O Chega e Ventura indignam-se com a corrupção sistémica vigente mas rejubilam se as vantagens dessa corrupção forem aproveitados em seu próprio proveito. Sousa Lara não largou a sua subvenção vitalícia, ao contrário do que proclamava. Ventura não se dedicou em exclusividade à função de deputado, contrariamente ao que apregoava.
Daí que, ao mesmo tempo que figem indignar-se com a classe política dominante, descarregam ódio sobre todos aqueles que lutam por uma sociedade mais justa, mais igualitária, mais democrática. A esquerda e os movimentos sociais progressivos são, para o Chega, a corporificação do diabo. Já a elite dominante que nos tem governado, nem tanto.
Não é necessária uma grande dose de atenção para percebermos que Ventura é precisamente tudo aquilo que diz combater. Várias investigações jornalísticas já o comprovaram.
Nascido e criado no lamaçal do sistema
É sabido que André Ventura foi apoiante da Troika e da política de empobrecimento do país, ao lado das elites que nos têm governado. Chegou a ser eleito para a direção do PSD, um dos maiores partidos do sistema, na lista encabeçada por Sérgio Azevedo, o deputado que, no âmbito da Operação Tutti Frutti, é investigado por esquemas de corrupção autárquica. O PSD foi o ninho que proporcionou a André Ventura a oportunidade de se dedicar à política de café, ao futebol de bancada e à consultoria num grupo empresarial com empresas em paraísos fiscais, que se dedica à engenharia fiscal, à aquisição de vistos gold e ao imobiliário de luxo, sectores onde se sabe serem bem servidos de muita corrupção e lavagem de dinheiro. Ventura faz da mentira descarada a sua arma política preferencial. Gerar a dúvida sobre temas secundários é o seu lema, uma vez que o seu plano de poder é colocar uns contra os outros e retirar daí os maiores benefícios pessoais. As semelhanças com Trump não são coincidência.
Branquear a própria corrupção com um discurso anti-corrupção
É no âmbito da tal Operação Tutti Frutti que a vereação de Ventura, na Câmara Municipal de Loures, está a ser investigada por desvio de dinheiros públicos, tráfico de influências e branqueamento de capitais. Manuel Matias, assessor político de Ventura no Parlamento, fundador do partido Pró-Vida, foi um dos presidentes da Cooperativa “Pelo Sonho é que Vamos”, no Seixal, o qual terá contribuído para a dívida de perto de €500 mil euros a quase 50 trabalhadores. José Lourenço, líder do Chega no Porto, tem o seu nome na lista pública de devedores fiscais. Cristina Vieira, candidata do Chega às eleições europeias e legislativas, taróloga e ex-polícia militar, esteve envolvida na burla LibertaGia, sediada no paraíso fiscal das Bahamas, que lesou milhões de pessoas. O Chega foi legalizado com o recurso à falsificação em massa de assinaturas. Ainda está por se desvendar a origem do orçamento do Chega de €500 mil para as eleições europeias e o de €150 mil para as eleições legislativas. Estes são apenas alguns exemplos de como a retórica anti-corrupção é apenas música para os mais incautos.
Um partido político racista, repleto de criminosos neonazis
A constante humilhação racista da comunidade cigana, onde se inclui a proposta do seu “confinamento especial”. As declarações favoráveis à deportação da deputada Joacine. O facto de muitos dos integrantes do Chega, incluindo dirigentes, pertencerem a grupos criminosos de neonazis. Lucinda Ribeiro, dirigente nacional do Chega, evangélica ultraconservadora, devota de Bolsonaro, manifesta-se abertamente contra imigrantes e difunde a desinformação que, no Brasil, ajudou à eleição de Bolsonaro. O facto de o Vice-Presidente do Chega, Diogo Pacheco Amorim, ter sido membro do ex-MDLP, movimento terrorista de extrema-direita no pós-25 de Abril. As ligações à extrema-direita racista e retrógrada internacional. É preciso ser muito tolo ou mal-intencionado para afirmar que o Chega não é um albergue de racistas e criminosos.
O acólito com ambições de poder
Para purificar toda a sua vida mundana, André veste o papel de um respeitável homem da fé. Estabeleceu uma aliança sagrada com as igrejas evangélicas que estão ao serviço do seu financiamento, da aberta campanha política pelo Chega e do recrutamento de rebanhos ultraconservadores. Estas instituições apenas procuram, em troca, alguns ganhos económicos, isenções fiscais ou subsídios do Estado. É desta forma que Ventura terá comprado o direito a autointitular-se o enviado de Deus. Os seus amigos Bolsonaro e Trump alimentam-se das mesmas mezinhas. Até o mais crente deve questionar a possibilidade de Deus ter enviado tantos homens, tão incompetentes, para nos “salvar”.
Ventura é uma fraude e é por isso que faz questão de fazer o contrário de tudo aquilo que apregoa. Condena manifestações, mas apenas aquelas que não sirvam as suas ambições de poder. É de tal forma evidente que os seus próprios apoiantes se demarcaram massivamente da manifestação convocada. Ventura, que intitulou a sua marcha de “Portugal não é racista!”, parece estar condenado a passear apenas com um punhado de criminosos racistas neonazis. Entretanto, para tentar reverter a situação, Ventura vai suplicando, nas redes sociais, para que não o deixem sozinho na rua com os neonazis. Isto é Ventura a provar do seu próprio veneno.
Imagem/Foto de Notícias Magazine