Fim à brutalidade policial racista

 

Editorial – 22 de Janeiro de 2019

No passado Domingo, tornou-se público um vídeo que mostra um caso de brutalidade policial racista, no Bairro da Jamaica, no Seixal. Nesse vídeo, que se tornou viral, vê-se polícias a atacar violentamente habitantes do Bairro da Jamaica, nomeadamente mulheres e idosos. O vídeo que comoveu parte da sociedade portuguesa é a demonstração da repressão policial que sofrem constantemente os moradores negros de bairros periféricos de Lisboa.

A maioria da imprensa toma partido e tenta agora defender os agentes da polícia quando a sua atuação é obviamente indefensável. Nada do que aconteceu antes daquela filmagem justifica as agressões sobre aquelas pessoas. O que ali aconteceu foi um crime racista e um ataque aos direitos humanos.

Ontem, depois dos acontecimentos do Bairro da Jamaica, muitas pessoas saíram à rua contra o “racismo” e a “violência policial”. O protesto pacífico, dirigido fundamentalmente por jovens negras e negros, partiu do Terreiro do Paço, em frente ao Ministério da Administração Interna, onde estiveram concentrados, até ao Marquês de Pombal e depois desceu. No fim da manifestação, na Avenida da Liberdade, a polícia atacou os jovens com bastonadas e tiros de balas de borracha. Pelo menos um dos jovens foi atingido com um tiro na cara e quatro outros foram detidos. A polícia só agiu assim porque estava perante um protesto anti-racista dirigido por jovens negros.

A maioria da imprensa, que ignorou os protestos durante toda a tarde, rapidamente se colocou do lado da polícia depois dos confrontos, dizendo que a polícia foi apedrejada e que só depois atacou os jovens, quando tudo demonstra o contrário. Na verdade, a polícia e a imprensa tentam agora desacreditar a indignação contra o racismo, depois dos graves acontecimentos do Bairro da Jamaica. Os protestos de ontem e a indignação pelos acontecimentos de Domingo são totalmente justos, pois não podemos continuar a ter uma polícia profundamente racista e que age de forma brutal sobre as pessoas.

Ao longo das últimas décadas, são vários os casos de violência policial racista, incluindo assassinatos de jovens negros e nunca um polícia foi condenado por isso. São diversos e demasiados os relatórios de instituições internacionais a denunciar o racismo e a brutalidade policial em Portugal. Há até denúncias de infiltração da extrema-direita nas esquadras. O Governo PS, apoiado pelo BE e PCP, nada tem feito para mudar esta situação.

O Estado português continua a negar o racismo no nosso país e a igualdade que é frequentemente propagandeada nunca existiu. Ser português negro ou cigano, é, até hoje, aos olhos do Estado, ser menos português, ser menos humano. Neste momento, decorre o julgamento dos polícias da esquadra de Alfragide que atacaram e torturaram jovens da Cova da Moura. É preciso que estes agentes sejam efectivamente condenados e que se assuma um combate frontal ao racismo estrutural nas esquadras portuguesas e no resto das instituições do Estado.

Hoje, estamos perante uma nova geração de negras e negros que reivindicam uma verdadeira igualdade e a sua revolta é totalmente justa. É a revolta de quem sofre racismo diariamente. É uma geração que sofre brutalidade policial, desigualdade no acesso à educação, justiça, habitação e saúde, a quem lhes é negada a história e que, muitas vezes, apesar de cá ter nascido, não tem acesso à nacionalidade portuguesa. Esta é uma geração que quer mudar a nossa sociedade lutando por um país sem racismo.

 Estamos solidários com os moradores do Bairro da Jamaica, vítimas de brutalidade policial e com os jovens negros atacados pela polícia na manifestação de ontem, contra o racismo!

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