Desde a semana passada que se tem registado alguma turbulência na Geringonça. Esta crise já fez Marcelo Rebelo de Sousa lançar o aviso de que uma “crise política envolvendo o orçamento é indesejável”. António Costa rejeitou as críticas do BE e PCP dirigidas à obsessão com o défice, dizendo que o Programa de Estabilidade (PE) não altera qualquer tipo de compromissos assumidos.
Vamos por partes, o PS recuou, novamente, nos compromissos assinados com o BE e PCP, agora relativamente às pensões, na segunda fase de despenalização das longas carreiras contributivas. Este recuo gerou críticas da parte do BE e voltou a demonstrar de que lado está o PS que acaba sempre por priorizar os compromissos com a UE, como a obsessão do défice em detrimento do investimento nos serviços públicos, entre os quais, a Saúde.
O PE apresentado e aprovado, na semana passada, em Conselho de Ministros foi, na verdade, o que agitou mais os ânimos. Isto porque no PE é revisto em baixa as metas do défice para 2018 e 2019. Em Outubro passado, o Governo entregou o Orçamento do Estado na Assembleia da República, e o Executivo comprometeu-se com um défice de 1,1% do PIB. Agora, no PE que quer enviar para Bruxelas, este mês, o Governo prepara-se para assumir uma nova meta para o défice de 0,7% do PIB para 2018 (cerca de 800 milhões de euros abaixo do inicialmente previsto). E para o défice de 2019 revê em baixa em uma decima de 0,3% para 0,2% do PIB. O Governo PS quer agradar ainda mais à UE e ir mais longe nas metas inicialmente estabelecidas. Afinal, não foi só Passos Coelho que diz demonstrar que sabe obedecer. Para António Costa e Mário Centeno não basta serem “bons alunos”, querem ser “os melhores alunos” a seguir o plano da UE.
BE e PCP limitam-se a lançar avisos, a fazer ameaças, mas acabam por ir aceitando os sucessivos Orçamentos do Estado (OE) e as decisões do PS. Esta situação não pode continuar. Depois dos avisos e ameaças, Pedro Sá, do PCP desvalorizou: “o Programa de Estabilidade corresponde a uma opção do PS. Não é uma surpresa”. Por seu lado, o BE, por Mariana Mortágua, disse que há “margem negocial” com o PS. Contudo, numa entrevista à Bloomberg divulgada na quarta-feira passada, o Ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, deu como certa a revisão em baixa da meta do défice para este ano, de 1,1% para 0,7% do PIB.
A esquerda tem que ser exigente e não submissa muito menos a partidos como o PS, caso contrário os trabalhadores são os mais prejudicados. O PS é claro em relação ao PE e ao défice: agradar à UE dos ricos.
O PS, insuflado pelas sondagens que lhe dão a maioria absoluta, sente-se com maior margem de manobra para impor, ainda mais, as suas opções ideológicas. O BE e PCP têm que tomar uma posição de força, deixar de aprovar os OEs, e voltar às ruas conjuntamente para enfrentar os ataques do Governo PS. Caso contrário, os trabalhadores continuarão a pagar a factura.
Se o país cresce, porque razão o salário médio diminui? Se o país cresce, porque razão o emprego é crescentemente precário? Se o país cresce, porque razão a vida dos trabalhadores/as não melhora?
Então a esquerda tem que ser consequente e deixar de aprovar OE deste Governo e voltar às ruas, lutando para reverter tudo o que a direita nos roubou e este Governo não reverteu. A esquerda deve confiar e apoiar se apenas na classe trabalhadora e não no PS. É altura de retomar todos os direitos que nos foram retirados pela Troika e a direita. Se o país cresceu, queremos os nossos direitos de volta!