As casas das Repúblicas de Coimbra degradam-se

As Repúblicas de Estudantes de Coimbra fizeram parte da Candidatura da Universidade de Coimbra a Património Mundial da Unesco em 2012. Existem há séculos, algumas das que ainda resistem são dos anos 50 do séc. XX, tiveram e têm um papel social, cultural, acadêmico, e político. Foram a vanguarda do movimento republicano, da crise Acadêmica de 62 e 69, da luta contra a guerra colonial, contra as propinas, contra a passagem da UC a fundação. São um pólo de resistência face à elitização do Ensino Superior, e à crise imobiliária que assola as grandes cidades e expulsa os trabalhadores e estudantes. Mas desde o reconhecimento como património a preservar, não houve nem um cêntimo de qualquer organismo do Estado para as apoiar, arranjar ou comprar os edifícios (a mais antiga, está num edifício do séc. XVI!). A única lei que saiu do parlamento para as tentar salvar da Lei do Arrendamento (NRAU), foi uma que empurra a responsabilidade para os municípios e que não tem sido suficiente para evitar os despejos e aumentos astronômicos de renda, neste caso sem obras nenhumas. É uma hipocrisia tremenda. O Estado Português quer das Repúblicas o mesmo que quer dos bairros típicos de Lisboa e do Porto: fachadas bonitas para os turistas fotografarem. Se lá mora alguém ou não, é irrelevante. O Solar Residência dos Estudantes Açorianos, fundado em 1962, foi aquela onde eu tive a honra de viver, crescer, e lutar pela sua existência e de toda a comunidade das Repúblicas, e que continuamos hoje, infelizmente, ainda a lutar. Esta semana saiu a notícia que a banheira da república onde vivi caiu de um andar para outro e que a casa se encontra em risco de ruína[1]. É urgente que, mais uma vez, o Município de Coimbra tome posse administrativa da casa, e faça as obras urgentes que a senhoria se recusa a fazer, mesmo com um aumento de 1300% de renda, depois de 50 anos de negligência. Mas o Governo também tem de intervir para que todas as Repúblicas tenham o futuro assegurado, e não apenas mais uns meses. Não podemos continuar à espera, nem continuar a confiar em promessas vazias. Salvar as Repúblicas de Coimbra, e voltar a ter um Movimento Estudantil combativo e independente dos partidos do governo, são duas tarefas inseparáveis.

Artigo de Igor Constantino

Anterior

Vistos “green” ou empregos para o clima?

Próximo

CGD: os verdadeiros ladrões são os banqueiros e a elite que os rodeia!