Novo Banco: os abutres privados têm de devolver o nosso dinheiro!

Editorial – 30 de Julho de 2020

Esta semana, veio a público a suspeita de que a actual administração do Novo Banco, no decurso das operações de venda de activos tóxicos, herdados dos negócios ruinosos da família Espírito Santo, têm beneficiado grandes fundos financeiros anónimos, colmatando os prejuízos, daí advenientes, com os dinheiros públicos que lhe são anualmente garantidos.

A complexidade das operações financeiras atrapalha a sua compreensão. Tentemos descomplicar, voltando ao início. O Fundo abutre Lone Star comprou o Novo Banco (pelo preço de €0 -zero euros) para posteriormente o vender, na totalidade e/ou em partes, retirando daí grandes mais-valias.

Contrariamente ao que PSD/CDS-PP nos fizeram crer inicialmente, a família Espírito Santo foi ilibada das responsabilidades pelos seus negócios ruinosos e no Novo Banco foram mantidas gigantescas porções de activos podres pertencentes ao antigo BES (crédito incobrável dos amigos dos Espírito Santo e imóveis parados).

Os abutres da Lone Star só aceitavam ficar com o Novo Banco se obtivessem a garantia de que seria o Estado português, com o nosso dinheiro, a assumir os prejuízos dos activos podres. O Governo Costa e a UE aceitaram, garantiram o valor de €3,9 mil milhões e combinaram que a venda dos activos podres deveria ser feita o mais rapidamente possível, sem afectar a estabilidade social. A esta operação chamaram de “limpeza”.

Esta semana, veio a público que a operação de “limpeza” também está contaminada. Porquê?

Cinco razões

Primeiro, a administração do Novo Banco tem vendido os activos podres muito abaixo do seu valor, assumindo prejuízos de centenas de milhões de euros (€611 milhões) que têm sido suportados pelo dinheiro público anualmente injectado naquela instituição;

Segundo, o Novo Banco empresta o dinheiro ao comprador destes activos podres, aceitando tais activos como garantia de boa cobrança do dinheiro que empresta;

Terceiro, os compradores são outros fundos abutres (Anchorage Capital Group, L.L.C e Cerberus Group), sediados em paraísos fiscais, sem qualquer escrutínio;

Quarto, não se sabe quem são os donos efectivos destes fundos;

Quinto, suspeita-se que os donos destes fundos sejam entidades relacionadas com a própria Lone Star, nomeadamete, através de Byron Hhaynes, actual Presidente do Conselho de Administração do Novo Banco, desde Junho de 2017. O fundo Cerberus era gerido por Byron Hhaynes até este aterrar no Novo Banco.

Por outras palavras, suspeita-se que os donos da Lone Star, para além de beneficiarem dos dinheiros públicos anuais para cobrir os seus prejuízos, estejam ainda a fazer negócios com empresas do seu próprio grupo para retirar benefícios extra.

Tendo vindo tais operações a público, segue-se o já habitual cortejo de hipocrisia política. O Governo Costa, como se nada soubesse (afinal, para que serve o escrutínio do Fundo de Resolução, do Banco de Portugal ou do BCE?), pediu à Procuradoria Geral da República para analisar as operações. A direita, PSD, CDS-PP e as suas filiais retrógradas (Chega) e neoliberais (IL), como se não tivessem concordado ou nada tivessem a ver com a resolução do antigo BES e com os activos podres que foram deixados no Novo Banco, exigem explicações do Governo. À esquerda, BE e PCP, onde também se pode incluir o PAN, como se não andassem com o Governo Costa ao colo, há mais de 5 anos, abrindo espaço a este tipo de operações, indignam-se com a situação. Entretanto, o povo continua a pagar.

Precisamos reaver o nosso dinheiro e recuperar o controlo público do Novo Banco. Estas operações representam certamente uma quebra dos acordos estabelecidos, pelo que o Governo tem a obrigação de ser indemnizado pelos prejuízos causados. Os privados que suportem os seus próprios prejuízos. Se pagamos, temos de ser nós a mandar. Basta de financiar os lucros e privilégios de banqueiros e políticos.

Prisão e confisco dos bens dos banqueiros corruptos!

Salgado ladrão, o teu lugar é na prisão!

 

Fontes:

https://sicnoticias.pt/economia/2020-07-28-O-jogo-de-palavras-do-Novo-Banco-explicado-por-uma-economista

https://expresso.pt/economia/2020-07-28-Uma-duas-tres-quatro-cinco-vendas-polemicas-as-historias–e-os-intervenientes-misteriosos–de-mais-611-milhoes-de-perdas-no-Novo-Banco

https://expresso.pt/economia/2020-07-28-Novo-Banco-vendeu-5-mil-imoveis-a-fundo-anonimo-e-recebeu-compensacao-do-Estado-pelas-perdas

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