O governo tem sido elogiado no combate ao COVID 19 em Portugal. Parece-nos importante, em abono da verdade, deixar claro que a quarentena e o distanciamento social, foram iniciados pela população portuguesa antes mesmo do decreto de Estado de Emergência.
Agora o governo e PR estão a tentar colher os louros da vitória, por uma iniciativa encabeçada pela população. O Estado de Emergência, serviu para que o governo interferisse na vida particular da população retirando direitos imprescindíveis para a classe trabalhadora e ficassem expostos aos abusos cometidos pela classe dominante. Como por exemplo as limitações no campo sindical, como o direito à greve, de forma a que os trabalhadores não tivessem capacidade de reagir a medidas gravosas como o Layoff.
Quando tratam da crise sanitária e a tentam desvincular da política, é um truque, que visa desresponsabilizar as políticas seguidas até aqui. A realidade é que a palavra política por sua semântica e origem etimológica, trás consigo a ideia de poucas pessoas que estão e devem estar envolvidas neste processo. Onde na verdade, a vida em sociedade em sí é uma relação política. E cada acção política desencadeia mudanças na vida de todos.
A questão de retomada à “vida normal”, sabendo-se que a propagação do vírus é altamente veloz e as complicações para a vida humana são extremamente agressivas, só pode ser realizada em segurança se os trabalhadores tiverem acesso a equipamento de protecção individual gratuito e seja garantido o afastamento físico entre eles no trabalho.
Nós estamos no meio da tempestade, entretando alguns estão em iates, navios de luxo e outros (a grande maioria) está em canoas tentando de todas as maneiras se manter sob elas. O silêncio da esquerda parlamentar com relação a esta afirmativa de que estamos “todos no mesmo barco” é profundamente incabível e inaceitável. Pois força daí esse espírito de “conciliação” ou união entre classes sociais completamente antagônicas. É nítido que teremos mudanças nas nossas relações cotidianas. Entretanto, algumas camadas da sociedade sofrem e sofrerão muito mais que outras.
O layoff é algo inadmissível, e a esquerda parlamentar que não se opõe a isto, é responsável juntamente com as ações do governo pela precarização da vida do trabalhador. Imaginem, no Layoff simplificado, o trabalhador tem o “direito de receber” 66% do salário mesmo que não se comprove que houve redução na carga horária. Isto é, o trabalhador tem a possibilidade de continuar trabalhando a carga horaria normal e mesmo assim ter seu salário reduzido.
É facilmente compreensível essa ascensão da popularidade e aprovação do Governo e PR por alguns fatores como:
1- a captação do sucesso inicial frente ao combate ao covid, que nós sabemos que foi por adesão da população e não por medidas realizadas pelo governo;
2- o fato de Portugal ter sido um dos primeiros países a se fechar e um dos primeiros a começar a abertura, o que para a grande população que não compreende a gravidade da situação e as medidas adotadas pelo governo (que prejudica principalmente os trabalhadores) é vista com bons olhos;
3 – a maneira como a fala destes representantes atinge a população que acaba por confundir e enganar grande parte.
O acordo alargado no parlamento, com a colaboração da esquerda, em torno do Estado de Emergência foi inaceitável. São necessárias convergências à esquerda em oposição ao governo e à extrema direita para o momento que vivemos. É altura de partidos como BE, PCP, PAN e a JKM rompam com o governo, para não deixarmos o campo aberto para o populismo reacionário da extrema direita.
É necessário fortalecer o SNS e proteger os rendimentos das famílias, para isso é preciso um programa alternativo que faça a requisição pública dos lucros e dividendos das grandes empresas e seus accionistas,a taxação das grandes fortunas, e a reestruturação da banca para ser colocada ao serviço do emprego.
Neste sistema, como se tem visto da pior forma possível, os lucros valem mais que as vidas. O capitalismo é, de facto, um incubador de pandemias de todos os géneros, é um cancro que se alastra a todas as dimensões da vida, pelo que não haverá solução para a humanidade sem uma revolução social.
Y.G.
