As eleições europeias, pelos seus resultados, indicam a continuidade de uma tendência que já se verificava em eleições anteriores: uma viragem à direita com particular destaque no reforço e crescimento da extrema-direita. A extrema-direita ganha em Itália com Meloni, ganha em França com o partido de Marine Le Pen (32,4%) a derrotar o partido de Macron (15,2%) e ganha na Austria (FPO com 25,7%). Na Alemanha a extrema direita do AfD fica em segundo lugar com 15,9% e a direita da CDU ganha com 30%, e em Espanha o Vox fica em terceiro lugar e o PP ganha.
A excepção foi a Dinamarca, onde a contestação ao governo social-democrata se expressou por um crescimento à esquerda, com a Green Left a obter 17,4%. Em Portugal, se somarmos os resultados do Chega e da IL (Iniciativa “Liberal”) temos mais de 18%.
Ainda estamos a pagar o alinhamento da esquerda com os governos do sistema
O enquadramento político não sofreu grandes alterações, as décadas de governação dos partidos do ‘centrão’, da direita e da social-democracia (PS) estão a ser contestados eleitoralmente pelo voto em partidos de extrema-direita, embora isso não fosse ‘obrigatório’ como mostra o caso da Dinamarca. O problema é que na maioria dos países, a esquerda parlamentar (PC’s, partidos como o BE e ‘Verdes’) sempre foram dando uma ‘mãozinha’ para ajudar os governos da social-democracia e os povos não esqueceram (ainda).
As mobilizações e lutas sociais e laborais, contra os governos como foram o exemplo de França (na luta contra o aumento da idade da reforma) ou de Portugal (a grande luta da educação) não lograram o surgimento de alternativas políticas pela esquerda, em total corte com os governos, pelo que eleitoralmente acabam por ser os que são conhecidos como ‘opositores’ a essa governação do ‘centrão’ quem capitaliza, e esses, atualmente, são os partidos de extrema-direita.
Em Portugal extrema-direita liveral e conservadora ganha à esquerda
Em Portugal, a “vitória” do PS (face à AD -direita tradicional PSD/CDS) não nos deve fazer esquecer que os seus governos, nos últimos 8 anos, muito contribuíram para o surgimento (em 2019) e crescimento da extrema direita nas suas duas vertentes, a ‘trauliteira’, mais neofascista, o Chega, e os supostos “liberais”, na verdade, mais neoliberais que outra coisa. Ambos, um perigo face ao emprego, salários, pensões e a realidade (latente) de nos meterem em novas guerras e, concomitantemente, em novos-velhos regimes autoritários.
Os resultados da esquerda parlamentar portuguesa, o Bloco (o BE e o PCP) são inegavelmente confrangedores, mesmo que tenham cantado de galo por terem, ‘in extremis’, garantido 1 deputado europeu. Mas vejamos os números: o BE (Bloco de Esquerda) perde de 2019 a 2024, 158.829 votos e 1 deputado. O Bloco desce de 325.534 votos (9,82%) obtidos em 2019, para os 167.705 votos (4,25%) agora em 2024. Perde praticamente metade da sua votação. O Bloco foi a terceira força política em 2019 e agora a quinta (em terceiro lugar agora ficou, lamentavelmente, o Chega) e em quarto lugar … a IL.
O PCP, que também festejou (sem razão), o terem, por uma ‘unha’, eleito um deputado. A história dos seus votos é a seguinte: perdeu 65.518 votos de 2019 a 2024. Ou seja, em 2019, obteve 228.157 votos (6,88%) e agora em 2024 162.639 (4,12%). Mas, o mais significativo, no PCP, é a dinâmica dos seus últimos 10 anos, em eleições europeias: em 2014, obteve 416.446 votos (12,6%) – era nessa altura, em europeias, a terceira força política, com 3 deputados, agora é a sexta.
Em 2019, o PCP obtém 228.157 (6,88%), perde metade da votação e passa de 3 deputados para 2 deputados. E, agora em 2024, em 9 junho, o PCP, o partido histórico da classe trabalhadora portuguesa, obtém, como já referimos, 162.639 votos (4,12%) e de novo perde um deputado, reduzindo de 2 para um deputado e passando de terceira força política, em 2014, para sexta força, atrás de dois partidos da extrema-direita e do próprio BE. Definitivamente, os números não enganam, é um partido em decadência.
Os dois partidos da esquerda mais tradicional e histórica (o BE e o PCP) estão a ficar para trás
Convém referir que o PS, o BE e o PC foram efectivamente os que mais constribuiram, desejassem ou não, para o surgimento da rápida ascensão da extrema-direita. Todos, ao não resolverem os problemas estruturais da vida dos trabalhadores e várias camadas de sectores intermédios das pequenas e médias empresas, ao se manterem nos marcos do regime actual e do sistema capitalista, trouxe como resultado, os próprios resultados que estes partidos agora reflectem e já referimos.
Em relação às “novas” forças políticas à esquerda, referimo-nos ao Livre e ao PAN (que nem sequer se considera de esquerda) o que nos revela os resultados é que o PAN desce significativa e qualitativamente de (em 2019) de 168.501 votos (5, 08%) e 1 deputado eleito para agora em 2024 para 47.969 votos (1,22%), perdendo 120.532 votos e o único deputado; estes resultados devem revelar que apesar de se dizer equidistante da ‘esquerda’ e da ‘direita’, a verdade dos factos (na Madeira e até no parlamento nacional) que quando se aliam, as suas alianças são … mais com a direita! E de defesa dos animais, quaisquer que sejam, é só conversa.
Sobre o Livre, parece, por enquanto, ser o único partido na área da esquerda, a capitalizar partes das diversas crises das várias esquerdas já nomeadas (PS, BE e PCP), dado que em 2019 obteve 60.575 votos (1,83%) e, agora em 2024, 148.117 votos (3,75%) mas continuando sem eleger qualquer deputado europeu, apesar de ser, politicamente, o Livre um dos mais entusiásticos da ‘geringonça’, ao não ter sido parte real desse processo e do apoio ao governo PS, conseguiu ficar fora do ‘castigo’ dos eleitores e parecer ‘novidade’ para setores da ‘classe média’ urbana.
O MAS
Em relação à nossa candidatura, a do MAS, obviamente também reflectiu, como não podia deixar de ser, factores objectivos e que a toda a esquerda diz respeito, e a factores subjectivos específicos. Sem fugir à objectividade, é evidente que a crise à esquerda, de algum modo atingiu toda a esquerda, uns mais outros menos. Ainda que tenhamos sido sempre completamente críticos à aproximação do BE e PC aos governos PS e, face ao PAN, fomos críticos pela sua integração completa ao regime e a preferências por confluências à direita (a Madeira o confirma), é claro que ninguém à esquerda, e menos ainda na área da esquerda alternativa, teve resultados significativos. No caso do MRPP, a situação crítica interna levou a decidirem não participar nas eleições europeias.
Neste marco, convém realçar que o MAS, foi o único partido que denunciou podres dos regimes políticos nacional e europeus, nomeadamente os privilégios e as mordomias dos deputados europeus, que abrangem mais de 40.000 euros mensais. O MAS também se distinguiu por ser dos primeiros partidos (no debate do Porto canal) a exigir um salário mínimo europeu de 1.300 euros, que a ser implementado, abrangeria milhões de trabalhadores de 16 países europeus, incluindo mais de um milhão de portugueses que vivem com salários entre o (mínimo) de 820 euros e os que se encontram entre os 1.000 e os 1.200 euros.
Por fim, o MAS teve ainda o mérito de definir a orientação para estas eleições europeias, o perigo de previsíveis guerras com características mundiais, devido aos conflitos emergentes entre os EUA, a China e a Rússia. A luta entre os diversos imperialismos, tende a agravar-se. Deste modo, defendemos uma Europa de paz e não de guerra. Também fomos o único partido no debate dos chamados pequenos partidos que chamou à atenção para o genocídio em marcha em Gaza e à ausência de uma política clara da UE de rutura com o Estado de Israel.
Por fim os votos. É do conhecimento público, que o MAS, desde a sua contribuição militante e apoio à luta da educação, neste último ano e meio, tem sofrido permanentes ataques do regime, de comentadores da comunicação social, e mesmo de ex-camaradas. Tal situação, afectou a nossa atividade mas, neste quadro, iniciamos a superação das dificuldades e construímos a nossa candidatura às eleições europeias, ainda que com atraso e sem pré-campanha eleitoral. O facto de o MAS se ter apresentado às eleições, com uma campanha politicamente digna e correcta, ter resistido à debacle quase geral de quase toda a esquerda, e neste âmbito, ter obtido agora 5.079 votos, e de ainda, ter ficado acima de três outras forças políticas, não deixa de ser um sinal positivo, de que existem forças para continuar a construir a esquerda revolucionária alternativa, no actual quadro político.
E, à nossa esquerda, ou na nossa área mais específica, ninguém fez melhor nem se mostrou capaz de fazer melhor. Conclusão, o MAS, para além de continuar a contar nos seu quadros de activismo, com os e dos melhores lutadores em várias lutas e mobilizações sociais, no país e na emigração, ainda continua, apesar de uma votação modesta mas digna, a ser um partido político de onde pode haver esperança de se construir uma alternativa anti sistémica à esquerda e em alternativa à esquerda tradicional, bem como de poder vir a ser um sério obstáculo à extrema-direita. Toda a esquerda pode contar connosco para as futuras batalhas nas ruas e em eventuais novos actos eleitorais.
Junta-te a nós para fortalecer o MAS. Contacta-nos.
12 de junho de 2024
Comissão Executiva do MAS