Segunda-feira dia 8 de Abril morria no hotel de 5 estrelas do centro de Londres onde residia, a mulher que foi primeira-ministra do Reino Unido durante 11 anos de 1979 a 1990. Foram muitas as reacções de pesar e os elogios de circunstância, desde David Cameron, Angela Merkel, Pedro Passos Coelho (que a considera “uma inspiração”), passando, pasme-se ou não, pelo PC chinês que no seu jornal oficial não lhe poupou qualidades.
Numa altura em que os cortes são a regra, o governo inglês vai gastar mais de 3 milhões de euros no funeral da “baronesa” (seja lá o que isso for). Por outro lado, em alguns bairros pobres de Londres e de outras cidades inglesas, nas comunidades mineiras destruídas durante os mandatos de Thatcher ou na Irlanda, foram muitos os que vieram para as ruas com champanhe, bandeiras e buzinas celebrar a sua morte. A música d’O Feiticeiro de Oz “Ding, dong, the witch is dead!” (A bruxa morreu) figurou esta semana no Top das mais ouvidas no Reino Unido.
Não é difícil compreender as reacções dos primeiros, já que para toda uma geração de políticos de direita e sociais democratas convertidos ao “prgamatismo” dos mercados, Thatcher produziu um dos maiores avanços ideológicos da última metade de século, representando uma viragem política colossal ao fazendo valer a sua cartilha neo-liberal no Reino Unido e em boa parte do planeta. A ela muito devem os que por ideologia ou simples oportunismo, também querem impor a ideia de que “não existe essa coisa a que chamam sociedade”, de que o Estado deve ser mínimo, de que a economia floresce quanto mais desreguladas forem as relações entre trabalhadores e patrões e de que tudo, se possível até o ar, deve ser privatizado.
Por outro lado, não se podem esperar saudades das muitas famílias britânicas que tinham nas minas e em alguma indústria pesada o seu sustento e que em 1984/85 foram vítimas de um plano brutal de encerramento destas, facilitado por uma diminuição dástrica dos seus direitos sindicais, tendo sofrido uma violenta repressão da luta pela sobrevivência do seu modo de vida. Para os filhos das famílias pobres, que para além de sofrerem com o aumento em flecha do desemprego na geração dos seus pais, a quem foram tiradas as medidas mais básicas de apoio social como o leite que deixou de ser distribuído nas escolas, também não se espera que as memórias de Thatcher sejam as melhores.
Como também não se espera que o sejam para os irlandeses vítimas de prisões políticas por lutarem pelo fim da ocupação do Norte da sua ilha, nem para os negros sul-africanos para quem o regime rascista do apartheid tinha em Thatcher uma apoiante incondional, que até a Nelson Mandela chamava um “reles terrorista”. Da mesma forma, também não o deverão ser, em qualquer parte do mundo, para a geração trabalhadora que ainda gatinhava quando Thatcher mandava e que, hoje em dia é esmagada pelo desemprego, pela precariedade e pelas políticas dos governos de turno que têm como priroridade servir os homens da alta finança, continuando o massacre social que a “dama de ferro” ajudou a começar.
O falecimento de uma mulher de 87 anos demente dificilmente traz alguma coisa de positivo aos que foram e ainda são atropelados pelo bulldozer do capitalismo neo-liberal. Mas morte definitva do Thatcherismo e dos seus legados actuais, só possível com uma luta popular sem tréguas contra os barões e as baronesas deste mundo, será sem dúvida motivo um dia para uma grande celebração.
André Traça