A expressão “É a economia, estúpido!”, foi utilizada na eleição de Bill Clinton, candidato democrata, que disputou em 1992 a Presidência dos EUA. O objetivo era criticar a condução da política econômica para derrotar George H. Bush, na corrida presidencial. 1
Não utilizei a expressão, na íntegra, com a intenção de destacar a importância da reprodução e acumulação de capitais, cada vez maior, na sociedade capitalista. O objetivo é denunciar o quanto esta sede pela acumulação de capitais é cada vez mais nociva para a emancipação e o desenvolvimento pleno da humanidade. É apontar que o sistema capitalista é o grande responsável pelas desigualdades no mundo e pela ausência de democracia plena em diversos países. O sistema capitalista, além de ter demonstrado, ao longo de sua trajetória, sua total incapacidade para encaminhar e resolver os principais problemas e conflitos no mundo; é ele próprio, o verdadeiro e maior causador desses problemas. Uma das maiores deficiências do capitalismo é a brutal desigualdade, econômica e social, imposta a bilhões de pessoas na terra. Milhões de seres humanos sobrevivem com menos dinheiro do que os recursos destinados para subsidiar a criação de animais. Uma total inversão de valores.
“Há cerca de dois anos, uma reportagem da CNN sobre o Mali descreveu a realidade do “livre mercado” internacional. Os dois pilares da economia malinesa são o algodão, no Sul, e a criação de gado, no Norte, e ambos enfrentam problemas devidos ao modo como as potências ocidentais violam as próprias regras que tentam impor aos países pobres do Terceiro Mundo. O Mali produz algodão de excelente qualidade, mas o problema é que o subsídio que o governo norte-americano dá a seus próprios produtores de algodão equivale a mais do que todo o orçamento do Estado malinês, portanto não surpreende que não seja competitivo. No Norte, a culpada é a União Europeia: a carne malinesa não consegue concorrer com a carne e o leite altamente subsidiado da Europa. A União Europeia subsidia cada vaca com cerca de 500 euros por ano, mais do que o PIB per capita do Mali. Como explicou o ministro da economia: nós não precisamos de ajuda, conselhos ou palestras sobre os efeitos benéficos do fim da regulamentação excessiva do Estado; basta que vocês cumpram suas próprias regras de livre mercado e nossos problemas acabarão … Onde estão os defensores republicanos do livre mercado?” 2
A grande injustiça social e a maior falha do modelo econômico capitalista, é concentrar renda nas mãos de uma parcela cada vez menor da população mais rica. A gênese desse mal está em sua própria dinâmica de funcionamento. A base do sistema capitalista é a apropriação do mais-valor criado pelo trabalho. A afirmação, de seus ideólogos e defensores, de que o trabalhador é livre para fazê-lo, é uma tremenda hipocrisia.
A movimentação orquestrada pelo governo americano para intervenção na Venezuela não tem nada a ver com crise humanitária. Tem a ver com crise energética, com geopolítica, tem a ver em garantir petróleo para o país mais industrializado do mundo não parar de produzir. Os EUA são o país que mais consomem petróleo no mundo e também o maior importador de petróleo da Venezuela, que detém as maiores reservas provadas de petróleo do mundo, com 298 bilhões de barris de petróleo. Dependendo da cotação do preço do barril, a despesa dos EUA com importação de petróleo da Venezuela pode ultrapassar US$ 25 bilhões de dólares por ano. Embora o barril tenha cotação internacional, o custo de comprar da Venezuela é bem mais baixo do que importar do Oriente Médio. O custo do frete, bem mais elevado, devido à distância muito maior, acaba deixando a despesa com importação de petróleo muito maior. Por isso, o grande interesse dos Estados Unidos no petróleo venezuelano. A intervenção não tem nada a ver com democracia e humanismo. Seu interesse é comercial e geopolítico; envolve acima de tudo a questão de recursos naturais e a localização estratégica no mapa do petróleo. O que está em jogo é o interesse e controle das jazidas de petróleo por parte do capital privado. O que importa é garantir reprodução e acumulação de capitais em escala alargada. Não tem nada de humanitário.
Se a questão fosse realmente humanitária, o governo americano e a ONU já teriam tomado alguma providência para evitar que milhões de africanos morram de fome todos os anos na África subsaariana. O que realmente interessa aos países desenvolvidos e mais industrializados, que são os maiores produtores de mercadorias, é garantir mercado consumidor. Isto a África não pode oferecer. Aqui não existe interesse comercial. Por isso o desprezo com a vida de milhões de crianças africanas que não têm o que comer todos os dias. Levantar a “bandeira humanitária” para intervir e invadir a Venezuela com tropas militares é hipocrisia, é leviano!
“Mais de 40% da população da África Subsaariana vive na extrema pobreza”.3
O mesmo acontece com sua política exterior em relação a Cuba. Se a preocupação fosse mesmo com o povo cubano – que inclusive apresenta diversos indicadores sociais melhores do que os dos EUA -, o governo americano não manteria um bloqueio econômico e comercial contra a ilha caribenha por mais de cinquenta anos. Isso é imoral e desumano. Não tem nada de humanitário! Aqui também, trata-se de interesse comercial e estratégia geopolítica. Antes da revolução, Cuba desempenhava importante papel de entreposto comercial e rota de localização estratégica na entrada do Golfo do México e com acesso privilegiado para o Oceano Atlântico. À noite, o país se transformava em cassino flutuante para prazer e diversão da elite americana. 95% da população vivia na pobreza, prestando trabalho em condições análogas ao trabalho escravo nas plantações de fumo e cana-de-açúcar destinadas à exportação. Foi preciso uma revolução popular para mudar o destino de seu povo. Cuba, é hoje, referência mundial em diversas áreas da saúde, na educação, pesquisa científica e esporte. O país caribenho possui a expectativa de vida mais alta do continente americano, com uma média de setenta e cinco anos.
Se realmente os EUA se preocupassem com “ditaduras”, que por interesses estratégicos continua a construir, por que não intervém na Arábia Saudita, uma ditadura monárquica absolutista e uma de suas maiores parceiras comercial, econômica e geopolítica no Oriente médio. O interesse dos EUA na Arábia Saudita é também comercial e geopolítico. Estes fatores são determinantes para que a Arábia Saudita continue sendo um dos maiores aliados dos EUA no mundo árabe. No campo comercial, é de total interesse para o governo americano manter uma aliança comercial e política com potencial de garantir fornecimento de petróleo por muitas décadas. Não podemos desconsiderar que a Arábia Saudita possui a segunda maior reserva provada de petróleo do mundo, com 266 bilhões de barris de petróleo, sendo também a maior produtora de petróleo do Oriente médio. Não é razoável imaginar que o interesse político de manter a Venezuela e a Arábia Saudita, as duas maiores potências petrolíferas do mundo, sob seu comando e “supervisão”, seja apenas mera coincidência.
É importante perceber também que o interesse dos Estados Unidos no petróleo da Venezuela e da Arábia Saudita, não é apenas comercial, como já foi há cinquenta anos atrás, quando os EUA ainda possuíam reservas gigantescas. Hoje, a questão é estratégica, tem a ver com a manutenção do país enquanto potência hegemônica pós 2ª Guerra Mundial.4 Principalmente se considerarmos a ascensão econômica da China nos últimos trinta anos e a ameaça real de desbancar os EUA nos próximos quinze anos.
No campo político e estratégico-militar, não podemos ignorar a importância da “parceria militar” com o governo saudita. A base militar americana em território saudita foi fator determinante para a vitória dos Estados Unidos na Guerra do Golfo em 1991. Foi a partir da Arábia Saudita que os EUA desenvolveram sua estratégia militar para derrotar o Iraque, de Saddam Hussein, que havia invadido o Kuwait. Não podemos esquecer que a Operação “Tempestade no Deserto” para derrotar as tropas iraquianas dentro do Kuwait, foi toda ela articulada a partir da Arábia Saudita. Os mais velhos lembram, que esta foi a primeira guerra a ter transmissão direta pela TV.
“A questão militar em relação ao Reino saudita passou a ser uma das prioridades da política externa dos Estados Unidos. Uma base militar na Arábia Saudita não significa apenas prover a segurança para o centro administrativo petroleiro do país, mas também assegurar uma importante posição estratégica no Oriente Médio.”5
O Haiti é o país mais pobre do hemisfério ocidental, com mais de 60% de sua população vivendo na pobreza e 25% na extrema pobreza; com migração em massa e capitalismo. Porém, sem petróleo e mercado consumidor, o país não desperta qualquer interesse econômico, comercial ou de ajuda humanitária, para as potências imperialistas do primeiro mundo.
Não há dúvida que o problema não é humanitário; o que está em jogo são interesses do capital; o problema é garantir e ampliar acumulação de capitais num momento em que o capitalismo passa ainda pela sua pior crise econômica desde 1929! A tentativa de intervir na Venezuela é a expressão da luta de classes a nível internacional. De um lado, um percentual absurdo de 46% da população mundial vive abaixo da linha de pobreza e sofre para satisfazer suas necessidades básicas. Enquanto isso, uma parcela da população consome de maneira desequilibrada e não sustentável, tendo a posse de apartamentos, casa de veraneio, helicóptero, lancha, diversos carros na garagem e fazendo três ou mais viagens por ano.
“Segundo relatório divulgado, em 2017, pelo Banco Mundial, 3,46 bilhões de pessoas, ou 46% da população mundial, vivem com menos de 5,50 dólares por dia – a quantia limite para uma situação de pobreza em países de renda média-alta, como o Brasil.”6
Outros 20% da população mundial vivem em situação de pobreza extrema, com menos de U$ 1,90 dólar por dia. Isto significa mais de um bilhão e quinhentos milhões de pessoas vivendo na miséria, se considerarmos a população mundial atual de cerca de sete bilhões e seiscentos milhões de pessoas.
“Já a África subsaariana é a região com o maior número de pessoas vivendo na pobreza. Sua população quase duplicou entre 1990 e 2015, sendo que um dos maiores aumentos se deu entre as pessoas que vivem com menos de 3,20 dólares por dia.”6
Os EUA deveriam exercer de fato a democracia em seu país antes de criticar a democracia em outros países. Na última eleição presidencial, Trump assumiu a presidência sem obter a maioria dos votos, ferindo de morte o princípio básico de regimes democráticos, para definir o vencedor da eleição: “Para cada cidadão um voto”. Este princípio tem o papel de garantir que o vencedor seja o candidato que obtenha a maior soma de votos recebidos de cada eleitor. O candidato que receber mais votos, ganha a eleição! Simples e correto! Nos EUA, o país que se autoproclamou como o guardião da democracia no mundo, este princípio maior não prevalece. Na última eleição a candidata do Partido Democrata, Hillary Clinton, obteve 65. 853.516 votos (48,2%), enquanto o candidato do Partido Republicano, Donald Trump, obteve 62.984.825 votos (46,1%), ou seja, Hillary Clinton obteve quase 3 milhões de votos a mais que Trump e não levou a eleição! Resumindo: o país que se julga tão democrático, deu uma aula de como se deve fazer uma eleição não democrática.7
A Esquerda não é contra a intervenção na Venezuela somente por motivos ideológicos. Não concordamos que outros países, e muito menos ainda, um país imperialista, possa ter o direito de desrespeitar a soberania de outros povos se autoproclamando guardião do mundo. Defendemos a autodeterminação dos povos. Somente o povo venezuelano tem o direito de definir o seu futuro e determinar o que é melhor para seu país. Temos convicção que a intervenção, de caráter político para garantir interesses energéticos e com remédios econômicos neoliberais, só trarão mais prejuízos, desgraça e miséria para o povo venezuelano; além de reduzir a riqueza gerada com o petróleo, em melhorias para a população e transferir esta riqueza para as mãos de grandes grupos econômicos que atuam na produção de óleo e gás.
“A defesa da Venezuela contra o cerco imperialista é hoje o centro da luta de classes internacional. Aqueles na esquerda que não compreendem este desafio perderam a bússola antimperialista. A luta pelo poder em Caracas não é entre democracia e ditadura, mas entre independência ou colônia.”8
A posição contrária da Rússia e da China em uma eventual intervenção na Venezuela, não é por simpatia ou camaradagem a Nicolás Maduro. O interesse é também político, econômico, comercial e principalmente estratégico para seus projetos de longo prazo. Não é nada interessante para a China perder mercado consumidor para seus produtos. Afinal, a China é uma potência econômica, principalmente comercial, dependente de viabilizar grandes volumes de exportação para dezenas de países. Não é bom para a economia chinesa e consequente estabilidade política do governo chinês, a China, com uma população de 1 bilhão e 375 milhões de habitantes e com uma população economicamente ativa de mais de 1 bilhão de pessoas, começar a perder importantes mercados consumidores para exportar seus produtos.
Porém, para quem defende a hipótese socialista como opção ao capitalismo e a grande desigualdade no mundo, não pode esperar muita coisa vindo do atual governo venezuelano. O máximo que a boliburguesia – a burguesia bolivariana formada por oficiais militares, políticos que apoiam o governo, funcionários públicos do alto escalão e empresários ligados ao governo -, pode entregar é um capitalismo de Estado; cujos principais benefícios a serem alcançados são bem semelhantes ao estado de bem-estar social proposto pelos novos keynesianos, através do novo-desenvolvimentismo a partir da maior presença do Estado na economia, como forma de neutralizar parcialmente os estragos produzidos pelo livre mercado e sua total desregulamentação.
“O governo de Maduro é um governo burguês, apoiado em uma fração burguesa minoritária em formação, a “boliburguesia”. Não me parece muito polêmico, a não ser para alguém que tenha excessivas ilusões na retórica sobre o “socialismo do século XXI” que, depois de quase vinte anos no poder, os herdeiros do chavismo no poder já demonstraram que não têm qualquer pretensão de ir além do capitalismo, ainda que com forte regulação estatal. Mas a Venezuela tem um governo independente e é por isso, e não porque seja uma ditadura, que está sendo atacada.”9
Esta intervenção, caso aconteça, é puro oportunismo e estratégia comercial para atender interesses do grande capital. Mesmo se fosse preocupação com a população, ainda assim não justificaria a intervenção de outras nações.
Na verdade, esta “Operação Militar” travestida de “Ajuda Humanitária” articulada pelas forças reacionárias de diversos países liderada pelos EUA, faz parte do mesmo enredo do plano de desestabilização para tomada do poder na Venezuela. A primeira tentativa foi em 2002, através do golpe de Estado liderado pelo empresário Pedro Carmona. Logo após a implementação do golpe de Estado, uma revolta popular tomou conta das ruas de Caracas em apoio a Hugo Chávez. Ao mesmo tempo, centenas de oficiais leais ao governo, organizaram um contragolpe e reconduziu o presidente Hugo Chavez ao poder. O que está acontecendo hoje, é a utilização do plano “B”, da estratégia maior montada pelo plano de desestabilização do governo venezuelano iniciada em 2002. A intervenção atual não se dá, inicialmente, de forma direta. É uma intervenção executada de forma suave. Primeiro impõem a velha tática da desestabilização social por meio do desabastecimento de dezenas de produtos básicos vitais para a vida diária da população. Prossegue com a guerra midiática nos principais canais de televisão controlados por grandes grupos econômicos com objetivo de causar situação de pânico e jogar parte da população contra o governo. Outra vertente do plano se dá com tentativas de golpe através do parlamento venezuelano. Todas as ações têm claro objetivo de causar convulsão social para justificar a intervenção externa com a liderança dos EUA, o maior interessado em reconquistar a aliança com o governo venezuelano junto com seus aliados políticos. O principal intuito é reduzir a dependência de petróleo do Canada e do Oriente médio; e viabilizar a retomada de projetos industriais e de prestação de serviços públicos privatizados e desenvolvidos por grandes grupos econômicos com a garantia de mercado consumidor para seus produtos.
Não é de bom senso, em pleno século XXI, com todos os meios de comunicação alternativos disponíveis, imaginar que a versão da grande mídia capitalista, que é no mínimo suspeita para se posicionar sobre assuntos relacionados à produção e acumulação de capitais, seja a detentora da verdade definitiva. É preciso fazer uma análise a partir dos interesses geopolíticos, estratégicos, comerciais e principalmente dos principais fatores críticos para sustentar o capitalismo: assegurar a exploração da força de trabalho com a expropriação do trabalho excedente, manter e ampliar fontes de energia para a produção de milhões de mercadorias e mercado consumidor para garantir a circulação e aquisição dessas mercadorias que se transformam em produtos quando chegam ao mercado. Sem esses elementos essenciais, não existe capitalismo. Numa análise crítica marxista onde não se pode ignorar as contradições dos princípios que sustentam o sistema capitalista, não é possível abrir mão da categoria central da Totalidade. Não é razoável fazer esta análise considerando apenas a disputa política entre governos de esquerda e de direita. É essencial fazer uma leitura a partir da luta de classes, dos interesses que realmente estão em disputa. É óbvio que existem outros elementos, mas é preciso localizar o foco central de disputa para não nos deixarmos levar apenas pelas aparências; é preciso focar na essência dessa disputa. O que está em jogo é viabilizar acumulação de capitais da ordem de R$ trilhões de dólares; o que está em jogo é disputa ideológica para garantir a continuidade do sistema capitalista, que nunca esteve tão frágil como nestes últimos dez anos. O capitalismo já demonstrou, inclusive nos países mais ricos, industrializados e desenvolvidos do mundo, através de diversas crises econômicas nos últimos quarenta anos, sua total incapacidade para resolver os principais desafios em relação aos maiores problemas sociais e as maiores desigualdades no mundo.
Diante de todas estas fragilidades, diversas pesquisas de opinião (Gallup em 2018, YouGov, em 2017 e Pew Research Center em 2011), com jovens, homens e mulheres de 15 a 30 anos, revelam que aumentou de forma considerável o número de pessoas que têm uma visão positiva do socialismo. Qualquer um, que acompanha o noticiário internacional, percebe que o socialismo avança nos Estados Unidos.
“Segundo uma pesquisa do Gallup divulgada neste mês, mais norte-americanos que apoiam os democratas nos EUA veem o socialismo mais positivamente (57%) que o capitalismo (47%).”10
“Uma pesquisa da organização YouGov mostrou que a maioria dos norte-americanos da geração Y, também chamada geração do milênio, isto é, jovens entre 15 e 30 anos de idade, preferiria viver no socialismo e não no capitalismo.”11
“De acordo com uma pesquisa realizada pelo Pew Research Center nos Estados Unidos, aumentou o número de jovens entre 18 e 29 anos que têm uma visão positiva do socialismo. Quarenta e nove por cento dos entrevistados nessa faixa etária aprovam a corrente política, enquanto 43% têm uma visão negativa dela.”12
Com certeza, esta visão, das novas gerações, é uma preocupação para os órgãos de defesa americanos, como o Pentágono e o Departamento de Defesa, interessados em preservar o capitalismo. Não é por menos que diversos políticos conservadores veem fazendo discursos atacando o socialismo com objetivo de descontruir o avanço das ideias socialistas em vários segmentos da população americana. No resto do mundo não é diferente. No Brasil, o discurso central da Direita, durante a eleição presidencial do ano passado, foi todo pautado pelos ataques ao socialismo e às conquistas sociais e trabalhistas conquistadas nos últimos 30 anos. O foco da luta de classes, hoje, no Brasil, é a contrarreforma da Previdência social, que retira direitos e posterga aposentadorias da população mais pobre.
É isto que está em jogo hoje na Venezuela. O resto é teoria da conspiração para defender interesses de grandes empresas transnacionais dos países mais industrializados e que detêm grandes volumes de capitais acumulados.
Por que o governo americano não começa fazendo o dever de casa em vez de se preocupar com o governo de outros países. A pobreza nos EUA atinge atualmente quase 13% de sua população; isso representa 41 milhões de americanos vivendo na linha de pobreza. Quase 19 milhões de americanos vivem na miséria!
“Quase 41 milhões de pessoas, ou 12,7% da população, vivem em situação de pobreza, enquanto 18,5 milhões estão em situação de extrema pobreza, sendo que crianças representam um em cada três membros dessas populações vulneráveis, segundo o especialista da ONU. Os Estados Unidos têm a maior taxa de pobreza entre jovens entre todos os países industrializados, acrescentou.”13
Se o problema para a intervenção da Venezuela é mesmo humanitário, qual país irá liderar a invasão, de caráter humanitário aos EUA, para acabar com a miséria e a pobreza do país “mais rico” do mundo? São mais de 60 milhões de pessoas, em situação de pobreza ou extrema pobreza, sobrevivendo nos EUA. Isto representa quase duas vezes a população da Venezuela de 32 milhões de habitantes. O grande problema dos Estados Unidos é que o país é rico, porém, devido a injusta distribuição do produto gerado pelo trabalho, existe uma enorme concentração de renda, desemprego e trabalho precarizado. Por isso, uma grande parcela de sua população é muito pobre!
A única intervenção que a Venezuela precisa neste momento é de caráter político. O que precisa acabar na Venezuela é o embargo econômico, imposto pelos EUA e seus aliados políticos. O fim do boicote comercial permitiria a normalização das importações de milhares de produtos feitos pelo governo da Venezuela e diversas empresas privadas venezuelanas. A ajuda humanitária através de organizações internacionais como a Cruz Vermelha, Caritas Internacional, MSF – Médicos sem Fronteiras, ONU/UNICEF e outras, deve ter caráter provisório; até que se regularize a situação imposta pelo embargo econômico e a tentativa de Golpe. O problema da Venezuela não é de democracia, não é de crise humanitária. O problema da Venezuela é político. O que está acontecendo na Venezuela é a tentativa de mais um Golpe de Estado implementado pelas principais potências imperialistas, sob comando dos EUA, para assumir o governo venezuelano e garantir acumulação de capitais para grandes grupos econômicos e salvar mais uma vez uma grave crise estrutural do capitalismo agonizante.
Marco Antonio Coutinho, de Niterói, RJ – Esquerda Online
Referências bibliográficas e citações
1 É o Capitalismo, Estúpido! Fernando Alcoforado.
2 Zizek, Slavoj. Primeiro como tragédia, depois como farsa. Pg. 26. Boitempo Editorial.
4 Fuser, Igor. Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP). O petróleo e a política dos EUA no Golfo Pérsico: a atualidade da Doutrina Carter. Artigo apresentado no 5º Encontro da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP), realizado em Belo Horizonte, de 26 a 29 de julho de 2006.
5 Devlin Tavares Biezus. Mestranda em Ciência Política e graduada em Relações Internacionais. Integrante do grupo de pesquisa Conflitos no Oriente Médio pelo Centro Universitário Curitiba. [https://medium.com/@devlinbiezus/eua-arábia-saudita-o-que-explica-essa-aliança-e70fd6476ffc]
8 Artigo “Nenhuma vacilação da esquerda diante da ofensiva imperialista na Venezuela. Valério Arcary. Professor titular aposentado do IFSP. Doutor em História pela USP). Fonte: https://esquerdaonline.com.br/2019/02/13/nenhuma-vacilacao-da-esquerda-diante-da-ofensiva-imperialista-na-venezuela/
9 ibid.
10 https://www.vice.com/pt_br/article/7xqmea/capitalismo-fez-jovens-preferirem-socialismo-eua
13 02/06/2018. https://g1.globo.com/mundo/noticia/pobreza-se-aprofunda-nos-eua-sob-governo-trump-diz-especialista-da-onu.ghtm.