AMBIENTE: a COP do nosso descontentamento

Entre 30 de Novembro e 12 de Dezembro de 2023, teve lugar na Expo City, Dubai, Emirados Árabes Unidos, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2023 ou Conferência das Partes da CQNUMC. Mais conhecida como COP28, esta foi a 28.ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas – ou, se querermos ser sérios, uma conferência onde se atira muita areia para os olhos.

Num mundo quase totalmente dependente da queima de combustíveis fósseis e onde os gritos de alerta por parte da Ciência são sistematicamente tratados por ‘ouvidos moucos’, a Conferência chegou ao fim com aquilo que se designou de “histórico” por parte dos produtores de petróleo, na verdade, uma parte da burguesia dona do (petróleo e do) mundo.

Ao se referir a “uma transição para abandonar os combustíveis fósseis”, o texto final da COP28 é uma má peneira para tapar o futuro abrasador que nos espera, pois numa sociedade onde a iliteracia científica domina e onde as ondas negacionistas (principalmente vindas da extrema-direita) são cada vez mais, o anúncio deste «resultado histórico» serve como um copo de água fria na panela fervilhante onde vivemos.

O jogo está viciado à partida. Realizam-se conferências climáticas em países produtores de petróleo e presididas por magnatas que certamente não irão sacrificar os seus interesses e os seus milionários lucros para salvar quem está ameaçado pela evolução previsível que está a ocorrer nas últimas décadas. Apesar de se regozijar com as conclusões da Conferência, a União Europeia (EU) acaba por dar o apoio à continuação do estado actual, onde o planeta caminha para um aumento da temperatura média em 3º C (o dobro dos 1,5º C previstos). É quase como se fosse o outro lado da moeda e nem mesmo o incentivo em triplicar as energias renováveis ou duplicar a eficiência energética, apaga os interesses dos grupos económicos que se perfilam para abocanhar o bolo do negócio que daí resultará.

O Inferno está cheio de boas intenções, mas é no Inferno capitalista onde vivemos. É num Inferno onde desde os anos 90 do século XX se produziu mais dióxido de carbono do que em toda a História anterior. Isto, numa altura onde as preocupações ambientais já se faziam escutar alto e bom som.

As migalhas foram atiradas para o chão quando se soube dos interesses escondidos do presidente desta COP, o Sultan Al Jaber. Este, é presidente de uma importante petrolífera que encetou negociatas durante a COP, e recentemente havia sublinhado alto e a bom som que “não existiam evidencias científicas e muito menos cenários que apontassem para a meta de 1,5º C com a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis”. Apesar destas declarações, as Nações Unidas joelham-se perante os magnatas do petróleo e realizam conferências climáticas em países produtores de combustíveis fósseis. Muito para entreter a opinião pública mundial. Aconteceu no Dubai, e as próximas irão acontecer em Baku, Azerbeijão (COP29) e em Belém, Brasil (COP30).

Qual a solução?

Na Cimeira COP25 realizada em Madrid, Espanha, a activista Greta Thunberg referia que “temos de manter os combustíveis fósseis sob o solo e focar-nos na igualdade. E se as soluções são impossíveis de encontrar dentro deste sistema, talvez tenhamos de mudar o próprio sistema.” Esta actvista não se caracteriza por ser uma anti-capitalista e anti-sistémica, filosofia que uma nova esquerda a (re)contruir deve professar (e que não se encontra muito na actual esquerda parlamentar no nosso país, do BE ao Livre) estando certa na declaração proferida à imprensa.

Na verdade, o sistema capitalista e a burguesia mundial organizadora destes eventos de peneira, estão dependentes dos combustíveis fósseis. Perante o abismo, insistem em dar o passo em frente e perante o cenário de destruição social, atiram-nos com migalhas. Os cenários de eventos meteorológicos extremos, o desaparecimento e diminuição das calotes polares e dos grandes glaciares, o aumento generalizado do nível médio do mar, a desregulação geral do sistema planetário, e outros fenómenos associados ao consumo dos combustíveis fósseis, não são sinais suficientes da crise em que vivemos e no seu inevitável agravamento. O alarme soa bem alto, a burguesia e o sistema capitalista tornam-nos surdos e querem tornar-nos silenciosos perante o que se aproxima.

Assim, é necessário um movimento de massas (permanente) que faça despertar a sociedade em geral perante o cenário que se desenha inevitável. É necessário cessar a prospecção de petróleo e dos restantes combustíveis fósseis, aumentar a produção de energias renováveis de forma verde com investimento sério na Ciência e na Investigação, devendo-se combater os interesses do capitalismo neste campo representados pelas grandes petrolíferas e pelos grandes produtores de combustíveis fósseis.

A tecnologia actual permitiria desde logo diminuir a nossa dependência dos combustíveis fósseis. A utilização de energia solar, dos mares, eólica, biocombustíveis, energia geotérmica, etc., é a solução para um futuro mais verde e em equilíbrio com a Natureza. Porém, tal não é possível num sistema capitalista e como tal uma revolução social é indispensável e tem de ser feita a todos os níveis com fortes movimentos de massas que exijam desde já um melhor futuro. No caminho de fortes mobilizações sociais e de massas deve-se erguer uma nova esquerda anti-sitémica e é nesse caminho que continuamos empenhados. Junta-te a nós.

Anterior

Verde é o Barroso

Próximo

As migalhas para os de sempre