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Um dia internacional da mulher que fez história em Portugal


No dia 8 de Março, mais de uma centena de países e em mais de uma dezena de cidades em Portugal, houve uma adesão massiva à Greve Internacional de Mulheres. As mulheres que se organizaram, construíram e reivindicaram este movimento internacionalista conseguiram encher as ruas, ocupar as praças e gritar em uníssono contra o machismo, a violência e a opressão quotidianas a que estamos sujeitos.

Foi um dia histórico, que resulta de vários anos de luta e mobilização, que já em 2018 nos tinha deixado boquiabertas com a greve no Estado Espanhol com mais de 5 milhões de pessoas nas ruas mas que este ano se multiplicou e fortaleceu. As grandiosas mobilizações deixam evidente que os problemas de machismo, discriminação e desigualdade não estão resolvidos e não nos vamos calar. O 8 de Março é um dia de luta, mas a nossa luta e resistência se faz também em todos os outros dias do ano. Ontem a mensagem que deixámos para o mundo foi – Estamos fartas! Queremos mudanças! E não arredamos pé.

Por cá falam-se em 30 mil pessoas nas ruas portuguesas. Quem participou das manifestações, quem fez greve, que acompanhou as notícias entendeu que éramos muitas/os. E muitas/os não puderam vir. Os casos de feminicídio, as desigualdades estruturais, a precariedade, o assédio moral e sexual, a dupla e tripla jornada de trabalho, a falta de serviços públicos de qualidade trouxeram para as ruas milhares de pessoas (muitas que nunca antes tinham feito greve ou participado em manifestações). A vitória de ter cinco sindicatos a convocar greve deve ser assinalada e deve servir de exemplo para as centrais sindicais. A CTGP e a UGT têm que escutar as mulheres que são cerca de 50% da população ativa em Portugal e começar a colocar as suas reivindicações particulares em cima da mesa. Não são só lutas de “mulheres”. Merecemos respeito e merecemos segurança, igualdade de oportunidades e apoio nos nossos locais de trabalho.

Em Lisboa António Costa tentou surfar a onda feminista. E caiu por terra. As bandeiras socialistas foram obrigadas a recuar e a retirar-se da manifestação e Costa foi recebido com apitos, gritos e palavras de ordem sobre a justiça, a banca e a resistência feminista. É vergonhoso que o governo do PS, que pouco ou nada faz para melhorar a vida das mulheres (especialmente as que trabalham, as pobres, imigrantes, negras, LGBTs), se tente projetar numa manifestação que na verdade, é contra este governo. Em ano de eleições, com mais de uma dezena de vítimas de violência machista, Costa tenta limpar a sua imagem. Rejeitamos este aproveitamento político, denunciamos a postura do primeiro-ministro e do governo do PS e exigimos medidas efectivas.

Não venham para as ruas gritar do nosso lado quando no parlamento não legislam a nosso favor. Não ocupem as ruas connosco se na altura de investir preferem a banca, as PPPs e o FMI ao investimento em programas nacionais de combate ao machismo.

Ganhem vergonha!

Quem se coloca ao lado de Costa e acha que não podemos gritar as nossas palavras de ordem para que nos ouçam, é também culpado de permitir a continuidade do status quo. Os partidos com assento parlamentar, a esquerda que ocupa o Parlamento, tem responsabilidade também. As ruas ontem mostraram-nos que estamos insatisfeitas. Não nos vendam as migalhas concedidas pela Geringonça como grandiosas vitórias.

Exigimos a prisão efectiva dos agressores! Fim das penas suspensas!

Demissão e expulsão do Neto Moura!

Exigimos uma rede de creches públicas de qualidade!

Exigimos um programa nacional de combate ao machismo, com formação de equipas especializadas capacitadas para acompanhar os casos de violência doméstica e de género!

Dia 8 de março de 2019 ficará na história como a primeira greve efetiva no dia internacional da mulher. Para o próximo ano contamos com mais sindicatos do nosso lado! E todos os dias construímos a luta para destruir este sistema podre que nos oprime e mata, para erguer uma sociedade justa, igualitária e livre!

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