Cláudia viajava num autocarro, com o seu sobrinho e a sua filha, de oito anos, que se tinha esquecido do passe, em casa.
A detenção e espancamento de Cláudia Simões, na Amadora, é o mais recente caso de brutalidade policial racista no nosso país. Apesar de crianças desta idade não terem de pagar os transportes e no dia dos acontecimentos estar uma noite fria, o motorista insistiu na questão do passe. Cláudia comprometeu-se que alguém, na paragem de saída, viria mostrar o passe da filha ao motorista. No entanto, o motorista, que fez comentários racistas contra várias pessoas que transportava, parou o autocarro em frente a um restaurante onde se encontrava um agente da PSP fora de serviço e pediu-lhe que abordasse Cláudia Simões. Este agente deteve então Cláudia violentamente, o que indignou várias pessoas e contra o qual ela se debateu.
A detenção brutal foi filmada por um transeunte indignado e partilhada nas redes sociais. Essas filmagens são essenciais para entender o episódio, nelas vê-se Cláudia imobilizada violentamente no chão mas ainda sem apresentar a cara esmurrada. O mais grave parece ter ocorrido a seguir: uma brutal agressão que ocorreu dentro de um carro de patrulha, onde foi gravemente esmurrada pelo agente que a deteve, isto enquanto a humilhava com insultos racistas e misóginos. Depois, Cláudia foi largada ensanguentada no chão em frente à esquadra da Boba, na Amadora. Os bombeiros foram chamados ao local, pela PSP, sob o pretexto de que alguém tinha sofrido uma “queda”. Quando chegaram ao local, os bombeiros verificaram que não se tratava de uma “queda” mas sim de um espancamento.
Este caso é a revoltante demonstração do racismo estrutural e institucional que se vive em Portugal. Neste episódio, o racismo demonstra-se em várias camadas: nas ofensas racistas e atitude de um motorista de um transporte público; na brutalidade usada por um agente da polícia que não estava ao serviço; pela violenta desproporção de força utilizada, pela PSP, num incidente relacionado com o passe de transporte de uma criança; na conivência de outros agentes da polícia para com um espancamento; nas mentiras utilizadas pela PSP ao darem informações falsas aos bombeiros, como depois, através de um comunicado oficial, a defender o indefensável; pela culpabilização da vítima por parte de uma médica no hospital onde foi assistida; e, por fim, pelas várias notícias na imprensa que tentavam defender o agente agressor e culpabilizar a vítima.
Relatórios internacionais e vários casos, nos últimos anos, demonstram o grave racismo que existe nas polícias portuguesas. Recentemente, a organização de setores de extrema-direita na polícia (Movimento Zero e Sindicato Unificado da PSP) e, a proximidade desses movimentos e alguns dos seus elementos ao Chega, de André Ventura, é a demonstração do perigo fascista que existe nas esquadras. Perante isto, é preciso que este governo enfrente realmente a extrema-direita nas polícias, desmantelando o seu crescimento.
Em relação a este caso específico é necessária a punição e expulsão do agente em questão, assim como dos agentes que foram coniventes com o espancamento. Exigimos o combate e desmantelamento de organizações de extrema-direita nas polícias, a expulsão de agentes fascistas ou racistas das esquadras e daqueles envolvidos em casos de agressões.
Sem justiça não há paz!
Dia 1 de Fevereiro haverá um protesto na Praça Marquês de Pombal por justiça para Cláudia Simões, siga o evento no facebook aqui.