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A corrida ao Lítio


Portugal possui uma enorme reserva de esoduménio (em Vila Real, a maior reserva da Europa) e é deste minério que se extrai o lítio que aqui é produzido.

O processo de extração inicia-se pelo aquecimento da rocha, seguindo-se a pulverização com areia fina que depois é submetida a reagentes como o ácido sulfúrico. Aquecida e filtrada, concentrada pela evaporação, obtém-se o carbonato de lítio (pronto a ser comercializado)

O lítio é um metal que pode ser extraído de algumas rochas. Há mais de um século que o lítio é utilizado na cerâmica e medicina e, mais recentemente, na aeronáutica e eletrónica. Ganhou importância redobrada e novo valor no mercado, pois é utilizado nas baterias de smartphones, portáteis e carros elétricos. O preço do lítio triplicou nos últimos anos. O lítio, de aparência semelhante ao chumbo, é um metal que flutua, tendo metade da densidade da água.


Onde se explora o lítio?

Em Portugal, existem minas de lítio em funcionamento há décadas, duas no Norte (Serra de Arga e Covas de Barroso) e quatro localizadas no Centro do país (Guarda, Barca d´Alva, Mangualde e Segura). O Governo lançou, no início deste ano, um concurso público para a exploração de oito novas áreas. Minas a céu-aberto traduzem-se numa alteração das paisagens e inúmeros problemas ambientais que as comunidades locais terão de enfrentar. O processo de extração do lítio é moroso e ambientalmente insustentável, pelos resíduos que gera e pela quantidade de água gasta no processo.

António Costa prefere os negócios com as multinacionais mineradoras do que preservar a nossa natureza e o bem-estar das comunidades locais. Sabemos que quando estão em causa lucros, as empresas não hesitam em passar por cima de tudo: dos desejos da população às normas ambientais. Não nos esqueçamos do que foi a corrida desenfreada ao urânio, carvão e volfrâmio, que em alguns casos, há mais de meio século continuam a contaminar e poluir o ambiente.


O lítio é solução para a transição energética?

O aumento do valor do lítio, entre 2015 a 2018, devido ao aumento da frota mundial de carros elétricos, permitiu a várias empresas lucrar, nas diferentes fases do processo: extracção, refinação e comercialização do produto final (bacteriais de iões lítio).

Actualmente a Austrália e a China são os 2 maiores produtores mundiais. A multinacional australiana Fortscue, quarta maior produtora de ferro do mundo, pediu licenças de prospecção para 22 zonas (com a desistência do “Fojo” ficaram 21). Com o subterfúgio de estarmos perante, supostamente, um minério insubstituível na mobilidade sustentável, o Governo e as multinacionais (australianas e inglesas) construíram um cenário idílico em torno da exploração do lítio no país. Vendem-nos a ideia que Portugal se tornará, facilmente, o maior produtor do mundo, e o Governo, “encantado”, tenta seduzir as empresas que fazem exploração do lítio para também fazerem a refinação no país. Ou seja, o objetivo do Governo é assegurar que as várias etapas da extração do lítio até à produção das baterias sejam realizadas todas aqui. É importante realçar que o número de trabalhadores destas explorações é baixíssimo. Veja-se o caso da Guarda, maior mina de lítio a céu aberto na Europa, onde apenas são necessários 3 trabalhadores em simultâneo. Estamos a falar de um negócio que exige pouco investimento: poucos trabalhadores e alguma maquinaria vulgar são suficientes para atingir fabulosos lucros. Daí o nosso Governo, nos últimos dois anos, já ter recebido mais de 40(!) pedidos de licença de prospecção.


Carros eléctricos e a transição energética

Não basta trocarmos os carros a gasóleo e gasolina por veículos elétricos para reduzirmos a emissão de gases com efeito de estufa. Milhões têm sido gastos nos últimos anos pela indústria automóvel que fabrica carros elétricos para convencer as pessoas a fazerem a sua parte na transição energética. Ou seja, adquirir um carro “amigo do ambiente”. Não salvamos a nossa espécie, nem o planeta, fazendo meras alterações aos nossos comportamentos individuais e padrões de consumo. É toda uma estrutura económica que precisa de ser repensada sobre novas bases. Não podemos continuar a explorar os recursos da terra como se estes não fossem finitos. Em primeiro lugar, a produção de energia para mover os automóveis não pode ser as centrais termoelétricas que produzem através de carvão e gás. Nos primeiros seis meses do ano, de acordo, com a Associação de Energias Renováveis, 45 % da energia produzida ainda vinha de combustíveis fósseis. No entanto, nos meses com menor precipitação, ainda estamos maioritariamente dependentes dos combustíveis fósseis. Em segundo lugar, precisamos de pensar os transportes de forma coletiva e não individual. É necessário investir numa rede de transportes públicos de qualidade, eficiente e não poluente, baseado apenas em energias renováveis. É necessário repensar as nossas cidades, de forma a optimizar tempo e energia com o transporte de pessoas e mercadorias.


Há soluções alterantivas às baterias de iões lítio?

No mundo de hoje, parece-nos impossível viver sem smartphones ou portáteis. Estes aparelhos necessitam de baterias onde o lítio é fundamental. A quantidade de smartphones e portáteis produzidos é bastante superior aquela que necessitaríamos.

As empresas tecnológicas produzem de forma a que a vida útil destes aparelhos seja reduzida, para que haja sempre necessidade de o consumidor comprar novos aparelhos. Esta técnica chama-se “obsolescência programada”. De acordo com os últimos estudos, os aparelhos eletrónicos teriam capacidade para durar mais uma década para lá daquilo que habitualmente duram. As falsas necessidades continuam a ser-nos impostas pelo mercado e artificialmente renovadas. Existem inúmeros estudos e alguns protótipos muito mais eficientes e menos poluidoras que o lítio. Só para falar em duas das alternativas, até ao momento, mais estudadas: as baterias de iões de sódio e as fuel-cells de hidrogénio. O sódio é bem mais simples uma vez que pode ser retirado da água do mar e as baterias terão uma capacidade de armazenamento superior às actuais e um longo ciclo de vida. Para além disso, ao contrário das baterias de iões lítio, não há risco de explosão. As baterias de iões de lítio ao serem carregadas podem formar no seu interior cristais, conhecidos como dendrites metálicas, provocando curto-circuitos que dão origem às explosões. As baterias de iões sódio substituem o líquido condutor de eletricidade por um vidro que é um electrólito não inflamável e não havendo formação de dendrites, não ocorrem explosões. As fuel-cells de hidrogénio são alternativas para os carros eléctricos, que produzem a energia que necessitam a bordo. Ou seja, produzem energia eléctrica ao juntar o hidrogénio que existe no tanque ao oxigénio retirado do ar, gerando no processo água.

Como se pode verificar, as soluções podem ser múltiplas e cabe ao nosso Governo e aos governos dos países industrializados investir nas soluções que são verdadeiramente sustentáveis para o ambiente. A vida do planeta e das populações que nele habitam têm de estar acima dos lucros de um punhado de multinacionais.

O MAS está ao lado das populações que têm lutado contra as minas de lítio, e exige ao Governo PS que anule todas as concessões para a prospeção e exploração de lítio. Há alternativas ao lítio. Não podemos aceitar que o Governo PS e as multinacionais nos imponham o lítio como única solução para a transição energética. Deixando um lastro de destruição de ecossistemas, poluindo o ar, contaminado os solos, e gastando grandes quantidades de água na produção do lítio. Não há planeta B! É necessário nacionalizar todas as industrias fósseis como forma de aplicar os seus recursos numa verdadeira transição energética, sob o controlo democrático das populações!

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