Primeiras notas sobre as eleições em Espanha: por momentos alguns bons ventos

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André Ventura e o partido de extrema-direita Chega estavam ansiosos de receberem bons ventos de Espanha. A extrema-direita espanhola tinha nascido e crescido lá primeiro que aqui e até antecipando o nascimento e crescimento da extrema direita portuguesa.

Esse fluxo vindo de Espanha (do VOX) ajudou a projectar o Chega (e até a IL) que, num primeiro momento, conseguiu 1 deputado para pouco tempo depois alcançar os actuais 12 que detém na AR portuguesa.

Acontece, no entanto, que o VOX perdeu no domingo passado (23 julho) mais de meio milhão de votos (precisamente 650.000) e 19 deputados, passando dos 52 deputados alcançados em 2019 para os 33 actuais. Uma pesada derrota .

Sendo certo que seria precipitado considerar que esse cenário se pode repetir em terras lusas dentro de um ano, na eventualidade de eleições antecipadas (as sondagens, por cá, apontam em sentido contrário), não deixa de ser animador esta derrota eleitoral de uma das extremas direitas mais reacionárias da Europa.

Para além desta derrota eleitoral do VOX, vemos que o PP espanhol ainda que tenha subido bastante eleitoralmente (passando de 89 deputados para 136 actuais) ficou praticamente sem a possibilidade de formar um governo das direitas (com o VOX) pois não alcançam a maioria absoluta.

Já a vida para Pedro Sanchez também não é a melhor, pois as forças políticas daqueles que legitimamente lutam pela direito à autodeterminação ou independência, no País Basco e na Catalunha, têm nas mãos o futuro do governo do PSOE.

O PSOE sobe um pouco e ganha mais 2 deputados (de 120 para 122) mas está ainda longe de garantir a maioria absoluta para formar governo. Os vários povos do Estado espanhol diante do perigo de um retrocesso significativo nos seus direitos laborais, liberdades individuais e à autodeterminação, das nacionalidades, apesar de o capitalismo espanhol continuar a castigar quem trabalha, optou pelo mal menor, derrotar para já a assunção de um governo das direitas mais reacionárias de Espanha.

De algum modo, o mesmo ‘raciocínio’ que presidiu à vitória eleitoral do PS português há pouco mais de um ano, mantendo Costa ao leme da governação do país.

Obviamente que uma força de esquerda anticapitalista luta por mais mas o resultado em Espanha pelo menos afasta por momentos o espectro de uma situação ainda pior. A extrema direita e o fascismo, como o demonstra a história, não se derrota só nas urnas, mas em grandes mobilizações de massas e grandes lutas sociais, como as que em Portugal estão, há meses, a abrir caminho, a partir dos profissionais da educação, da justiça e da saúde, bem como os trabalhadores dos aeroportos.

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