Notas sobre as eleições regionais da Madeira 2023

As eleições regionais da Madeira realizaram-se a 24/09/2023. Sabendo da especificidade das eleições regionais nesta região autónoma, analisemos então os resultados, procurando especificar uma possível relação para os eventuais resultados de uma eleição nacional próxima.

Estas eleições foram marcadas por uma elevada disputa eleitoral, marcada pela questão da possível ilegalidade do partido Chega em participar nestas eleições, o que viria a ser aprovado pelo Tribunal Constitucional. O “Somos Madeira” (43,13%), coligação de PSD e CDS, perdeu a maioria absoluta por um deputado. A queda do PSD no arquipélago já vem desde 2011, mas em coligação com o CDS, esperavam reverter esta situação. Não foi suficiente para a maioria absoluta.

A maior perda de mandatos e percentagem de votos foi do PS. Os ‘socialistas’ perderam oito deputados em relação às regionais de 2019, passando de 19 para 11 mandatos e de 35,8% para 21,3% dos votos. Os oito anos que estão no poder a nível nacional fez os seus estragos. O PS obteve menos votos em todas as freguesias e concelhos da Madeira, em comparação com as últimas eleições.Por outro lado, a descida eleitoral dos partidos da coligação de direita ”Somos Madeira” (PSD/CDS) mostra em parte, a fragilidade dos partidos de direita no nosso país, mas é na verdade, juntamente com a grande descida do PS, a continuação das chamadas perdas do “centrão” (PSD/PS). O descontentamento popular face ao actual governo Costa continua (muito) perigosamente a ser aproveitado principalmente pela extrema-direita (Chega), sendo que a esquerda tradicional e parlamentar (PC, BE, PAN, Livre), sem uma oposição séria e combativa e com o lastro de terem estado ao lado dos seus primeiros governos, não consegue aproveitar de forma significativa esse descontentamento.

Continuemos com os resultados. O partido ‘Juntos pelo Povo’, partido praticamente regionalista (cujos dirigentes são ex PSD e ex PS) reforça o seu resultado, com 11,33% conseguindo eleger 5 deputados. O BE (2,24%) e o PAN (2,25%) voltam ao hemiciclo, elegendo cada um, um deputado. Não é qualitativo, o BE, por exemplo, já obteve num passado recente dois deputados, nomeadamente em 2015 tendo obtido nessa altura 3,8% dos votos. A CDU (2,72%) manteve o seu deputado eleito. Apesar da eleição destes deputados, não se verificou um grande crescimento da esquerda nestas eleições. E a explicação é simples: estes partidos estiveram praticamente durante mais de 5 anos a apoiar os primeiros governos Costa, mantém praticamente uma ‘oposição’ de fachada ao governo, abrindo pela primeira vez em Portugal as portas ao surgimento e crescimento eleitoral da extrema-direita. O maior crescimento nas recentes eleições na Madeira, verificou-se na eleição de deputados do Chega com 8,88% e mais de 12 mil votos, elegendo 4 deputados e do partido IL que, com 2,63%, elegeu um deputado. Este resultado é preocupante. Existe uma semelhança com a eleição destes deputados, com os deputados eleitos para o parlamento nacional. Isto não beneficia os interesses dos trabalhadores. A maneira de combater esta situação é com o surgimento de uma (nova) esquerda forte e combativa. Uma esquerda com um programa de defesa dos direitos laborais e das condições de vida: acesso à Saúde, com mais pessoal e infraestruturas, acesso à Habitação, acesso à Educação, acesso aos transportes públicos e defesa do meio Ambiente.

Sem maioria absoluta, a coligação de direita, do PSD/CDS, ‘Somos Madeira’ precisava de um acordo com um partido político pelo menos. Tanto a coligação ‘Somos Madeira’, como o partido Chega se recusaram (num primeiro momento) a essa negociação, deixando como alternativa no campo da direita a um acordo com o (lamentável, mas) sempre prestável partido híbrido: PAN e, eventualmente, a IL. Esse acordo logo nas primeiras horas surgiu com o PAN. Em conjunto assinaram um acordo de incidência parlamentar de quatro anos. Esta decisão está a causar imensa polémica no interior deste partido, com parte do mesmo a acusar esta decisão de ser ilegal. Mais uma vez demonstrada a incoerência do partido PAN: gira para um lado ou para o outro, à boleia da sua suposta “isenção ideológica”, perdendo os ideais políticos que deveria defender. Onde está a defesa do meio ambiente quando procura afastar as responsabilidades pelas alterações climáticas da produção capitalista, apontando para uma suposta responsabilidade pessoal. Será que essa responsabilidade pessoal estará no negócio de exploração intensiva de frutos vermelhos de Inês Sousa-Real ou nos seus negócios imobiliários? O trágico uso do oportunismo individual para escolher os melhores meios que lhes permitam extrair o seu quinhão de benefícios pessoais da financeirização de importantes sectores de produção, mesmo que esta seja responsável pela destruição ambiental. Em conclusão as eleições da Madeira nada de novo trazem de forma significativa, evidenciando, contudo, tendências que já se tinham expresso nos Açores e em várias sondagens nos últimos meses.

Não há ecologia sem uma perspectiva anticapitalista!

Não se trava a extrema-direita que urge sem nova alternativas antissistémicas à esquerda.

https://www.regionais2023.mai.gov.pt/resultados/territorio-nacional
Anterior

Em pleno verão preços da energia sobem, lucros das empresas de energia também