Deportá-los a todos! Trump regressa à Sala Oval

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Num resultado que para muitos não seria previsível, Donald Trump, o César do Capitalismo Ocidental, regressou à Casa Branca com uma vitória esmagadora nas sempre estranhas eleições norte-americanas… ou melhor, nos Estados Unidos.

Trump pode ser apontado como o cabecilha de um movimento de extrema-direita que varreu, e varre, o planeta pela primeira vez, e de forma aflitiva, desde o Grande Conflito Mundial.

Pergunta-se: “serão as ideias da extrema-direita assim tão apelativas à sociedade dos nossos dias? Ou haverá algo por detrás?” Da mesma forma, “o combate ‘ideológico’ que fazemos nos últimos anos contra esta maré negra está a ter resultados?”

A verdade é que as “políticas de esquerda” aplicadas (pelos governos PS -até o da Geringonça em Portugal) ou as dos governos ‘Democratas’ nos EUA, ou dos Governos Lula no Brasil, tanto em Portugal, na América (de conjunto) como na Europa, só têm trazido nos últimos anos ou feito ressurgir, velhos fantasmas que nos estão a levar à barbárie. Os sinais estão todos aí, porém a classe política dominante não os quer ver, ou encana-os. As conquistas democráticas das últimas décadas e o avanço no estabelecimento de direitos humanos fundamentais de classes desfavorecidas e perseguidas estão a ficar para trás.

Por outro lado, e apesar de «ir beber dos seus votos» será a classe trabalhadora e os jovens que saíram mais prejudicados com esta vingança eleitoral trumpista.

Na verdade, e apesar de todos os escândalos e de um apoio descarado a uma tentativa de golpe de estado com a invasão do Capitólio após as eleições de 2020, Trump surge com um apoio renovado. As análises falham em toda a linha, baseadas numa imprensa que vive à sombra de uma realidade que se esqueceu ter fabricado e foi essa mesma realidade, que não tira partido de uma suposta prosperidade do país, que votou em massa em Donald Trump. Este, supostamente apoiado em políticas anti-imigração (a causa de todos os males para  extrema-direita), em bandeiras anti-establishment de Washington e com promessas demagógicas da melhoria das condições de vida da classe trabalhadora, conseguiu surfar a onda que o levou à vitória.

Porém, prepara-se aos poucos o cenário de nova e renovada barbárie. O «polícia do mundo«  sofrendo de sérias cataratas humanitárias (que só as assume perante o cheiro fétido do petróleo), deu o seu consentimento ao maior genocídio do século XXI com o massacre do povo palestiniano (e aqui ambos os candidatos ao cargo). Entre muros, a crise social do capitalismo estado-unidense é evidente, onde a classe trabalhadora vê o preço das casas a aumentar de forma brutal, vê os seguros de saúde cada vez mais caros e vê (ou viu) uma política Democrata que se esqueceu por completo de si. As armadilhas políticas e as falsas promessas de Trump transformaram largos milhões de trabalhadores em presa fácil.

Mas porque razão o Partido Democrata se deixou enredar e perder em tamanho labirinto, sendo agora obrigado a penitenciar-se num longo deserto? Certamente que dentro das fileiras de esquerda dos Democratas poderiam ter existido outras soluções – que poderiam até ter participado na corrida fora do sistema de (quase) partido duplo ou do eterno bi-partidarismo. Porém, há muito que essas figuras, tais como Bernie Sanders, desistiram de elevar a sua bandeira de alternativa, deixando-se engolir pelos corredores burocratas e viscosos do poder norte-americano enraizado nos dois partidos.

Esta foi a vitória da demagogia. Foi a vitória de um desespero perante anos consecutivos de políticas que nunca conseguiram resolver os problemas da classe trabalhadora que agora procura a boia de salvação em falsos profetas. É quase como um «síndroma de Estocolmo» político onde a classe trabalhadora vai procurar a salvação num bilionário que vive e enriquece a custa da exploração … dos que acabaram de votar nele.

Onde já vimos este cenário? Nos anos 30 do século XX também os grupelhos fascistas e nazis foram procurar apoio numa base social deprimida. O Partido Nazi de Hitler, à época, até se chamava (Nacional) Socialista. O resultado foi a catástrofe entre 39 e 45, com uma guerra que deixou milhões de mortos de povo inocente em ambos os ‘bandos’ (o “eixo” e os “aliados”) que se digladiaram, alimentada num campo fértil de demagogia anti-sistema, mas de facto racista, nacionalista e absolutamente anti esquerda que continuava a somar erros atrás de erros.

Qual será a consequência da vitória de Trump? Tal como aconteceu em vários países, e apesar de nos nossos dias estas análises serem difíceis de concretizar, a vitória de Trump (que certamente não irá trazer melhorias na América trabalhadora) poderá galvanizar outros fascistas, em sociedades onde as actuais políticas sociais (também) não apresentem soluções para os problemas dos trabalhadores. Em sociedades capitalistas cada vez mais viradas para políticas liberais, as condições dos trabalhadores vão-se agravando a cada dia que passa. As supostas políticas «de esquerda» – que na verdade reflectem as orientações ultra-liberais de Bruxelas – levam à precariedade do trabalho, a uma inflação galopante, à diminuição das condições de vida e a uma exaustão sociais que procura válvulas de escape que muitas vezes, se não na maioria, são alimentadas pelos bandos demagógicos da extrema-direita que utilizam as suas críticas, para difundir uma agenda e políticas racistas, xenófobas, anti-LGBTQ, de defesa do patriarcado, anti-aborto, etc., com o consequente retrocesso nas conquistas democráticas e sociais dos últimos anos. As falsas “alternativas” à esquerda, nos EUA o partido ‘Democrata’, no Brasil o PT e em Portugal o PS, o PC até o BE, o PAN e o Livre, são mais do mesmo das velhas esquerdas, que se integraram completamente no regime e dele vivem, demonstrando à saciedade que de facto não são alternativas anti sistémicas pois, é evidente, que o problema é sistémico e as velhas esquerdas estão há décadas rendidas a ele. A crise da esquerda, o falhanço dos governos Democratas nos EUA ou dos PS em Portugal (ou do PSOE e Podemos em Espanha, Syriza na Grécia, etc) pela europa fora, deixaram os sectores mais desesperados dos trabalhadores, da pequena burguesia, de pequenos negócios e largos sectores de classe média em crescente pauperização, nas mãos da… extrema-direita. Trotsky, um dos dirigentes da revolução russa de 1917, e bem, caracterizou a seu tempo, esta situação de crise de direção revolucionária.

Os Estados Unidos vão-se voltar para si próprios, tentando recuperar empregos que supostamente terão sido perdidos com uma política económica mais (neo)liberal. Por outro lado, o proteccionismo e um certo isolacionismo fará com que os interesses económicos e geopolíticos norte-americanos sejam ainda mais reforçados.

Vassala dos interesses dos Estados Unidos e cada vez mais a braços com uma crise económica que lhe pode explodir nas mãos, a Comunidade Europeia (a EU) está a trilhar um caminho que também não augura nada de bom, dado que lavrou um campo onde não faltam minas prontas a explodir.

A alternativa que tarda anti sistémica e anticapitalista, dado o retrocesso imenso da situação política mundial (e, muito provavelmente, também de erros próprios), não tem conseguido se erguer como verdadeira hipótese de referência para largos milhares de trabalhadores. Contudo, essa é a tarefa inadiável que temos diante nós. Construir de forma decidida e mais sólida, novas alternativas à esquerda, que possam ser uma referência de alternativa efectiva à esquerda moderada e rendida ao sistema, mas que combata a extrema-direita como prioridade, extrema-direita esta que se prepara para mergulhar o mundo em novas guerras mundiais, em mais exploração, e num abismo económico e ambiental em todo o planeta de forma nunca vista.

Junta-te a nós, ao MAS, para construir essa nova alternativa à esquerda.

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