Num contexto de uma séria crise do regime político, numa altura em que o 25 de abril fará 50 anos, temos uma crise económica capitalista que ainda não foi encerrada desde 2008. É esta crise que leva os recorrentes governos de alternância PS/PSD a incrementar os ataques aos serviços públicos e ao nível de vida dos trabalhadores. Os grupos económicos nacionais e internacionais envolvem-se na disputa pela gestão dos muito milhões dos fundos do PRR. Cheira a corrupção e para o povo pouco vai sobrar…
Os trabalhadores portugueses tendo à cabeça a luta dos profissionais de Educação desde janeiro de 2023 têm mostrado uma grande combatividade num novo ciclo de contestações laborais que se iniciam por fora dos aparatos sindicais tradicionais (CGTP e UGT) e que são chamadas pela comunicação social, de lutas “inorgânicas”. São disso exemplo a luta dos oficiais de justiça, dos médicos pela defesa do SNS, dos agricultores e dos Policias.
As lutas laborais são hoje muito mais combativas e participadas na base, tendo como exemplo a luta dos profissionais de educação, dinamizada pelo sindicato STOP.
Estas lutas continuadas não têm, contudo, tido (grande) repercussão na arena política, pelo menos à esquerda (quem se tem reforçado é a direita e a extrema-direita). Vivemos anos de austeridade que foram derrotados nas urnas com a formação da Geringonça, que, ao longo de oito anos não conseguiu resolver o problema do depauperamento dos serviços públicos (com a falta de quadros, nomeadamente na saúde e educação) nem de elevar de forma qualitativa o nível de vidas das diversas classes trabalhadoras, nem sequer das classes médias.
A maioria absoluta do PS acentuou ainda mais esta tendência, acrescentando uma incapacidade enorme em desenvolver políticas que respondessem ao aumento da inflação e dos preços dos alimentos e da habitação. Como sempre o governo PS escusou-se a afrontar a banca e exigir o retorno dos lucros milionários que tiveram com o aumento das taxas Euribor e consequentemente com a miséria das classes trabalhadoras (incluindo sectores intermédios da nossa sociedade). Escusou-se também, a regular o mercado de arrendamento e impedir os despejos herdados da lei Cristas do governo PSD/CDS.
Os governos PS e PSD têm as suas mãos manchadas com a incapacidade dos jovens viverem numa habitação com dignidade, os baixos salários e reformas, o aumento do custo de vida, a desregulação laboral, a falta de tempo para viver, a fuga de capitais para offshores e a corrupção do sistema político.
À beira de eleições e já em real campanha eleitoral, o drama para o povo trabalhador e para a juventude, é a inexistência de uma alternativa política que seja expressão do sentido destas lutas, das suas reivindicações, e verdadeiramente defensora de políticas reais e meios de luta para defendermos os serviços públicos tão duramente atacados, quer pelos governos de direita, quer pela ‘geringonça’ e governo da maioria absoluta do Costa. E, neste quadro, o MAS não pôde, por várias razões, apresentar a sua candidatura a 10 de março.
Os partidos da esquerda “tradicional” (PCP; BE e LIVRE) abdicaram de se afirmar como oposição aos governos PS e direcionam hoje a sua estratégia política para serem muleta do PS, ou a sua “consciência crítica”
Numa altura em que as lutas e mobilizações dos trabalhadores necessitam de ter no parlamento uma voz que os defendam e defendam os seus direitos e a sua vida, os partidos da esquerda tradicional marcam ”falta de comparência”, deixando espaço à construção e grande crescimento de uma extrema-direita já insuflada por uma situação política internacional que lhe é favorável. Convém não esquecer que foi no período da ‘geringonça’, ou seja, da colaboração do BE, PC, PAN e Livre com os governos Costa (do PS) que surgiu em força a extrema-direita (Chega e a IL por exemplo, entre outros). A campanha demagógica de que eram anti-sistema e que o governo que tínhamos era ‘socialista’ e apoiado por todos da “esquerda socialista” abriu portas ao crescimento exponencial da extrema-direita. Na verdade, em Portugal e no mundo, até porque em muitos países as governações semelhantes aos dos governos PS deram azo a desmoralizações crescentes de sectores de massas ao empobrecimentos de vasto sectores da classe trabalhadoras e à destruição de vários pequenos negócios e empresas, provocando a deslocação de vastos sectores sociais pequeno-burgueses para as (falsas) “soluções” das novas formações neo fascistas.
A falta dessa oposição à esquerda, como a do MAS, atrasa o necessário combate à ‘saída’ apresentada pela extrema-direita e que é manter o sistema económico injusto que nos (des)governa e explora, mudando o regime (para um mais totalitário e repressivo).
Contudo, o MAS compreende a importância das próximas eleições de dia 10 de Março e não ficamos em cima do muro. Perante os perigos que a atual situação política trazem para a classe trabalhadora e para a juventude, não se pode ter uma posição ‘indiferente’ nestas eleições.
No sentido da nossa política de combate às políticas do governo Costa, da nossa oposição às políticas da direita e do liberalismo económico, do nosso combate à extrema direita, o nosso apelo de voto terá de ser de clara oposição a todos os partidos que expressam estes posicionamentos políticos e que também têm sido os responsáveis pelas políticas governativas das últimas décadas.
É necessário tomar uma opção de voto e ela terá de ser em partidos que, à esquerda, expressem eleitoralmente o repúdio político que a classe trabalhadora e as suas lutas têm feito ao tipo de políticas que nos têm governado, à exploração, à opressão e à corrupção.
Neste contexto, existem três partidos em que, de algum modo, se expressa a possibilidade de opção para este repúdio, e que são o BE, o PCP/CDU e o Livre.
O PCP paga hoje com língua de palma a sua intervenção sindical burocrática e inerte que tem feito os trabalhadores colecionarem derrotas nas lutas laborais. Não é só com os governos que os trabalhadores em luta têm lutado, mas também com o aparato burocrático da CGTP que atrasa, impede e destrói essas mobilizações. E, no plano internacional, a defesa (ainda que envergonhada) do regime de Putin e até a condescendência face à invasão da Ucrânia, explicam em grande medida a contínua e progressiva perda de eleitorado, de votos e deputados. Essas são algumas das razões para que o nosso apelo ao voto não seja no PCP.
Quanto ao Livre, é um partido que, desse a sua génese, até hoje, se apresenta como a ‘consciência crítica’ do PS nunca se tendo posicionado como opositor ao PS e ao seu governo. Apesar de, nestas eleições de 10 de Março, o seu crescimento eleitoral expressar votos críticos ao governo de Costa e alguns votos de quem esteve nas lutas laborais, a dinâmica geral é de um voto ‘moderado’ que voltará à ‘casa mãe’, o PS.
Apelaremos ao voto crítico no BE. É no BE que boa parte da vanguarda dos trabalhadores que têm estado nas principais lutas laborais se revêm numa alternativa política, e é ao lado desses trabalhadores que queremos estar.
O voto é crítico, porque exigimos ao BE que não falhe, que não desiluda. Exigimos que o BE seja a voz no parlamento das medidas anti-sistémicas, em defesa das suas condições de vida (aumentos de salários e pensões), de defesa dos serviços públicos, de combate à corrupção e aos poderes dos grandes grupos económicos, de defesa das liberdades e dos direitos de quem trabalha (independente da sua nacionalidade, etnia e género). Exigimos ainda, que o BE não se fique pelas palavras e que seja a voz das medidas que assentam nas mobilizações dos trabalhadores.
O MAS continuará a promover e a construir uma saída política combativa à esquerda, prosseguiremos com a nossa intervenção nas lutas laborais e pela promoção e defesa dos direitos dos trabalhadores em Portugal e no Mundo. Promoveremos a reorganização política que responda a um novo ativismo político e sindical e se constitua como alternativa efetiva aos partidos do centrão, e que permita voltar a colocar no caixote do lixo da história os partidos de extrema-direita. Continuamos a preparação para intervir em próximos combates políticos e eleitorais que se seguirão a estas eleições de 10 de Março de 2024. E aí já vão contar connosco.