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Os governos ocidentais assistem, impávidos, ao genocídio contínuo do povo palestiniano

No passado dia 1 de Julho terminava o prazo estabelecido pelo governo de Israel para o início dos seus planos de anexação dos territórios palestinianos ocupados na Cisjordânia, prevista no chamado “acordo do século” estabelecido com Donald Trump, anunciado no início deste ano.

O dia passou sem nenhuma declaração, tendo os planos sido adiados, provavelmente por pouco tempo. A pressão interna e externa a que o governo do assassino Benjamin Netanyahu tem estado sujeito poderá ter contribuído para este adiamento, em conjunto com a crise de saúde pública provocada pelo coronavírus, registando-se um grande aumento de casos em Israel.

Internamente, no dia 6 de Junho, o Governo Netanyahu enfrentou uma manifestação em Tel Aviv, capital de Israel, com milhares de manifestantes israelitas e palestinianos, contra a anexação. Na Palestina, ocorreram também várias mobilizações desde o início do ano e nos primeiros dias de Julho. Ao mesmo tempo, Benny Gantz, Primeiro-ministro rotativo do partido Azul e Branco, com o qual o partido Likud, de Netanyahu, teve de negociar para formar governo após três processos eleitorais, considera que a prioridade é o combate à pandemia causada pelo COVID-19. Além disso, há discordâncias internas quanto ao ritmo e à forma como a anexação ocorrerá, visto que Benny Gantz defende que esta deve ser negociada com as autoridades palestinianas, ao contrário de Netanyahu.

No “acordo do século”, Trump propôs a anexação por parte de Israel da totalidade da cidade de Jerusalém, que seria a capital do Estado sionista, assim como de quase 40% da Cisjordânia ocupada já por Israel, incluindo o vale do rio Jordão e a maioria da terra fértil e das reservas de água da região. Em troca, seria reconhecido um suposto Estado palestiniano, desmilitarizado, sem continuidade territorial, semelhante aos bantustões do apartheid sul-africano, sem controlo das suas fronteiras, ou do seu espaço aéreo e marítimo. Desse Estado fariam parte 14 vilas e cidades da Palestina histórica, ocupada em 1948, às quais seria reconhecida a soberania, que na prática seriam enclaves isolados no meio de Israel. Quanto a Gaza, continuaria isolada.

Do acordo fica de fora o direito de retorno de 6 milhões de refugiados palestinianos, que deixariam de ser reconhecidos enquanto tal, devendo ser integrados nos países onde residem (com o acordo dos respectivos Estados), ou integrados em países da Organização para a Cooperação Islâmica. Assim, nega-se o direito a 6 milhões de pessoas de recuperar as suas propriedades roubadas durante o processo de colonização, de exigir qualquer tipo de compensação económica, ou regressar ao eventual novo Estado sem a autorização de Israel. Além disso, não está prevista a libertação de presos políticos palestinianos e impõem-se o reconhecimento de Israel como um “Estado Judeu”, relegando os palestinianos cristãos e muçulmanos com cidadania israelita, assim como os drusos, a cidadãos de segunda categoria. Considera-se ainda uma violação do acordo o apoio a qualquer iniciativa de reivindicação da soberania nacional e antirracista, como a campanha Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS).

A Fatah e o Hamas, principais organizações palestinianas na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, opuseram-se desde o início ao plano e concordaram em lutar conjuntamente contra as intenções do Estado de Israel.

A nível internacional, a Organização das Nações Unidas (ONU), a Liga Árabe e países como a Alemanha, a França, o Egipto e a Jordânia opuseram-se a qualquer anexação unilateral e não negociada. Na Bélgica, votou-se a criação de uma lista de sanções caso Israel avançasse com os seus planos. No entanto, não podemos confiar, por um segundo que seja, nas intenções dos governos das potencias ocidentais nem nos governos árabes. Desde a sua criação, os governos europeus estão entre os principais aliados de Israel. Se hoje se manifestam contra é por recearem a contestação nos seus próprios países, aproveitando ainda para se distanciarem da acção errática, unilateral e belicista da Administração Trump, actualmente sob forte contestação e desgaste. Querem fazer passar-se pelos defensores e garante dos direitos humanos mas quanto a acções concretas que possam efectivamente impedir o plano de Israel, pouco ou nada há a registar. Já os governos árabes, em particular de países como a Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, têm procurado normalizar as suas relações com Israel como parte de uma estratégia de conter a influência iraniana na região.

A mobilização pela causa palestiniana e o crescente apoio à campanha BDS forçaram também estes governos a tomar esta posição. Na realidade, enquanto tentam passar a imagem de defensores dos Direitos Humanos às televisões, ao mesmo tempo nos parlamentos tentam aprovar leis em que equiparam o antissionismo ao antissemitismo e condenam activistas, como no caso da Alemanha e da França.

O “acordo do século” apresentado por Trump e Netanyahu como um garante para a paz, não é mais do que o aval do imperialismo norte-americano à continuidade do genocídio palestiniano e o legitimar do apartheid.

Não à anexação por parte de Israel dos territórios palestinianos!

Só a mobilização em solidariedade com a Palestina e o apoio à BDS garantirão que as declarações vãs dos vários governos sejam postas em prática. A única garantia para a paz é travar os planos do Estado genocida e expansionista de Israel e lutar por uma Palestina única, laica, democrática e não racista, em que judeus e árabes, cristãos ou muçulmanos, possam viver em conjunto.

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