro passado (que levaram o Syriza ao governo) e, de forma muito clara, o resultado do referendo de 5 de julho passado que, por ampla maioria, recusou o acordo com a Troika.
No entanto, esta traição ainda não ficou clara para as massas. Tsipras conseguiu colocar-se no lugar de vítima da UE e de Angela Merkel, e diz que conseguiu “o melhor acordo possível” que é “duro, mas salvou o país”. Neste contexto, as pesquisas indicam que ele e o Syriza poderiam conseguir uma votação ainda maior que a alcançada em janeiro.
Esta confusão das massas é possível porque o governo ainda não começou a aplicação do brutal plano de ajuste e privatizações acordado em julho passado. Quando ficar claro o que este plano representa, a votação de Tsipras e do Syriza poderia cair de forma acelerada. Por isso, antecipa as eleições já que depois delas dirá que “tem mandato para aplicar o plano”, tentando assim desmoralizar, dividir e derrotar aos trabalhadores e as massas. Tal como já assinalámos, é uma manobra típica da política burguesa que tem como objetivo manter as massas no terreno eleitoral e não no da luta contra o ajuste e as suas consequências.
Nunca apoiámos este governo. Chamamos a lutar contra ele e a formar uma oposição de esquerda e de classe diante da sua capitulação aos ditames da Troika e às medidas contra os trabalhadores e o povo.
Na actual situação, a nossa proposta seria o voto no Antarsya, a frente de organizações de esquerda formada em 2008 que mantém uma postura de oposição a Tsipras e ao seu governo, e que se posicionou de forma categórica contra o acordo do governo com a UE. Coincidimos com esta frente dizendo que é necessário prosseguir as mobilizações contra a “chantagem” imperialista e a sua denúncia que não são possíveis acordos dentro da UE, frente à qual propõe a alternativa da ruptura com ela e com o euro.
A Plataforma de Esquerda do Syriza (encabeçada por Stathis Kouvelakis e Pangiotis Lafasanis) criticou duramente o recente acordo com a Troika e os seus deputados opuseram-se a ele no Parlamento. Sem dúvida, apesar disso, demorou muito a romper com o governo e com o Syriza. A sua ruptura actual aparece motivada essencialmente por razões eleitorais e a absoluta impossibilidade de irem nas mesmas listas que Tsipras e a maioria do Syriza. Tal como criticámos antes por não romper, agora dizemos que deu um passo positivo.
No entanto, essa ruptura não pode ficar só no terreno eleitoral-parlamentar. É necessário formar um bloco de oposição da classe trabalhadora e da esquerda com a nova Unidade Popular, Antarzya e o KKE (chamando-o a deixar de lado seu sectarismo divisionista e auto-proclamatório), e os sindicatos para que lutem e enfrentem nos locais de trabalho e nas ruas, o plano de ajuste de Tsipras-Syriza.
Nesta perspectiva, seria um passo positivo a formação de uma frente eleitoral de oposição de esquerda e de classe juntamente com o Antarsya (a qual poderia juntar-se ao KKE) e, neste caso, chamaríamos a votar nela. Se essa frente se concretizasse, seria apresentada uma alternativa eleitoral de esquerda à traição de Tsipras, que cresceria na sua influência e nas suas possibilidades de impulsionar as lutas, na medida em que o futuro governo de Tsipras comece a aplicar o duríssimo plano de ajuste e privatizações, e os trabalhadores e as massas a enfrentá-lo.
Artigo original: http://litci.org/pt/index.php?option=com_content&view=article&id=4422;diante-da-renuncia-de-tsipras-e-as-novas-eleicoes&catid=26;grecia&Itemid=96