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O olival intensivo no Baixo Alentejo – um crime continuado a triplicar

Estalou a polémica sobre o mal do olival intensivo, na Região do Baixo Alentejo.

Começando com um pouco de História das transformações nos campos do Alentejo, com o fim da Reforma Agrária, os campos foram votados ao abandono, em total improdutividade, exceptuando os terrenos de pequena e média dimensão que foram subsidiados para reflorestação principalmente com sobreiros, azinheiras e pinheiros. As grandes herdades ficaram em total pousio até que se concretizou a Barragem do Alqueva e os vários transvases para as Barragens do Alvito, Odivelas e Roxo, com diversas ramificações ou bocas de rega para levas de água até aos terrenos, a maior parte deles classe A, B e C, os dois primeiros de enorme produtividade agrícola.

Foi então que grandes investidores estrangeiros, espanhóis na sua grande maioria, vieram ao Alentejo comprar essas herdades, tão somente as planas, a preços irrisórios. Assim escrevo porque, aqui ao lado, em Espanha, os preços atingiam os 20 a 30 mil euros por hectare, enquanto no Alentejo aquelas herdades atingiam um máximo de 5 mil euros por hectare. Esses investidores, minha designação generosa pois a maior parte deles eram alheios a qualquer trabalho agrícola, obtiveram financiamentos da banca espanhola a juros ridículos, quando comparados com os juros portugueses, e procederem à instalação dos negócios que já existiam em Espanha – o olival intensivo para a produção de azeite. Esta instalação de olival também pode ser considerada “reflorestação” pelo combate à desertificação e, portanto, altamente subsidiada por fundos comunitários da UE. A instalação do olival intensivo não poderia acontecer sem as águas do Alqueva.

Ora, aqui está o primeiro dano (ou mesmo crime) contra o país. Esse mar de água deveria ser destinado ao fomento da produção agrícola para alimentação humana, na sua generalidade, em terrenos de boa qualidade (A e B), evitando a sua importação. Mas tal não aconteceu na escala desejada por superiores “decisões políticas”, da parte de quem nos tem governado.

O negócio do olival intensivo produz imenso lucro a quem o desenvolve. Além da designação “intensivo”, apareceu o super-intensivo e mais recentemente o mega-intensivo.

 

Como funciona este negócio?

1- Aquisição das terras, no Alentejo, de preferência planas. Se tiverem bocas de rega, já conectadas com o Alqueva, o negócio é imediato. Na fase inicial, o pagamento era feito com malas de dinheiro (uma descarada lavagem de dinheiro), contudo agora tem de ser feito por transferência bancária ou cheque internacional certificado (visado);

2- De Espanha, vêm (entram ainda hoje!) camiões carregados de pequenas estacas de oliveira, recolhidas em viveiros, onde já foram detectados vírus, sendo que serão plantadas em Portugal, já infectadas;

3- Essas minúsculas oliveiras crescerão depressa pois serão alimentadas junto à raiz, com água do Alqueva, impregnada com um fitofármaco. O que origina este gotejo, junto a cada árvore? Animais selvagens, como coelhos, lebres, perdizes e outros, ao beberem desta água, caiem imediatamente mortos por envenenamento.

4- Essas terras, muitos milhares de hectares aqui no Alentejo, estarão gravemente infectadas no seu húmus. Quanto tempo, quantos anos, levará a parte orgânica a regenerar-se?

5- Na altura da floração (ou candeio), o pólen imbuído de veneno absorvido pela planta, espalha-se na atmosfera e, sendo levado pelo vento, atinge povoações inteiras o que originará, com certeza, problemas respiratórios.

6- Na altura da recolha da azeitona, há um tractor que lançará sobre as oliveiras um químico que apodrecerá o pedúnculo de cada azeitona e esta cairá. Azeitonas aos milhões. Esta nuvem, o que mais origina? Elevada mortandade de aves que pousam no olival ou aves migratórias que ficam envenenadas e morrem. E elevada mortandade de abelhas!

7- A azeitona, transformada nos lagares, chegará envenenada como atrás descrito. Como será o azeite? E que dizer sobre a enormíssima poluição jorrada permanentemente pelas chaminés dos lagares que atinge todo o meio ambiente bem como a saúde das pessoas?

 

O que se pode condenar neste investimento? Quase tudo, opino eu.

O emprego gerado é perto de nulo. Bastam até 3 trabalhadores para uma herdade enorme, por exemplo, acima de 500 hectares.

Na pré-instalação e preparação e instalação de um olival, os proprietários, de forma sistemática, cortam, arrancam oliveiras tradicionais, azinheiras e até sobreiros que estejam numa mancha plana ideal para o trabalho, portanto uma limpeza. É comum saber-se que essas árvores são arrancadas em quase todas as instalações novas. É um negócio paralelo: as oliveiras mais antigas são levadas para Espanha e, dizem, exportadas para Itália. Crime, portanto. E com responsabilização, não aconteceu um sequer.

Se um trabalhador com um tractor avisa o proprietário que descobriu vestígios arqueológicos, o mesmo recebe ordens para charruar em frente e calar-se. E tem de o fazer, senão é despedido. São já muitos os casos. Com responsabilização, um sequer. Outro crime.

O azeite, o produto final, entra nas nossas casas, na nossa mesa, no nosso prato. É produzido com aquele tipo de azeitona que sofreu aqueles condimentos. É azeite puro, de qualidade, de confiança? Vamos dá-lo às nossas crianças? Originará doenças no nosso organismo que não sabemos quais – cancerígenas? – a origem ou o motivo? Cada um que pense, opine e decida.

Quando a onda passar, para que servirão essas terras envenenadas? Quantos séculos levarão a regenerar-se?

A quem interessa esta situação? Apenas aos empresários Investidores. O que fazem os sucessivos governos? Nada. Incentivam o aumento do olival intensivo porque origina números elevados da produção de azeite nas estatísticas da UE, justificando-se assim mais subsídios comunitários…

 

José Jorge Cameira

Comissão de Utentes de Beja,

Beja, 22 de Maio de 2019

 

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