OE 2019 aprovado, na generalidade, com os votos do BE e PCP. De que nos serve esta política?

Que a direita tem apresentado uma posição política, completamente, hipócrita já sabíamos. Neste Orçamento do Estado (OE2019), aprovado, na generalidade, no dia 31 de Outubro, voltaram a colocar-se numa situação ridícula.

Ver o CDS-PP ou o PSD a votar contra o OE2019, apresentado pelo actual Presidente do Eurogrupo, Mário Centeno, só pode ser uma brincadeira. Um OE feito à medida de Bruxelas, com défice quase 0% à custa da degradação contínua dos serviços públicos é o sonho dos Governos da direita, de Passos Coelho e Paulo Portas. Com um OE que garante pagamentos antecipados ao FMI, que pagará um serviço da dívida exorbitante de quase €8 mil milhões, mais €1,8 mil milhões em PPPs, como é que PSD e CDS-PP votam contra?

Um OE que quase não belisca o roubo institucionalizado que a EDP, agora privatizada, impõe aos seus consumidores (todos nós), um OE que volta a propor uma carga fiscal record sobre os salários e o consumo e a direita vota contra o OE?

A direita apenas vota contra, porque sabe que vem aí um ano cheio de eleições, pelo que querem fazer-se passar por uma oposição que, na verdade, não são. A estratégia é capitalizar, pela direita (qual Bolsonaro), os sectores da sociedade que vão sentido algum descontentamento com um Governo que se diz de “esquerda” mas que governa de acordo com os interesses das elites da UE e do país.

Aqui chegados, é altura de uma análise crítica à nossa esquerda.

Temos quatro OE, do actual Presidente do Eurogrupo, aprovados e não existe ninguém que denuncie a subserviência aos interesses da UE, de Merkel e da direita reacionária da Europa?

Um OE que aumenta as verbas para as operações militares da NATO, a pedido de Trump, e o BE, o PCP, os Verdes e o PAN votam a favor, só porque lhes foi concedida a oportunidade de regatear meia dúzia de trocos para distribuir aos respectivos eleitorados?

Como por exemplo, os miseráveis 2 anos e 9 meses de carreira que o Governo diz reconhecer aos professores, quando estes justamente reivindicam os 9 anos, 4 meses e 2 dias de carreira congelada, ou mais um ínfimo aumento do salário mínimo nacional e das pensões, ou a redução de €200, anuais, nas propinas do ensino superior público (quando elas deviam ser zero). Não passou pela direcção de nenhum destes partidos a hipótese de recusar o actual OE?

Sabe-se que o Governo vai gastar centenas de milhões de euros, uma vez mais, com os veículos financeiros do ex-BPN (!), com os bancos entretanto privatizados, como o Novo Banco, e que, no seu conjunto, são quantias muito superiores ao descongelamento parcial das carreiras do conjunto dos funcionários públicos abrangidos. Como é que as direcções de BE e PCP pactuam com esta política?

A consequência desta política está à frente dos nossos olhos, por todo o mundo. Não existindo uma esquerda determinada em romper com os interesses das elites dominantes, existirá uma direita e extrema-direita para o fazer. Quando a Assunção Cristas, no próximo ano, passar a segundo partido do espectro político do país, quando Santana Lopes ou André Ventura, começarem a meter os pés no Parlamento, quais Bolsonaros anunciados, a esquerda parlamentar vai carpir mágoas sobre as responsabilidades que não assumiu em devido tempo.

Historicamente, foram sempre os governos da social-democracia, de uma esquerda que teima em aplicar os projectos da direita ou de uma outra esquerda que renunciou à revolução social, que abriram (mesmo que o não desejem) o caminho ao crescimento da direita e da extrema-direita.

Estas duas direitas, a “normal” e a extrema, não governarão ainda o país a partir de Outubro de 2019, mas quando um Governo Costa II, apoiado pela capitulação permanente do BE e do PCP passar a destilar austeridade mais evidente que a actual, então a direita mais retrógrada tem muitas hipóteses de governar o país.

Que o exemplo do Brasil nos ilumine. Lá, foram os 14 anos de Governos PT, a governar para as elites brasileiras e internacionais, que levaram agora um neo-fascista ao poder. Foi também a capitulação de uma “Refundação Comunista”, em Itália, aos ditames da actual UE (partido esse, sempre muito aplaudido nos Congressos do BE), que abriu as portas aos que agora governam o país (Movimento 5 Estrelas e Liga), fechando a Itália a milhares de seres humanos que fogem da guerra e da fome.

Devemos continuar a seguir a política das elites da UE, como até aqui?

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