As primeiras semanas do novo governo grego já serviram para mostrar que a elite política e financeira Alemã veem a União Europeia e o a Zona euro como o seu quintal.
Mais triste é ver que dos 18 governos da Zona euro só o ministro grego Varoufakis pareceu desafiar esta visão. Os restantes ministros das finanças europeus parecem aceitar cobardemente ser pisados pelos tacões de Merkel. A ministra portuguesa, Maria Luís Albuquerque, parece mesmo feliz em pavonear a sua servidão.
Angela Merkel negoceia com Putin, o Bonaparte russo que desrespeita a soberania da Ucrânia, com muitos “paninhos quentes”. Mas ao governo Grego democraticamente eleito Merkel parece não reconhecer legitimidade. Schauble, ministro das finanças alemão diz que tem “pena dos gregos por terem eleito um governo irresponsável”. Porém durante os últimos anos em que esmagaram os gregos com austeridade para alimentar a finança alemã, essa sim, irresponsável por natureza, o autoritário Schauble não teve pena. Talvez se aproxime agora o momento de serem esses senhores a penar…
O Syriza não tem sido intransigente, bem pelo contrário. Já abdicou de pedir o perdão da dívida ilegítima ou até qualquer perdão da dívida, da mesma forma que não vai renacionalizar sectores privatizados como a parte do Porto do Pireu vendido ao estado chinês. O Syriza aceita o euro tanto ou mais que a Alemanha. A subida do salário mínimo será por etapas e mesmo algumas notícias dizem que Varafoukis já nem fala da dita subida (embora quem o noticia, a Reuters, esteja longe da imparcialidade nesta matéria). O que é certo é que o Syriza nega-se a negociar com a troika mas aceita negociar com os seus integrantes, BCE, Comissão Europeia e FMI, assim como recusa a extensão do actual resgate mas aceita um novo empréstimo. O Syrza pode ser acusado de transigir de mais mas não de menos. Já Merkel, Schauble e seus tristes lacaios querem vergar Tsipras e o seu governo como a Alemanha foi vergada pelo tratado de Versalhes. Com a Ucrânia a ferro e fogo e a extrema-direita em ascensão, a Chanceler não tem pudor em acordar os velhos fantasmas do Século XX europeu.
Esta é a verdadeira face da União Europeia e da moeda única, o euro, que mais não é que o marco alemão com um nome mais agradável. A estratégia de refundar a UE e renegociar a dívida tem aqui a sua prova de fogo mas também uma muralha intransponível.
Passos Coelho é a vergonha do país
Elogia-se hoje a secular coragem grega em enfrentar, ao longo da história, os agressores estrangeiros. Não é só a Grécia que se pode honrar dessa história: o povo português defenestrou Miguel Vasconcelos por ceder aos espanhóis, ergueu uma guerrilha contra as invasões estrangeiras e fez uma revolução em que D.Carlos foi morto a tiro por aceitar o “ultimato inglês”. Mas hoje somos governados por novos “Migueis Vasconcelos” como Passos e Portas, que vendem o país e ajoelham-se ao amo alemão. O Governo português tem a obrigação de reconhecer de facto, e não só em palavras, o governo grego e as aspirações populares que ele, apesar de tudo, representa. Mas mais que isso, a obrigação de Passos Coelho perante Portugal é ser solidário com os que, como nós, são fustigados há anos pela austeridade. Passos deve estar com a Grécia contra a o ultimato alemão, não como lacaio de Merkel contra a Grécia.
Existem alternativas para a Grécia!
Tsipras, Varoufakis e o Governo grego não devem dar mais passos atrás. Caso contrário caem na ratoeira de Merkel que, ao saber que o Governo grego defende a permanência no euro, dá-se ao luxo de tentar colocar a Grécia de joelhos, pois tem sempre a ameaça final de expulsão do euro a que Tsipras assume ceder.
Mas existem alternativas. O Syriza deve responder na mesma moeda: se os credores não transigem porque hão-de transigir os “devedores”? Para vergar Merkel e os “mercados” há que lhes tirar o pão da boca e declarar uma moratória unilateral do serviço da dívida. Assim a Grécia ganha uma posição de força mas também um balão de oxigénio para poder subir os salários sem depender de nenhum empréstimo. O Syriza deve recuperar o controlo da banca que foi salva – na Grécia como em Portugal – pelo dinheiro dos contribuintes e que já é quase totalmente estatal, para poder financiar a economia. Deve ainda exercer o controlo dos capitais para que o dinheiro não fuja do país e assim estará preparado para romper o tabu da saída do euro, ou seja, para libertar a frágil economia grega da moeda forte do império alemão.
Mobilizar as ruas da Europa contra a o ultimato
A estratégia de Tsipras e Varoufakis foi mostrarem-se moderados para ganhar simpatias nos governos europeus. Não funcionou. Os que lhes deram “palmadinhas nas costas” como o Governo francês e italiano, hoje ajudam a encerar a corda onde Merkel e Schauble querem enforcar a Grécia. E Passos Coelho, acocorado, serve de banco ao enforcado. O Syriza, para se mostrar moderado não só se aliou à direita conservadora do Anel, como agora quer que o novo presidente da República seja desse partido xenófobo. Não é essa a estratégia. Sondagens da última semana dizem que se houvesse eleições hoje na Grécia, o Syriza poderia governar sozinho, com intenções de voto de 45%. Porquê manter-se nas mãos de quem o puxa para trás? Novas greves e manifestações na Grécia e na Europa, a ruptura com a direita e a desobediência aos credores na Europa é o caminho a seguir para romper o ultimato alemão. Estamos ao lado dos trabalhadores e do povo grego: nenhum passo atrás!