Montenegro, chefe da coligação de direita no actual governo, só pensa em eleições antecipadas (depois das presidenciais) com o intuito claro de (tentar) obter, como o Costa alcançou antes, uma maioria absoluta de deputados. Para o conseguir tem utilizado duas orientações: uma, a de distribuir migalhas, em particular pelos pensionistas, com o bónus de outubro, mas também com negociações rápidas, em que não cede tudo mas cede algo a vários sectores que têm saido à luta, em manifestações e protestos (aliás, justíssimos), como é o exemplo mais recente, o dos Bombeiros; a segunda orientação é uma operação de charme à base eleitoral da extrema-direita (do Chega à IL) com várias ações policiais, em particular contra imigrantes.
O caso mais recente na Rua do Benformoso já se tornou, justamente, um escândalo. A Polícia a mando do governo, alcunhou a operação com as palavras do Putin (!) quando invadiu a Ucrânia. Está nos jornais, assim: ‘operação especial de prevenção criminal’. Afinal a Europa da UE, das ‘democracias’ ocidentais e da NATO, estão com as mesmas tentações dos regimes ditatoriais, autocráticos e de guerra, como são os casos do Irão, da China, de Israel, da Coreia do Norte, etc. Para onde caminhamos, no mundo ocidental note-se, com Venturas, Vox, Le Pen, Meloni, Orban Bolsonaro, Milei, Trump e muitos mais? A esquerda tradicional (do BE ao PC, do Livre ao PAN) de que tem servido, para além de muleta do PS que, como todos sabemos, trouxe como resultado o surgimento da extrema-direita em força?
Se os povos deram milhões de votos e várias décadas de governos e presidentes, aos PSs europeus mais à Geringonça aqui, e o que tivemos foram despesas com guerras, inflação galopante, habitação inacessível, hospitais e serviços públicos em ruína, saúde privatizada para quem tem dinheiro, mulheres a terem os seus filhos em ambulâncias, gerações mais jovens e formadas a emigrar todos os anos à escala de milhares, não admira que os tenham castigado a todos, virando os (lamentáveis) apoios e ilusões para algo infinitamente pior, que será a extrema-direita pura e dura no poder.
Se não reconstruirmos uma esquerda combativa e anti sistémica que seja alternativa à extrema-direita, então actuais Montenegros ou futuros Venturas no comando do país, estarão abertas as portas para futuras políticas e leis que tornarão norma o que se passou no Martim Moniz, mas em estado muito pior. Aí não serão só os imigrantes, mulheres, LGBTs, comunidade negra a serem perseguidos sem dó nem piedade, como será atingida toda a esquerda e a classe trabalhadora nos seus direitos, salários e pensões. Por alguma razão já vieram vozes falar em novos déficits nas contas públicas, já para 2025. Junta-te a nós, ao MAS, e ajuda-nos a reconstruir essa esquerda que faz falta. Tanto quanto faz falta um novo 25 de abril.