Editorial – 24 de Janeiro de 2019
Todos sabemos que ventos sopram pelo mundo. Em Itália, um governo com ministros de extrema-direita está determinado em combater o acolhimento de refugiados e imigrantes, seres humanos que fogem do horror da guerra, da miséria e da perseguição política – efeitos da permanente intervenção das potências imperialistas em África e no Médio-Oriente. Em França, Le Pen e o seu partido de extrema-direita apresentam intenções de voto superiores a 30%. Na Hungria, na vizinha Espanha (Andaluzia), no Brasil, e, sobretudo, nos EUA, com a Administração Trump determinada em erguer muros na fronteira com o México e a ameaçar invadir a Venezuela, tudo com o objetivo de aprofundar o seu domínio sobre a América Latina.
Em Portugal, os ventos internacionais começam a chegar. Temos um Ventura, candidato a Bolsonaro português, racista assumido, levado ao colo todas as semanas, como comentador de TV, que pretende agora projetar, no país, as suas próprias frustrações sob a roupagem de um suposto programa político. Temos os media a projetar fascistas, condenados pelo envolvimento no assassinato de um jovem negro, sob a ingénua justificação de que a democracia deve dar palavra aos inimigos da democracia.
É neste contexto que, após a selvática violência policial no Bairro da Jamaica, e de a resposta se ter feito sentir através de uma manifestação espontânea e pacifica, de jovens negras e negros, novamente alvo da brutal repressão policial, em pleno centro de Lisboa, que a polarização social se vai fazendo sentir. A extrema-direita pavoneia o seu oportunismo e tenta agora capitalizar aquela polarização, apoiando-se nas concepções mais racistas e retrógradas da nossa sociedade.
A extrema-direita, não tendo conseguido avançar nas últimas semanas, fantasiada de “coletes amarelos”, personifica agora os seus alvos e ataca diretamente a associação de combate ao racismo e à violência policial, SOS Racismo, e um dos seus dirigentes, Mamadou Ba, com ameaças de morte. Para além disso, convoca uma manifestação provocatória para amanhã, dia 25 de Janeiro, em frente à sede nacional do Bloco de Esquerda, em Lisboa.
Não alinharemos nesta nova provocação da extrema-direita, que se vai fantasiando dos mais variados disfarces, ontem de “coletes amarelos”, amanhã de “fardas de polícia”. Apoiamos todas as iniciativas que venham a surgir unitariamente, sob diversas formas, de vários movimentos de esquerda e anti-fascistas, de protesto contra a discriminação racial e a violência policial. Aqui o BE, o PCP e, sindicalmente, a CGTP, como organizações maioritárias, têm uma particular responsabilidade no apoio e desenvolvimento de tais iniciativas.
Não daremos tréguas à extrema-direita. Sabemos o que foram 48 anos de ditadura fascista, em Portugal. E sabemos que, naquela que é hoje a sede nacional do Bloco de Esquerda, há 30 anos, um criminoso fascista assassinou, à facada, um operário, o Zé da Messa, pelo simples facto de ser de esquerda.
O MAS está e estará na primeira linha de combate ao neo-fascismo, em unidade de ação com todas as forças e movimentos dispostos a combater o fascismo. Urge uma nova sociedade.
Todos/as à manifestação contra a brutalidade policial e o racismo institucional, amanhã (dia 25), às 16h, frente à Câmara Municipal do Seixal.