Editorial – 31 Março 2018
Como estamos recordados, em 2014, o antigo BES foi intervencionado pelo Estado. Foi-nos dito que, no Novo Banco, injectado com €4.900 milhões públicos, tinha ficado aquilo que era “bom” sendo que os activos tóxicos ficaram no antigo BES, o banco “mau”.
Seguem-se anos de prejuízos absurdos no Novo Banco. Entre Agosto e Dezembro de 2014, foram registados prejuízos de 419,9 milhões. Em 2015, prejuízos de €980,6 milhões. Em 2016, prejuízos de €788,3 milhões e, agora, em 2017, alcançou os históricos prejuízos de €1.395,4 milhões. Já lá vão 3 anos e meio, com €3.584,2 milhões de prejuízos acumulados.
Agora ficamos a saber que o Novo Banco sofrerá uma nova injecção de capital de praticamente €800 milhões, dos quais o Estado pagará a maior parte – €450 milhões. Nem um cêntimo será gasto pelo fundo Lonestar. O Governo PS, pelo menos neste terreno, mantém a linha dos anteriores governos: sangrar os serviços públicos, estancar os salários e subir os impostos, tudo para salvar a banca. Também neste terreno, o Governo PS não virou a página.
Pelo contrário, em Outubro de 2017, o Governo vendeu o NB a preço zero ao fundo norte-americano Lonestar. O PS não só ofereceu o banco, como garantiu uma nova injecção pública que pode alcançar os €3.890 milhões. Ou seja, tudo o que seja prejuízos advindos das negociatas da família Espírito Santo não só continuam no Novo Banco, como, depois da venda a privados, continuam a cargo do Estado. Para o fundo de especulação Lonestar ficam garantidos os lucros. É uma receita para o desastre, se nada for mudado, os trabalhadores continuarão a financiar este buraco por muitos anos, com o seus impostos e salários.
O Novo Banco também é um “banco mau”
Em 2014, foi-nos dito que o banco “mau” tinha ficado com os activos tóxicos da família Espírito Santo, o que não nos foi dito foi que o Novo Banco também tinha ficado com uma boa fatia daqueles activos tóxicos.
Ao que parece, o bolo de activos tóxicos da família Espírito Santo era tão grande que o Governo PSD/CDS-PP decidiu partilhar a maior parte da fatia dos prejuízos com o Estado e todos nós. Os Espírito Santo agradeceram. Quem trabalha todos os dias, sob a chantagem da precariedade, com salários de miséria e serviços públicos em ruptura não, não agradece. É precisamente por se canalizar tanto dinheiro para a banca que as condições de vida e de trabalho estão em declínio. É daí que vem a ruptura dos nossos serviços públicos.
O Governo anterior escolheu minuciosamente aquilo que não tinha mesmo margem de manobra para ser alocado a outras contas que não as do antigo BES e aquilo que, despercebida mas intencionalmente, foi deixado nas contas do… Novo Banco. O Novo Banco nunca foi “sólido nem bem capitalizado”, como nos fizeram crer. O Novo Banco foi uma escolha política que mantém, como reféns, os nossos serviços públicos e condições de vida. Os prejuízos hoje reconhecidos fazem parte de todo um conjunto de créditos podres, concedidos pela família Espírito Santo aos seus “amigos” empresários e políticos.
O Governo PS tem de parar de injectar dinheiro público na banca!
A Lonestar pode vender o banco dentro de 3 anos. O Estado pode arcar com as consequências dos activos tóxicos até aos próximos 8 anos. A Lonestar é especialista em especular: compra activos, não assume qualquer prejuízo das equipas de gestão anteriores, corta a direito nos custos operacionais, nomeadamente, na mão-de-obra e balcões, e volta a vender os activos, rapidamente e em força, por um preço muito superior, encaixando grandes lucros.
Para poder vender o NB dentro de 3 anos, a Lonestar dedica-se a limpar o “lixo”, coloca-lo sob a responsabilidade do Estado. Entretanto despede trabalhadores massivamente e fecha balcões a todo o gás, para começar a lucrar, com o mínimo de recursos possível. Desde Dezembro de 2014 já foram despedidos 1.676 bancários e encerrados 183 balcões no Novo Banco. Só em 2016 e 2017, sob o Governo PS, foi permitido o despedimento de 1.415 trabalhadores e o encerramento de 148 balcões.
A venda do NB à Lonestar feita pelo Governo PS foi um erro crasso. Se o Governo PS se diz diferente do anterior, se pretende, como afirma, virar a página da austeridade, não pode prosseguir uma política que canaliza todo o dinheiro público para a banca. Já são mais de 10 mil milhões de euros que este governo deu à banca.
BE e PCP tem vindo a denunciar a nova injecção no Novo Banco. Porém, há poucos meses, aprovaram o actual Orçamento do Estado (OE) que prevê uma verba de €850 milhões de ajuda estatal à banca. Este dinheiro não serviria melhor à saúde e educação? Conseguimos avaliar hoje que as sucessivas aprovações dos OEs do PS, por parte de BE e PCP, têm sido um grave erro. A esquerda não pode continuar a dar o aval a esta política.
O Novo Banco deve ser rapidamente nacionalizado, sem indemnização ao fundo Lonestar. Tal qual têm defendido os bancários do MAS no interior da banca. Só assim conseguiremos garantir a soberania e o desenvolvimento sustentável da economia, assim como o financiamento dos serviços públicos, dos salários e pensões. Nós trabalhadores, os trabalhadores bancários em particular, tem de fazer ouvir esta exigência. O Governo não pode continuar a sangrar o país para salvar a banca. BE e PCP e a CGTP, mais do que críticas passageiras, devem encabeçar esta exigência, não só no parlamento, como nas ruas e nos locais de trabalho.