Nove meses de excesso de mortalidade não inquietam o Governo

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Já são nove meses consecutivos em que morrem mais de 10 mil pessoas em Portugal, um padrão muito raro. Retirando o ano de 2021, onde se registou uma mortalidade semelhante devido à Covid-19, estes números absolutos só se registaram, em Portugal, em 1923, no rescaldo de uma outra pandemia.

Em Maio e Junho do presente ano, Portugal registou o maior excesso de mortalidade da União Europeia (UE), com quase o quadruplo da média. E, em Julho, o país estava apenas atrás do Estado Espanhol. 

As alterações climáticas que trazem consigo mais vagas frio, mais ondas calor, assim como a ocorrência de eventos como uma pandemia mundial, conjugada com o envelhecimento da nossa sociedade, são uma parte importante da explicação para os elevados números de mortalidade. 

No entanto, Paulo Jorge Nogueira, bioestatístico e professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, que há mais de duas décadas estuda a mortalidade em Portugal, afirma: “passa-se algo a nível socioeconómico”. 

A estes dados juntam-se os dados de 2020 – últimos disponíveis – relativos à taxa de mortalidade materna que atingiu os 20,1 óbitos por 100 mil nascimentos, o nível mais alto dos últimos 38 anos. O director do departamento de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital de Santa Maria, Diogo Ayres-de-Campos, aponta que as causas poderão estar relacionadas com a “degradação dos cuidados obstétricos, o aumento da idade da gravidez e de grávidas com patologia”. 

O menor acesso a cuidados médicos durante e após a pandemia, a descapitalização dos serviços públicos, assim como o aumento das dificuldades económicas provenientes dos baixos salários não podem ser descartados. Os especialistas pedem mais dados e um estudo urgente. Como consequência destes níveis de mortalidade, este ano de 2022, pela primeira vez, há um recuo na esperança média de vida, em Portugal.

As piores consequências, como o excesso de mortalidade, o aumento da mortalidade materna, a falta de médicos de família, a falta de cuidados de saúde primários, as urgências fechadas ou a exaustão dos profissionais de saúde recaem sobretudo sobre os mais pobres e as pessoas com mais vulnerabilidades, uma vez que a pobreza carrega consigo um menor acesso a serviços de saúde, menor capacidade financeira para aclimatar as habitações e piores trabalhos.

O Governo PS tem desvalorizado a ruptura que se vive no nosso SNS, assim como tem impedido que os salários acompanhem a inflação. As medidas tomadas pelo Governo apenas servem para criar a ilusão de que alguma coisa está a ser feita, mantendo tudo na mesma. Os últimos 7 anos de governação de António Costa mantiveram o desinvestimento no SNS conforme deixado pela Troika. Pudera, este Governo é co-responsável e parte interessada na descapitalização dos serviços públicos como forma de abrir mercado aos privados. O mesmo se pode dizer dos nossos salários que continuam praticamente estagnados, na última década.

É urgente inverter o desinvestimento no SNS, aumentar salários e tabelar os preços da energia e bens essenciais. É urgente que o movimento sindical e a CGTP prepararem uma greve geral de protesto e exigência, dada a degradação acelerada das condições de vida dos trabalhadores e da juventude, a larga maioria da população. É urgente, ainda, perante a insuficiência e paralisia da esquerda tradicional, renovar a esquerda parlamentar para travar a ascensão da extrema-direita. Junta-te ao MAS para erguermos uma esquerda combativa no país e no parlamento.

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