A luta dos Estivadores e dos Professores: Uma polémica com Francisco Louçã

Lemos nas redes sociais um post de Francisco Louçã (FL) escrito na sua página pessoal (26 de Novembro) com o seguinte título “Do que os estivadores ou os professores bem precisam é de eleições gerais antecipadas?”[1] . Pretendemos polemizar fraternalmente com o conteúdo do seu texto e utilizar um tom diferente do oponente que nos pareceu demasiado crispado.

FL começa por argumentar que a austeridade não saiu da Lei laboral porque o Governo é exclusivamente do PS, tentado desta forma retirar qualquer tipo de responsabilidade ao BE e PCP. No entanto, é o próprio BE e PCP, inclusive com outdoor nas ruas que reivindicam a responsabilidade pelas curtas medidas de distribuição de rendimentos, dos sucessivos Orçamentos do Estado (OE´s) que ajudaram a aprovar desde 2015. Tão curtas que os salários não saíram da estagnação. Apesar do evidente, FL que é um dirigente histórico da esquerda em Portugal e um intelectual hábil, tenta demonstrar que as medidas “más” se devem ao Governo do PS, e as medidas “boas” à Geringonça, ou seja, ao BE e PCP. Mas sejamos claros e sérios: O actual Governo PS só existe porque há geringonça. Ou terá o PS aprovado todos os seus Orçamentos de Estado, permitindo a governação mais estável das últimas décadas, sem os partidos à sua esquerda?

FL utiliza também o exemplo da luta e das reivindicações dos estivadores e professores para retirar uma conclusão ou um raciocínio que assenta num único ponto: Perante os ataques do Governo PS aos estivadores e professores não há muito a fazer a não ser esperar pelas eleições daqui a um ano e votar…BE.

Achamos que essa é uma estratégia equivocada porque demonstra falta de confiança na luta dos trabalhadores, neste caso Estivadores e Professores. Na nossa opinião este método de raciocínio e actuação é que acaba por poupar o PS e assim reforça-lo. A forma mais fácil de denunciar o PS é através da mobilização dos trabalhadores e das suas exigências e reivindicações. Parece-nos que FL utiliza um raciocínio apenas por dentro das instituições e além disso com uma perspetiva errada.

Senão vejamos, FL utiliza a perspetiva de uma possível maioria absoluta do PS, situação que não é garantida em nenhuma sondagem, como argumento para justificar a contenção do PCP e BE em relação à actuação do Governo PS no Porto de Setúbal, à não reposição integral do tempo de serviço dos professores e à aprovação do OE19.

Nós pensamos pelo prisma oposto, o não fazer nada em nome da estabilidade da Geringonça tem como grande beneficiário o PS e aí sim poderá ser possível que este chegue à maioria absoluta. O desgaste do PS e a forma de impedir que tenha maioria absoluta é precisamente demonstrar a sua verdadeira face, como tão bem fizeram os estivadores no Porto de Setúbal.

Votar contra o OE19 como a Catarina Martins disse que faria caso não houvesse dinheiro para os professores[2], daria mais força às lutas e permitiria que se conquistasse mais. O mesmo relativamente a uma moção de censura na sequência do que se passou em Setúbal. A actual política da esquerda, de não beliscar o PS, permitiu ao António Costa passar dos 32% nas eleições de Outubro de 2015 para os cerca de 40% nas sondagens e infelizmente não se vê um reforço político à esquerda do PS. Porque é que FL considera então que esta política é a melhor para retirar a maioria ao PS? Os números indicam o oposto.

Além disto, a tática de não encostar o PS à parede, de não ameaçar a estabilidade, já foi realizada com os professores e como sabemos não resultou. Então há uma pergunta que inquieta: Porque é que FL propõe o mesmo para os estivadores?

Por último, importa dizer que nós não somos apenas por um confronto maior com o PS, temos uma proposta alternativa. Defendemos a importância de unir as lutas e que estas se concretizem numa grande mobilização nacional contra a precariedade, os baixos salários e o assédio no trabalho. Achamos que uma esquerda forte, fortalece-se nas lutas e faz, no parlamento, o eco das suas reivindicações como forma de voltar a fortalecer as lutas e alcançar vitórias. Essa é a esquerda que falta, particularmente no parlamento. Este é o caminho para se conformar uma alternativa governativa de esquerda, independente do PS e da direita. Sem isto, seguindo os conselhos de FL, ficamos de onde nunca saíamos: reféns do papão do regresso da direita ou da maioria absoluta do PS, sempre agarrados ao “mal menor”. Já experimentamos o “mal menor” que FL propõe e significa precariedade nos portos e roubo do tempo de trabalho nas escolas.

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