Chega cria confusão na Faculdade de Direito

Na passada quarta-feira dia 2 de abril, deslocaram-se à Faculdade de Direito da Universidade (FDUL) diversos militantes do partido Chega, juntamente com eles vinham também duas deputadas do mesmo partido, sendo elas Rita Matias e Madalena Cordeiro, estando as duas em conjunto na FDUL. Até aqui não haveria qualquer problema maior uma vez que como todas as outras pessoas da nossa nação as mesmas têm e devem sempre manter a liberdade de entrarem em instituições públicas (no tempo da ditadura de Salazar que o Chega tanto admira era mais difícil) por mais que possam ser de um determinado grupo político ou de uma determinada ideologia, isto claro se não estiverem a incumprir regras de civilidade e de bom senso, tal como não violarem leis.

 O problema não surge neste período. O que é uma inverdade foram as afirmações que parecem ser feitas pelas pessoas do partido neo fascista ‘Chega’ que parecem dar a entender que os mesmos teriam sido intimidados por alunos logo na entrada da faculdade, o que, aliás, seria compreensível pois a faculdade é uma faculdade de direitos que o Chega quando chegar ao poder se encarregará de reduzir ou mesmo liquidar tal como conhecemos da história, dos regimes ditatoriais que este partido tanto admira.

 O problema surgiu na verdade no piso 0 da faculdade, e começa de uma forma que poderia ser totalmente evitável tanto pelas deputadas do Chega como pelos militantes desse mesmo partido. Os problemas podiam ter sido evitados se os mesmos tivessem obedecido ao que lhes foi pedido pela associação de estudantes da faculdade de direito. Desenvolvendo mais o que se passou: as pessoas do Chega deslocaram-se a um placar da faculdade e colocaram no mesmo propaganda política no mesmo, ora isto levanta à partida alguns problemas, uma vez que os mesmos estavam numa faculdade a colocar propaganda sendo que para o efeito precisariam de autorização (sempre exigido à esquerda e às vezes recusado) que as minhas fontes me dizem não ser o caso, como para além disso estavam a colocar propaganda num placar que, por acaso, pertencia à associação de estudantes, órgão escolhido pelos estudantes e que se pretende manter independente dos partidos, sendo a sua única  preocupação a defesa de interesses dos estudantes.

Ora esta associação de estudantes tinha todo o direito de não querer qualquer tipo de propaganda política (nos seus placares) independentemente da ideologia ou cor política, quando algo tão legítimo como isto lhes foi comunicado. Na verdade, somos da opinião que deveria haver placares abertos à pluralidade política, sendo, no entanto, muito questionável se um partido neofascista deveria ou não estar legalizado, dado pregar ideologia proibida pela Constituição Portuguesa.  Vários estudantes avisaram as deputadas do Chega para não colocarem naqueles placares qualquer propaganda, e, deste modo, sentiram-se desrespeitados e decidiram atuar de modo a fazer cumprir as regras da faculdade retirando, rasgando os mesmos, ou riscando os cartazes que os mesmos punham, de modo a que se percebesse que a AEFDL não coaduna com aqueles cartazes colados naquele sitio.

Por fim, ao ver isto a deputada Rita Matias, uma mulher que (é bom recordar) é contra a lei da IVG, em vez de perceber que estava a violar as regras da faculdade, decide então começar a insultar estudantes, tecendo comentários sobre a aparência deles e chamando os mesmos de ‘esquerdalha’, sendo que nunca nenhum estudante fez qualquer tipo de afirmação política e sendo óbvio que no local estariam pessoas de diversas ideologias. Ou seja, tivemos a triste figura de uma deputada da nação que devia representar os cidadãos portugueses a insultar estudantes dentro da sua própria faculdade. Neste momento, não se sabe se por alguma coincidência ou se foram mesmo chamados, apareceram policias que vendo tal comoção e sabendo que se tratava de uma deputada acharam por bem tentar conter a comoção (o que é compreensível), os mesmos não sabiam o que se estava a passar e decidiram conter os ânimos para manter os intervenientes contidos e não permitir agressões e outras violações à lei, sendo que os mesmos quando chegaram à Zona do “tumulto” a senhora deputada Rita Matias achou por bem acusar os estudantes de estarem a vandalizar cartazes do Chega, quando os mesmos apenas estavam a impedir afixação ilegal de propaganda em sítio proibido, afirmando ainda algo que configura também uma inverdade que teria sido agredida, dizendo a mesma … com um pionés, e exigiu que estudantes (escolhidos quase ao acaso e por uma arbitrariedade da senhora deputada) fossem identificados pela polícia, enquanto a mesma dizia querer dar uma lição a todos os estudantes de esquerda da faculdade, ou seja no fundo, uma deputada da nação, viola a lei, e instrumentaliza forças policiais que pensavam estar agir de forma correta para caprichos meramente políticos e autoritários.

Cabe dizer também que os estudantes que foram identificados numa fase inicial acabaram por ter essa mesma identificação apagada, uma vez que os professores da faculdade decidiram intervir e defender os seus alunos provando então à policia que não havia crime nessa mesma situação e também informando os agentes que foram instrumentalizados, que os mesmos não poderiam atuar dentro da faculdade, pois para tal teriam de ter sido chamados pelo próprio reitor da Universidade de Lisboa o que não foi o caso.

Em suma, tivemos um triste caso de uma deputada de um partido com acento parlamentar a entrar numa faculdade, violando leis, insultando alunos e instrumentalizando forças de segurança (que o partido da mesma diz defender) para caprichos políticos e pessoais, cabe então um elogio aos alunos que se impuseram contra uma ação violadora dos seus direitos independentemente das forças partidárias em causa. Imaginemos agora um regime político em que este partido forme governo.

João Alves, estudante de Direito.

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