A manifestação dinamizada pela Greve Internacional de Mulheres em 2018 veio provar aos mais incrédulos que, tanto em Portugal quanto noutros países, como o Estado Espanhol, há grandes possibilidades e disposição para ocupar as ruas contra todos os tipos de violência machista.
No entanto, há questões que imperam: “será que alterações legislativas chegam?”; “como é que a luta contra o machismo expressa os vários problemas da sociedade onde vivemos?”; “como é que o combate ao machismo se pode tornar uma luta anti-sistema?”; “como dar continuidade à luta?”
Não há fórmulas mágicas. A todas as mulheres que estiveram ontem ao meu lado por todo o mundo e também a todas as outras que, por motivos vários, não o puderam fazer, relembro que não podemos esperar que as estruturas tradicionais de poder se queiram ocupar das nossas necessidades!
A nossa necessidade de um serviço público de creches, a nossa necessidade de mais casas abrigo para as vítimas de violência doméstica (ainda que consideremos não ter que ser a vítima a sair de casa), a nossa necessidade de mais investimento no ensino, o nosso direito à habitação, assim como a nossa situação laboral bem como todos os outros aspetos das nossas vidas, não pode estar dependente dos jogos da casta que não partilha estes mesmos problemas.
Um dos muitos exemplos de como a luta feminista não pode ser separada das questões que dizem respeito à luta pela emancipação de toda a humanidade, isto é, da luta contra o capitalismo e o imperialismo, é a lei portuguesa do aborto. Em 2017, celebrámos 10 anos do feito histórico de termos conseguido vencer a batalha pela legalização e inclusão do aborto no SNS, gratuito e de qualidade. No entanto, o ano de 2018 começou com a notícia de que o centro hospitalar Lisboa Norte, pertencente ao Hospital Santa Maria, havia enviado algo como 137 mulheres para abortar no sector privado. Os salários praticados e as condições materiais em que se encontram os nossos serviços de saúde limitam o alcance e a igualdade de acesso a esses mesmos serviços. Acabam muitas vezes por servir de justificação para se recorrer a serviços privados. Tanto assim é que auxiliares e enfermeiras se têm mobilizado contra as parcas condições em que trabalham, contra os salários miseráveis e contra a sucessiva degradação dos serviços de saúde. A luta pelo direito ao aborto, acessível a todas, gratuito e de qualidade é uma luta permanente.
Os sucessivos Governos PSD/CDS-PP e PS querem fazer-nos acreditar que os serviços, enquanto públicos, estão destinados ao definhamento e à má gestão. Negamos essa lógica e se tal acontece é por responsabilidade desses mesmos governos. O que se passa na realidade é uma inversão de prioridades dos sucessivos governos que preferem injectar sucessivamente dinheiro público na banca ou em exorbitantes pagamentos da dívida pública. Isto obriga-nos a levantar a questão: “o dinheiro existe, mas será que o Governo do PS de António Costa, apoiado pelo BE e pelo PCP, põe as nossas necessidades como prioridade?”
Para mim, a resposta é mais que óbvia: Não! Mas ainda que assim não seja: o movimento feminista trabalha todos os dias para reescrever a História da mulher trabalhadora contra a ideia de que as mulheres são uma donzela que espera pacientemente na torre. Nós somos outras, somos as impacientes, somos quem se levanta e bate na mesa para decidir o nosso próprio futuro.
Importa agora pensar e debater o que fazer a seguir para avançar com a luta feminista em Portugal. A seguir ao 8 de Março, o que fazer? Vem debater connosco no dia 16 de março, às 21h30, na sede do MAS, em Lisboa. A seguir haverá convívio com comes, bebes e música.
Bárbara Góis