De 20 a 27 de setembro, a semana de Mobilização Global pelo Clima varrerá o globo como uma verdadeira onda, com a previsão de mais de 5 mil manifestações por todo o mundo, em mais de 150 países. A onda irá em crescendo até 27 de setembro, dia da Greve Climática Global, mas o movimento pela justiça climática – em que os jovens assumem com destaque a dianteira, mas não estão sozinhos -, prepara já os próximos passos.
Uma onda a crescer
Começaram ontem, por todo o mundo, as mobilizações contra as alterações climáticas, inseridas na semana da Mobilização Global pelo Clima. Neste dia 20, houve já manifestações, espalhadas pelos 7 continentes, com destaque para a Austrália, Reino Unido, Quénia, Uganda, Alemanha, Escócia e as Ilhas do Pacífico, cuja existência está ameaçada pela subida do nível do mar. Em Portugal, foram organizadas vigílias em Lisboa, no Parque do Príncipe Real, e no Porto, em frente à Câmara Municipal. Todas estas ações foram convocadas por movimentos internacionais, como o #FridaysForFuture ou #ExtinctionRebellion, mas contaram com a adesão de diversos coletivos de ativistas que lutam contra as alterações climáticas, bem como de associações e organizações ambientais e ecologistas. Em conjunto, exigem que os governos decretem o estado de emergência climática, lutando pela neutralidade carbónica até 2030.
Apesar de o dia 20 de setembro já ter sido considerado um dos dias mais emblemáticos na luta global contra as alterações climáticas, as ações irão continuar, com o intuito de alertar a população mundial sobre a crise climática e de exigir verdadeira ação climática às cúpulas. De facto, nalguns países houve já milhares de jovens a fazerem greve no dia 20, em antecipação à Cimeira da Ação Climática da ONU que terá lugar em Nova Iorque, a 23 de setembro, e espera-se que a cidade receba, nesse dia, mais de um milhão de jovens em protesto. A Cimeira é, de resto, uma tentativa por parte das potências mundiais de mostrarem algum tipo de abertura para o diálogo no que toca à crise climática, mas são os próprios jovens ativistas a dizer que não têm ilusões nem falsas expectativas em mais uma cimeira organizada por aqueles que defendem o sistema capitalista, cujo modo de produção e de exploração de recursos está intrinsecamente ligado à destruição do planeta.
Em Portugal, esta semana contará com várias iniciativas, como ciclos de cinema dedicados exclusivamente ao clima, oficinas de cartazes e debates, em preparação para o pico da onda, no dia 27, com a Greve Climática Global, havendo já 25 cidades portuguesas com presença confirmada. Em Lisboa, a greve será seguida de uma ação pacífica de desobediência civil: uma acampada que pretende bloquear uma rua central da capital, pelo menos durante todo o fim de semana, e que será coordenada com outras ações semelhantes em diferentes cidades da Península Ibérica. Mas a luta pela justiça climática não ficará por aí, já que as organizações envolvidas na preparação desta onda de mobilizações pretendem que todos os movimentos culminem em Madrid, no dia 7 de outubro, numa ação de desobediência civil coordenada, que dará início à Rebelião Internacional, com ações confirmadas em Londres, Madrid, Paris, Berlim e Nova Iorque e duas novas ondas de mobilizações previstas para 2020.
Negociar porquê? Não há planeta B!
A Greve Climática, que começou por ser Estudantil e agora é Global, tem vindo a ser fortalecida pelo alargamento da participação a novos setores da sociedade. Os estudantes chamaram movimentos sociais e sindicatos a participar e o seu pedido vem sendo atendido, não só em Portugal, mas um pouco por todo o mundo, como é o caso dos “coletes amarelos” em França. A inclusão dos trabalhadores na luta contra as alterações climáticas traz uma compreensão mais profunda de que não há salvação possível dentro do capitalismo e da necessidade de mudar completamente o modo de produção, já que o sistema de produção capitalista vive da exploração a todo o custo dos recursos do planeta, sem contemplação pelas emissões de CO2, pela biodiversidade ou pela sustentabilidade, preocupado apenas com a obtenção do máximo de lucro possível, independentemente das consequências.
O Acordo de Paris é exemplo disso e vemos que, mesmo sendo à partida insuficiente, os governos foram incapazes de o cumprir, havendo ainda líderes mundiais, como Donald Trump e Jair Bolsonaro, a contestarem a validade científica das alterações climáticas, das suas causas e dos seus efeitos. Veja-se ainda, no caso português, o Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 apresentado pelo PS em 2017, cuja redução de emissões propostas fica ainda 75% acima dos objetivos colocados ou a autorização do novo aeroporto do Montijo, no meio de uma Reserva Natural, e da prospeção de petróleo no Algarve e no Litoral Alentejano. Neste contexto, a Cimeira da Ação Climática da ONU, convocada por António Guterres, não passa de uma manobra das potências mundiais que na retórica não negam a crise climática, mas na prática continuam a agir em defesa dos interesses de grandes empresas, sejam elas petrolíferas, mineiras ou outras grandes corporações que atuam na exploração desenfreada dos recursos naturais do planeta e que procuram mascarar as suas ações com uma proposta de “capitalismo verde”. Em resposta a tanta ganância, a Greve Climática Global assume o esgotamento das vias de diálogo com as cúpulas mundiais e exige que se tomem urgentemente medidas drásticas em defesa do planeta, que só poderão ser levadas a cabo com um forte movimento de massas, pois a boa vontade dos governos já foi posta à prova em diversos momentos e o resultado foi sempre negativo.
Esta experiência reflete-se também em Portugal, com a greve a contar com a participação de mais de 50 organizações, entre as quais alguns sindicatos, e a apresentar um conjunto de reivindicações mais abrangente e detalhado. Lê-se, no seu manifesto, que “para concretizar estas exigências será necessário um nível de mobilização sem precedentes na sociedade mundial”. Além das exigências mais transversais, tais como a declaração de emergência climática, a neutralidade carbónica até 2030 e a criação de assembleias cidadãs, a Greve Climática exige, para Portugal, medidas como o encerramento das termoelétricas de Sines e do Pego já na próxima legislatura; o fim das concessões petrolíferas e de gás ainda existentes e a revogação da legislação que permite o lançamento de novas concessões; a proibição da importação de gás natural obtido por fraturação hidráulica (fracking) e o cancelamento de grandes projetos que aumentem a emissão de gases com efeito de estufa; mas também a redução do horário de trabalho para 35 horas e a introdução da semana de trabalho de 4 dias. (https://salvaroclima.pt/por-uma-greve-climatica-global/)
O Movimento Alternativa Socialista defende intransigentemente a luta pela Justiça Climática e apela a todas e todos a que participem na Greve Climática Global, no próximo dia 27 de setembro. A economia capitalista mundial depende e é controlada pelas grandes indústrias automóvel, petrolífera e financeira, cujas fortunas estão dependentes do contínuo consumo de combustíveis fósseis. Por isso, subscrevemos as reivindicações da Greve Climática Global e propomos ainda a nacionalização das indústrias automóveis e energética, para investir na criação de milhares de empregos. EDP, REN e GALP públicas! Transição Energética, já! Dizemos não à exploração de lítio e à prospeção de gás fóssil! Não ao aeroporto do Montijo! Fim das centrais termoelétricas! Não ao gasoduto em Bragança! O planeta não é vosso.