Os enfermeiros apenas exigem investimento no Serviço Nacional de Saúde (SNS), investimento esse que os sucessivos Governos PS, PSD/CDS-PP têm vindo a destruir, nos últimos anos, em função de uma paulatina privatização. Em 2017, de acordo com o Pordata, os dados da execução orçamental mostram que a despesa na Saúde voltou a diminuir, face a 2016, de €8,81 mil milhões para €8,76 mil milhões, quando em 2010, antes da chegada da Troika, a despesa com o SNS representava €9,8 mil milhões. Já para não falar nas Parcerias Público Privadas (PPPs) da Saúde que, só em 2017, custaram €500 milhões ao Estado.
Descongelamento da progressão nas carreiras, mais contratação de enfermeiros para o SNS, combate à precariedade através da limitação do recurso a contratos a termo, estruturação da carreira de enfermagem, um vencimento base digno e uma reforma com uma idade digna são as principais reivindicações feitas pelos enfermeiros.
Os enfermeiros lutam pela valorização da profissão, pela qualidade dos serviços públicos prestados e pela qualidade das condições de trabalho de quem os presta. Lutam pelo país e pelo nosso SNS público e acessível a todos os que dele precisem. Estamos completamente solidários com a sua luta.
Face a estas reivindicações, completamente basilares, o Governo Costa, como já vem sendo hábito, opta por esmagar o direito à greve e responde com uma requisição civil. Aquilo que o Governo PS, apoiado por BE e PCP, tem de fazer é aceitar as reivindicações dos profissionais que tudo têm feito para manter o nosso SNS em funcionamento.
Mas não, o Governo PS prefere tirar da boca dos enfermeiros para alimentar a especulação e os privilégios dos banqueiros. Segundo notícias de hoje, este ano, serão injetados mais de €1.000 milhões no Novo Banco. É precisamente isto que o défice 0% significa: humilhação para quem trabalha e privilégios para as elites que se dedicam à especulação e corrupção.
Com uma direção sindical e uma Ordem profissional inaptos e comprometidos com a direita hipócrita, os enfermeiros foram lançados na fogueira da descredibilização. Uma das profissões que mais tem dado pelos nossos serviços públicos, sendo muitas vezes empurrada a emigrar por falta de condições de vida, é agora enxovalhada pelos media, pelo Governo, pelo Presidente da República e pela direita, influenciando erradamente a opinião pública como forma de isolar e subjugar pela força aquela classe profissional. Costa não tem pejo algum em apelidar de “selvagem” a greve de uma categoria profissional que tem sido tratada de forma selvática, nas últimas décadas, incluindo pelo actual Governo.
Este é um coro a que, pelos vistos, nem a esquerda escapa, uma esquerda ao sabor da opinião pública e daquilo que isso pode representar em votos, num ano de todas as eleições. Jerónimo de Sousa volta a atacar o fundo de greve dos enfermeiros como critério para avaliar a falta de sacrifício e dedicação à luta dos enfermeiros. Esta é a forma que o PCP encontrou para ir desgastando mais uma greve justa, com métodos corretos e um fundo correto mas que passa por fora do seu domínio. Para o PCP não basta que a greve seja justa, tem de passar pelo seu férreo controlo. Já Catarina Martins apela ao “bom senso de ambas as partes” e denuncia as “sucessivas novas reivindicações” dos enfermeiros. Esta é uma posição que não compromete totalmente as expectativas da sua base eleitoral, enquanto se esquiva de um choque frontal com a opinião pública. No entanto, é uma posição que nada favorece a luta dos enfermeiros.
Devemos debater quais as condições dos nossos hospitais e centros de saúde, quais as suas condições de trabalho, para onde está a ser canalizado o dinheiro público, quais as exigências dos enfermeiros e as propostas do Governo, assim como o tipo de serviços mínimos que devem ser exigidos. A resposta a estes aspetos não é satisfeita por uma requisição civil, pela força do Estado. A resposta a todas aquelas questões só poderá ser encontrada através da luta, quer seja dos enfermeiros, dos médicos, dos assistentes operacionais, dos professores, dos estivadores ou de qualquer outro sector profissional.
A esquerda parlamentar, BE e PCP, deveria estar sim empenhada na unidade dos setores em luta, muitos deles públicos, com reivindicações semelhantes: salários dignos, reconhecimento, descongelamento e progressão nas carreiras. No fundo, a esquerda deveria olhar para a luta dos enfermeiros como a vanguarda da defesa dos serviços públicos de qualidade. É preciso seguir o exemplo dos estivadores, dos enfermeiros e dos “coletes amarelos” franceses e vir para a rua em força. Só encostando o Governo às cordas é possível obter vitórias. O BE e PCP, a CGTP, todo o movimento sindical e movimentos sociais, não podem mais continuar com lutas moderadas e divididas. É preciso unir as lutas.
A esquerda, em vez de apoiar o Governo no Parlamento, tem de colocar milhares na rua para exigir que o PS faça o que prometeu e devolva todos os direitos roubados, assim como o investimento público. É possível fazer uma manifestação nacional contra a precariedade e pelo aumento dos salários e reconhecimento de todos os direitos roubados pela direita! A luta dos enfermeiros tem todo o nosso apoio e solidariedade!