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Parar imediatamente os sangrentos ataques de Israel contra o povo palestiniano!

Declaração da Liga Internacional dos Trabalhadores.

Israel continua a lançar ferozes ataques contra a Faixa de Gaza, através de intensos e contínuos bombardeamentos e de uma genocida invasão terrestre.

Israel mente ao afirmar que os bombardeamentos visam apenas “alvos militares”. Os ataques já causaram mais de 1000 mortos —a maioria civis—, incluindo muitos idosos, mulheres e crianças. Como prova desta realidade, um dos alvos atingidos pela aviação israealita foi um bar, onde os moradores palestinianos assistiam pela TV à partida entre Argentina e Holanda, da meia-final do Campeonato do Mundo de Futebol.

Os meios de comunicação ocidentais e pró-imperialistas tentam retratar os acontecimentos como o resultado de um conflito entre dois povos de religiões distintas (palestinianos e judeus) que “não reconhecem um ao outro” e que, portanto, “não podem viver em paz”. Mas a realidade desmonta essa versão e as imagens e informações disponíveis provam com absoluta clareza que o verdadeiro agressor é o Estado sionista e as suas forças militares, armadas até os dentes, contra um povo que, em comparação, está praticamente desarmado.

 

Uma longa história de usurpação e agressões

Para entender a atual “questão palestiniana” é necessário compreender como foi criado o Estado de Israel, em 1948, e o que a sua criação significou para o povo palestiniano. O sionismo, a corrente político-ideológica que levou a cabo a criação do moderno estado de Israel, justificou as suas ações com uma falsificação histórica fundamental: em Israel encontraram-se “um povo sem terra” (o judeu) e “uma terra sem povo” (a Palestina). Com esta grande mentira foram justificados os crimes cruéis praticados pelo sionismo para “apagar” o povo palestiniano da História.

Durante as primeiras décadas do século XX, num território de maioria árabe absoluta, foram chegando os imigrantes judeus da Europa, num processo incentivado pelo imperialismo (primeiro pelo inglês e, em seguida, pelo norte-americano). Após o fim da Segunda Guerra Mundial (1945), este processo acentuou-se. Os judeus europeus haviam acabado de ser vítimas de um genocídio atroz pelos nazis e o mundo estava horrorizado com isso. Este sentimento justo foi usado pelo imperialismo e pelos sionistas em benefício próprio: quem poderia se opor à criação de um Estado onde os judeus pudessem “viver em paz” e “curar as suas feridas”?

O controlo do Oriente Médio, que concentra dois terços das reservas mundiais de petróleo, tinha valor estratégico. Por isso, os EUA, além de se apoiar nas petro-monarquias aliadas (como a Arábia Saudita), necessitavam de uma “base própria”, um ponto de apoio sólido para controlar a região. Esse ponto de apoio seria o Estado de Israel.

Apesar do aumento da imigração de judeus, naquela época os árabes continuavam sendo uma clara maioria no território: havia 1.300.000 árabes palestinianos e 600 mil judeus. Mas a ONU concedeu a Israel 52% da superfície, e aos palestinianos, 48%. Ou seja, desde seu nascimento Israel representou uma usurpação e um roubo, porque os palestinianos precisavam ceder 52% de seu território a uma minoria que, além do mais, havia sido criada artificialmente. E os palestinianos eram maioria (950 mil) mesmo no território concedido a Israel.

Restava, no entanto, um problema pendente: o que fazer com o povo palestiniano que vivia naquela terra? A “solução sionista” foi o emprego do terror e a realização de uma “limpeza étnica” para expulsar os palestinianos das suas casas e terras. Organizações sionistas armadas (como Ergun e Lehi) atacaram centenas de aldeias palestinianas, matando homens, mulheres e crianças, como ocorreu na aldeia de Deir Yassin (perto de Jerusalém). Seis meses de “limpeza étnica” (sob a benevolência do imperialismo e do stalinismo) resultaram na sobrevivência de apenas 138 mil palestinos em território israelita…

Os palestinianos expulsos seguiram então para o exílio, para os países árabes (especialmente Jordânia, Líbano e Síria) ou para regiões mais distantes, como os EUA e a América Latina. Dessa forma, este povo foi dividido em três setores: os que vivem dentro das fronteiras de Israel, aqueles que vivem em Gaza e na Cisjordânia, e aqueles que foram para o exílio. Assim nasceu a tragédia (Nakba) deste povo, causada pela criação do Estado de Israel. Assim nasceu, também, a luta para recuperar o seu território histórico.

 

A falsa solução de “dois Estados”

Em outras palavras, o Estado de Israel foi criado em 1948 como um enclave militar imperialista no Oriente Médio. De lá para cá a história de Israel tem sido a de agressão e repressão permanentes contra o povo palestiniano e contra todos os povos árabes. É também a história de uma expansão contínua sobre os territórios outorgados pela ONU aos palestinianos, reduzindo-os à Faixa de Gaza e a uma Cisjordânia perfurada e recortada como um “queijo suiço” pelo Muro da Vergonha, que a mantém cercada e privada das melhores terras e fontes de água.

O imperialismo norte-americano e a ONU afirmam que a única solução para os conflitos entre palestinianos e israelitas é a de “dois povos, dois Estados”. Também nisto eles contam com o apoio do Papa Francisco. E essa proposta é defendida também pela Al Fatah (que governa a Cisjordânia), pela OLP (Organização para a Libertação da Palestina) e por diversas outras organizações, além de grande parte da esquerda mundial.

 

Por que é uma falsa solução?

Em primeiro lugar, porque não passa de uma continuidade da resolução da ONU de 1947. Na melhor das hipóteses, apenas voltaria a sancionar e legalizar internacionalmente o roubo e a usurpação contidos na criação de Israel, mesmo se essa “solução” fosse adotada com base nas fronteiras anteriores à guerra de 1967.

mapa_palestina_israelEm segundo lugar, o povo palestiniano seria definitivamente dividido em três setores. O primeiro deles, formado por um milhão e meio de palestinianos que vivem dentro de Israel, seria condenado cada vez mais a suportar, isolados, os ataques dos governos israelitas, que querem apagar a sua memória e história, expulsá-los, ou deixá-los em condições insustentáveis, como aqueles que vivem hoje em Jerusalém Oriental. Já os três milhões e meio de habitantes palestinianos de Gaza e da Cisjordânia, os moradores do futuro mini-Estado “independente”, seriam obrigados a viver num país fragmentado, sem qualquer possibilidade de autonomia económica, sem forças armadas e com suas fronteiras patrulhadas por tropas da NATO. Por fim, os cinco milhões que vivem fora da Palestina veriam o seu direito de regresso definitivamente liquidado.

Ao mesmo tempo, esse mini-Estado palestino deveria coexistir com o monstro militar sionista ao seu lado e a sua permanente necessidade de agressões para autojustificar sua existência.

 

Por uma Palestina Única, Laica, Democrática e Não-Racista

Portanto, ao contrário da proposta de “dois estados”, a única sslução verdadeira para o problema é a construção de uma Palestina única, laica, democrática e não-racista em todo o seu território histórico, consigna central do programa de fundação da OLP, na década de 1960.

Uma Palestina sem muros ou campos de concentração, para a qual possam retornar os milhões de refugiados expulsos de sua terra e recuperar os plenos direitos dos milhões que permaneceram e que hoje são oprimidos. Um país em que, por sua vez, possam permanecer todos os judeus que estejam dispostos a conviver em paz e com igualdade.

Mas essa proposta não poderá ser concretizada, e tampouco haverá paz na Palestina, enquanto o Estado de Israel não for definitivamente derrotado e destruído. Ou seja, enquanto o cancro imperialista que corrói a região não for extripado de modo definitivo.

Chamamos os trabalhadores e o povo judeu a se juntar à luta contra o estado racista e policial de Israel. No entanto, devemos estar cientes de que, pela natureza da população judaica-israelita, o mais provável é que apenas uma pequena minoria aceite esta proposta, enquanto que a grande maioria deles vai defender com unhas e dentes “o seu estado” e os “seus privilégios” e, por isso, deveremos estar preparados para lutar contra eles até o final.

 

As verdadeiras razões dos ataques actuais

A desculpa utilizada pelo governo de Israel para lançar o seu novo ataque foi o sequestro e assassinato de três jovens israelitas, cujos corpos foram encontrados na Cisjordânia, alguns dias atrás. Até agora, nenhuma organização palestina reivindicou a autoria do ataque e alguns analistas estão considerando a possibilidade de se tratar de uma provocação armada pelos próprios israelitas. No entanto, o governo israelita responsabilizou o Hamas pelas mortes.

A razão de fundo para a ofensiva é outra. O imperialismo norte-americano (e também o europeu) está a pressionar os palestinianos pela abertura de negociações em torno da proposta de “dois Estados”. Esse foi o propósito das viagens do Secretário de Estado dos EUA, John Kerry, e do Papa Francisco. O acordo entre as organizações Al Fatah e Hamas (como veremos adiante) dá-se também nesta perspectiva.

Por seu lado, Israel e o governo de Netanyahu não querem abrir essas negociações, e muito menos querem que o Hamas se sente à mesa. O ataque atual é, portanto, uma forma de “bombardear” qualquer possibilidade de negociação imediata.

O imperialismo tem uma política tática diferente da aplicada por Israel, e esses ataques colocam essa política em crise. Mas, ao mesmo tempo, os EUA e o imperialismo de conjunto não abandonam o seu aliado estratégico, defendendo o seu “direito de defesa” e, novamente, sem qualquer sanção contra os seus crimes.

Além disso, a sociedade israelita está passando por uma profunda crise e divisão, que quebra o “espírito nacional judeu” com o qual Israel foi construído. Especialmente porque uma parte dos fundadores do Estado sionista (imigrantes ashkenazim europeus e seus descendentes) “aburguesaram-se” e já não parecem dispostos a dar a vida por Israel. Por isso, o ataque é também uma tentativa de superar essa crise e restaurar o espírito de “unidade nacional”, como sempre, através da guerra e da agressão aos palestinianos.

 

As direções palestinianas

Desde os Acordos de Oslo (1993), o Al Fatah e o conjunto da OLP capitularam ao imperialismo e a Israel ao reconhecer sua existência e renunciar às suas próprias consignas de fundação. Transformaram-se, assim, em administradores dessa espécie de “bantustões” (as falsas repúblicas negras criadas durante o apartheid, na África do Sul) que são os territórios da ANP (Autoridade Nacional Palestina), ao mesmo tempo em que, na qualidade de “polícias palestinianos”, muitas vezes colaboraram com Israel na repressão de seu próprio povo.

O grupo islâmico Hamas, por sua vez, que governa a Faixa de Gaza, nunca retirou de sua agenda a proposta de destruir Israel e reunificar a Palestina. Ele também é constantemente atacado por Israel, que ainda o considera uma “organização terrorista”, atacando constantemente a Faixa de Gaza. No entanto, o governo do Hamas reprimiu todas as manifestações da oposição, mesmo as que lutam contra Israel, como fez com as manifestações de solidariedade à revolução egípcia em 2011.

Ao mesmo tempo, o Hamas sempre buscou um acordo com o Al Fatah e com o governo de Mahmoud Abbas, aceitando que ele continue como presidente da ANP e que siga negociando acordos de segurança com Israel. Na prática, isso significa também aceitar a política de “dois Estados”. Esse é o significado da reconciliação recente, o que na prática representa uma capitulação do Hamas.

O acordo Al Fatah-Hamas seria, então, uma forma de mostrar ao imperialismo que há uma direção palestina (com uma “frente unida” das principais organizações) capazes de controlar o processo nos territórios palestinianos e governar o mini-Estado.

Com sua política, as direções do Fatah e do Hamas expressam basicamente os interesses dos setores burgueses da Cisjordânia e de Gaza, para quem a criação do mini-Estado palestiniano poderia trazer algum benefício. Mas fazem isso ao custo de sacrificar os outros dois setores palestinianos. Principalmente os exilados, que, como vimos, perderiam qualquer chance de retorno.

Para cumprir a tarefa histórica de recuperar o território palestiniano e a tarefa concebida na fundação da OLP será necessário, então, o surgimento de novas direções, a partir da luta, formadas pelas gerações atuais de jovens (tanto nos territórios quanto no exílio), que estão cada vez mais distantes das velhas organizações e que não “baixam as bandeiras” históricas.

 

Impulsionar uma grande campanha internacional para deter a nova agressão israelita

Repudiamos esta nova agressão do Estado sionista ao povo palestiniano e mais uma vez expressamos nossa solidariedade e apoio aos palestinianos. O isolamento internacional de Israel (o verdadeiro agressor) está aumentando.

Em muitas cidades do mundo árabe, na Europa e América estão se desenvolvendo manifestações de solidariedade aos palestinianos. É preciso aumentar e redobrar essa campanha internacional, para forçar Israel a suspender imediatamente esta nova acção genocida.

Também é necessário exigir acções concretas por parte dos governos, como o rompimento das relações diplomáticas e acordos comerciais de privilégio (como tem o Mercosul) com Israel, no marco da campanha que o BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) e outras organizações estão desenvolvendo.

Isto é especialmente importante no mundo árabe. O presidente egípcio Al Sisi disse que apoia a causa palestiniana. Devemos, então, exigir dele que abra as fronteiras do Egito com Gaza, sem quaisquer condições, e permita a passagem de armas para o Hamas e para que toda a população desse território se possa defender contra a agressão.

A organização libanesa Hezbollah foi a única que derrotou o exército de Israel militarmente, em 2006. Mas agora as suas forças estão na Síria, defendendo o ditador Al Assad. Exijamos do Hezbollah que deixe a Síria e coloque todo o seu poder e experiência militar para lutar com os palestinianos contra Israel.

O ditador sírio Al Assad também disse que apoia os palestinianos (e esse é um dos motivos centrais pelo qual conta com o apoio de boa parte da esquerda, em todo o mundo). Mas hoje a fronteira entre seu país e o Estado sionista é considerada uma das “mais tranquilas” pelos próprios israelitas. Que Assad deixe de atacar os “rebeldes” sírios e os palestinianos do campo de Yarmouk e ajude os palestinianos em Gaza e na Cisjordânia a parar o ataque de Israel!

 

Parar imediatamente a agressão israelita!

Toda nossa solidariedade e apoio ao povo palestino!

Por uma Palestina Única, Laica, Democrática e Não-racista!

 

Secretariado Internacional da Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional
São Paulo, 16 de julho de 2014

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