A terceira Comissão de Inquérito à CGD chega, unanimemente, à conclusão de que os problemas do banco podem ser resumidos a: uma administração que não foi “sã nem prudente”, “falta de atenção” da parte de vários governos e um regulador que “falhou na supervisão”. Eufemismos para suavizar a gestão danosa, fruto das relações privilegiadas entre grupos financeiros e económicos privados e o poder político, que desfalcaram o banco público, através da concessão de créditos sem garantias.
Esta é uma história que já todos conhecemos bem, pois repete-se com demasiada frequência: recursos públicos que deviam servir o interesse público são constantemente desbaratados por interesses privados, sob o patrocínio político dos sucessivos governos.
O mais curioso é que são exatamente aqueles interesses privados, responsáveis por degradar os recursos públicos, que logo de seguida nos propõem a sua privatização, uma vez que a sacrossanta mercantilização tudo resolverá. A CGD é apenas mais um exemplo. Mesmo pública, a CGD foi vitima dos interesses privados, incluindo os interesses privados instalados nos sucessivos governos e administrações públicas, e esta é uma conclusão que três Comissões de Inquérito à CGD não tornaram clara e evidente.
Entretanto, foi exposto o conjunto de negócios perniciosos de mais um “grande empresário” da nossa praça, Berardo, outrora condecorado, com honras de Estado, pelos “meritórios” serviços prestados a Portugal (?!). Berardo serviu uma excelente caricatura das elites parasitárias dos grandes negócios e daqueles que nos têm governado mas saiu a rir-se.
O seu regozijo tem razão de ser. As Comissões de Inquérito são múltiplas mas as suas consequências são praticamente nulas. No espetro parlamentar, não existem interessados em alcançar as devidas conclusões políticas: o interesse público dos setores estratégicos tem de ser defendido do parasitismo dos interesses privados. O relatório dá seguimento aos respetivos encaminhamentos judiciais mas já vamos no terceiro Inquérito e continuamos sem responsáveis pelo roubo da CGD e sem a devida punição. Berardo ri-se porque sabe que está protegido pela impunidade de quem nos governa. É preciso responsabilizar e punir quem roubou o sistema financeiro português, assim como confiscar todos os seus bens para fazer face aos buracos financeiros. Basta de injetar dinheiro público nos buracos financeiros dos interesses privados!
Para que o problema não se volte a repetir, tem de se aprofundar os mecanismos de controlo e escrutínio. Isto requer mais democracia dentro das próprias empresas, nomeadamente, através da abertura e esclarecimento detalhado dos seus livros de contas e da participação de representantes dos trabalhadores nas respetivas administrações.
Só assim poderemos entender o que queremos dos setores estratégicos públicos, neste caso do sector financeiro, na figura da CGD? Queremos a capacidade de definir políticas de investimento estratégicas para a nossa economia, de combate às desigualdades e em estreita relação com a sustentabilidade ambiental. Aqui inclui-se o fim da política de despedimentos massivos na CGD. A CGD tem um papel fundamental no desenvolvimento do nosso país. Olhemos para o estado degradante de uma parte considerável das nossas escolas e hospitais. Olhemos para as necessidades da nossa ferrovia. Olhemos para a falta de creches. Olhemos para a habitação. Olhemos para as necessidades de crédito das PME. Olhemos para as necessidades sociais e de investimento em serviços públicos.