É inédito. Greves e manifestações de estudantes, por todo o mundo, em defesa do clima. Fala-se em centenas de milhares de estudantes que, da Suécia às Filipinas, passando por países como o Uganda, saíram à rua, mobilizados em prol da defesa do ambiente, tão vilipendiado pelo sistema capitalista.
Os estudantes de todo o mundo, incluíndo os portugueses, inspiraram-se na estudante Greta Thunberg, natural de Estocolmo, na Suécia, que começou a fazer greve todas as sextas-feiras (#fridaysforfuture), em frente ao parlamento sueco, desde 20 de Agosto de 2018, como forma de protesto contra a forma como os governos de todo o mundo estão a falhar na transição energética. São sobretudo estudantes do secundário, embora também os universitários tenham marcado presença. As jovens mulheres eram as mais aguerridas, apoiadas também por grupos LGBT.
A mobilização é um passo fundamental no alcance da transição energética. Pela sua urgência. Mas também porque a história da humanidade nos diz que o desenvolvimento se dá através dos choques entre os interesses dos de baixo, em movimento, contra os interesses instalados das elites que nos governam.
Não conseguiremos convencer, com apelos morais, a grande indústria automóvel, as gigantescas indústrias petrolíferas, nem a grande finança de que têm de abdicar dos seus lucros, provenientes dos combustíveis fósseis, em defesa do ambiente. Façamos todos como os estudantes e deixemo-nos de ilusões. A evidência está no Acordo de Paris que, liderado pelos governos das maiores potências mundiais, simplesmente não tem como avançar, pois os maiores produtores de petróleo (EUA, Rússia, Arábia Saudita ou Kuwait), chefiados pelos sectores mais retrógrados da sociedade, não reconhecem sequer a existência do aquecimento global. É fácil concluir que as elites capitalistas, entre as quais, as europeias, desvalorizam o problema ambiental, ainda para mais num momento em que a crise económica faz crescer os nacionalismos e os setores mais reacionários das elites, negacionistas dos problemas ambientais. Esta é a conclusão a que a juventude já chegou, tentando agora incidir sobre quem nos governa.
Nas manifestações em Portugal, a juventude mostrou-se ávida de informação, procurando ler tudo o que estava disponível, a nível de panfletos, enquanto gritavam palavras de ordem como: “Senhor ministro, diga por favor, porque é que é inverno e ainda faz calor”, “Não há planeta B”, “Oh Costa, escuta, estudantes estão em luta” e “Estudantes unidos, jamais serão vencidos”.
Em Lisboa, estiveram presentes mais de 4 mil estudantes, com muita garra. Uma nova geração que se dispõe a lutar contra as políticas do sistema capitalista que, não só incita ao consumismo desenfreado e nocivo, como não respeita os acordos de limitação de emissão de gases nocivos.
Em Portugal, o Governo Costa não está inocente no agravamento dos problemas ambientais. Começando pela tentativa de destruição da nossa costa com a exploração petrolífera, passando pela falta de controlo e punição das indústrias que poluem os nossos rios, até ao possível Aeroporto do Montijo, planeado para uma das maiores zonas de nidificação europeia de aves, o Governo Costa evidencia a falta de qualquer plano para o ambiente. Basta, a transição energética tem de ser imediata! Não existe planeta B!
Até 2035, 100% da energia consumida nas casas e nos escritórios tem de provir de fontes renováveis e todos os veículos que circulem nas estradas europeias têm de ser movidos a eletricidade. É necessário investimento em transportes públicos e numa alteração da dieta alimentar, passando a consumir menos carne e a fazer menos desperdício alimentar. Para compensar as emissões de gases de efeito de estufa que existirem, é necessário um investimento sério na floresta. Este processo terá a capacidade de criar milhares de empregos em setores ambientalmente sustentáveis.
Como diz Greta Thunberg, “se as soluções dentro deste sistema são tão impossíveis de encontrar, então talvez tenhamos de mudar o próprio sistema”.