A resistência Queer é anticapitalista

“Só há liberdade a sério quando houver a paz, o pão, habitação, saúde, educação.” (Sérgio Godinho, “Liberdade”)

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As pessoas com orientações sexuais e identidades de género não conformantes sofrem a discriminação gerada por vivermos numa sociedade onde a heterossexualidade e binariedade são a norma, o que, por sua vez, faz parte de uma violência mais geral, produto da opressão patriarcal, em que o sistema capitalista se baseia para explorar mais e melhor. Quem, de alguma forma, não cumpre com os estereótipos tem sido, ao longo da história, violentamente castigado.

Rebelamo-nos contra os papéis, estéticas, géneros ou condutas específicas, que nos são impostas à nascença. Somos militantes pela diversidade e chamamos todas as pessoas a lutar contra as discriminações que sofremos, pois acreditamos numa sociedade inclusiva e igualitária. Somos, por isso, orgulhosamente feministas, antifascistas e antirracistas.

Somos diversas, mas também parte da classe trabalhadora, e por isso sabemos que a opressão está intimamente ligada à exploração da sociedade capitalista. Os patrões abusam da nossa identidade de género para nos sobreexplorarem, para nos pagarem menos ou para não nos contratarem, lucrando com a nossa vulnerabilidade, que eles mesmos ajudam a perpetuar.

Lutamos sabendo que, como setor oprimido da sociedade, sofremos mais profundamente com a exploração e precarização crescentes, com a falta de investimento nos serviços públicos e com a total desregulamentação de mercados como o da habitação e da alimentação. Por isso, lutamos, como milhões de jovens da classe trabalhadora por todo o mundo, contra quem nos quer roubar o futuro. E por isso somos, também, orgulhosamente anticapitalistas.

Habitação

Fruto da especulação imobiliária, muitos de nós estamos hoje a ser empurrados para zonas cada vez mais periféricas das cidades. Enquanto nós contamos as moedas que nos sobram depois de pagar a renda, muitos contam os lucros de um mercado completamente inflacionado. A situação é especialmente insustentável quando muitos de nós são expulsos das suas próprias casas por pais ou colegas de casa lgbtfóbicos. É urgente colocar um fim à especulação imobiliária e exigir o tabelamento das rendas.

Saúde

O nosso serviço nacional de saúde tem sido alvo de privatizações e cortes quase desde a sua criação e hoje encontra-se mais precário do que alguma vez na sua história. Neste estado, o SNS não consegue dar resposta às pessoas. Falha em serviços essenciais como a psicologia. Para além disso, o SNS tem um funcionamento estruturalmente cis-heteronormativo; que vê as pessoas queer, na melhor das hipóteses, como objetos de estudo e não como pessoas que precisam de resposta. Faz falta mais investimento no SNS e a formação de mais profissionais.

Educação

Mas não é só o SNS a sofrer de desinvestimento crónico. Este é um traço comum a todos os serviços públicos, como a educação. Para além de subinvestida, a nossa educação ainda se centra numa visão colonialista, machista e cis-heteronormativa. A educação sexual, em especial, fala de pessoas LGBT como uma nota de rodapé, e deixa os nossos jovens à deriva, com profundas dúvidas sobre quem realmente são. É urgente mais investimento na educação, por uma educação inclusiva.

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