O 8M de 2018 foi histórico. Por todo o mundo, em mais de 170 países, as mulheres tomaram as ruas. Desde a Índia à América Latina, passando por França, Estado Espanhol, Irlanda, Afrin as mulheres marcaram o Dia Internacional da Mulher não como um dia de flores, maquilhagem e presentes, mas como um dia de luta, de mobilização, de reivindicação e resistência. A Greve Internacional de Mulheres, que já em 2017 se fez sentir, sacudiu o planeta e deixou bem claro que há muito que fazer.
No Estado Espanhol mais de 5 milhões de trabalhadoras/es participaram na primeira greve “feminista”, focando problemas como a discriminação de género, a violência doméstica e a desigualdade salarial. As companheiras do Estado Espanhol organizaram, desde a greve internacional de mulheres de 2017, um chamado aos sindicatos para convocar uma greve. As mulheres paralisaram hospitais, bancos, escolas, universidades, os serviços públicos e até alguns meios de comunicação. Foram convocadas mais de 120 manifestações no país inteiro e as imagens que nos chegaram demonstram bem a força das mobilizações.
Em França as/os trabalhadoras/es foram chamados a abandonar os seus postos de trabalho às 15h40, para evidenciar a desigualdade salarial sentida pelas mulheres. As trabalhadoras francesas recebem menos 24% que os seus colegas homens, pelo mesmo trabalho, sendo que os cálculos demonstram que trabalham de graça a partir das 15.40 todos os dias.
Em Milão as estudantes protestaram em frente aos hospitais contra os médicos que se recusam a fazer abortos legais e seguros. Na Argentina e na América Latina as ruas encheram-se contra os feminicídios, contra a ocupação militar no Rio de Janeiro, contra o golpe reacionário da direita.
Nos países onde não houve convocatória de greve por parte das estruturas sindicais, as mulheres chamaram à paralisação por outros meios e realizaram-se grandes manifestações barulhentas, reivindicativas e poderosas.
As lições do 8M
A resistência das mulheres floresce. Sentimos na pele a opressão e a desigualdade quotidiana. As nossas vidas são constantemente marcadas pela discriminação no trabalho, nas ruas, nas escolas e universidades e em casa. O Dia Internacional da Mulher é uma data importante para dar visibilidade e força à nossa luta, mas precisamos de muito mais.
Queremos uma sociedade livre de opressão, exploração e violência de género. Queremos ir à luta pelos nossos direitos e queremos do nosso lado os nossos colegas de trabalho, companheiros e familiares, porque a luta pelo fim da exploração e da opressão é uma luta conjunta, por um mundo diferente.
Em Portugal, as manifestações foram grandes – várias cidades aderiram ao chamado internacional e encheram as ruas com as suas bandeiras e reivindicações. Misteriosamente, e apesar de, em Lisboa, terem estado mais de 2.000 pessoas nas ruas não apareceu nenhum órgão de comunicação social. Por cá, também queríamos uma greve, construída desde a base, que para além do movimento social recolha também o apoio dos sindicatos e de todos partidos de esquerda. Por cá, também precisamos de um programa sério de combate ao machismo, à violência e à discriminação. A Geringonça, nos dois anos de mandato, nada fez para melhorar a condição das mulheres trabalhadores portuguesas. A precariedade e os baixos salários, os horários exaustivos, o desinvestimento nos serviços públicos, o aumento da carga fiscal, os despedimentos das mulheres da Triumph e da Ricon são exemplos da violência, da exploração e da opressão que recai sobre as mulheres. Basta!
Precisamos de pegar a força do 8M e aprofundar as lutas, dar-lhe continuidade. As nossas reivindicações precisam ser ouvidas e para tal necessitamos de unir forças e construir um movimento feminista forte e combativo, anti-capitalista, das mulheres que trabalham e sentem directamente os efeitos dos cortes, do desinvestimento etc., um movimento construído nas ruas, nos locais de trabalho, nas universidades, nos bairros, um movimento feminista que se apoie na mobilização como forma de conquistar a sua emancipação. A CGTP, assim como BE e PCP, como direções sindicais e políticas de importantes setores da classe trabalhadora, devem assumir um papel mais activo na mobilização das mulheres e homens que todos os dias são submetidas às mais precárias condições de vida e de trabalho.
O 8M foi incrível e abanou o mundo. Que venham mais dias de luta, muita resistência e muitas vitórias, porque “caladas nos querem mas rebeldes nos terão”.