Os trabalhadores e trabalhadoras da Autoeuropa deram no passado dia 20 mais um exemplo de determinação e luta. Num país em suposta paz social e dita devolução de direitos pelas mãos do Governo PS apoiado por BE e PCP, estes operários tiveram a coragem de dizer não ao abuso. Eles sabem que os direitos não caem do céu e que é preciso lutar.
Plenários de dia 20 exigem nova Greve
Os trabalhadores já recusaram, em agosto e em dezembro, dois pré-acordos feitos entre as Comissões de Trabalhadores e a Administração que impunham o trabalho obrigatório aos Sábados e até aos Domingos. Apesar das duas CT’s terem feito acordos contra os interesses dos trabalhadores, e dos Sindicatos também vacilarem, os operários tiveram coragem de dizer não e de fazer o que nunca tinha sido feito: parar a fábrica.
O mesmo aconteceu nos plenários do passado dia 20. Contra a opinião da Administração, da CT, dos Sindicatos e do Governo, os operários mantiveram-se irredutíveis.
Não se limitaram a dizer não. Os trabalhadores votaram uma proposta alternativa e exequível de horários, que permite o cumprimento das metas de produção sem o trabalho obrigatório aos Sábados e Domingos. Os trabalhadores defendem a criação de um quarto turno que funcione apenas ao fim-de-semana, para o qual seriam recrutados voluntariamente trabalhadores. É um modelo semelhante ao que existe noutras fábricas, como a Continental. Os trabalhadores exigem também aumentos de 6.5%.
Para defender estas exigências, foi aprovada uma greve de dois dias no início de fevereiro e um novo plenário em janeiro, para reforçar a greve e controlar as negociações levadas a cabo pelos sindicatos e a CT. Fica evidente a diferença com os tempos da CT comandada por António Chora e também com a nova CT, que cedeu muito rápido. Isto sim é democracia operária!
Administração da Autoeuropa mantém-se intransigente
A administração da Autoeuropa é a responsável por tudo isto. A ganância e incompetência da Administração fez com que se comprometessem com metas altíssimas de produção sem que investissem na fábrica o suficiente para as cumprir. A sua expectativa era que os operários aceitassem trabalhar mais por menos, para colmatar a incompetência dos gestores. É a isso que eles chamam paz social! Mas desta vez, saiu-lhes o tiro pela culatra…
Governo e Marcelo: ao lado dos patrões
Perante o impasse, o Governo, que queria passar ao lado do conflito, foi obrigado a intervir. Apesar de se apresentar como amigo dos trabalhadores, o Governo PS procurou garantir que os desígnios da Administração eram cumpridos. Em reunião com a CT e a Administração, o ministro Vieira da Silva fez uma proposta de conciliação: os trabalhadores aceitavam o trabalho obrigatório ao Sábado e em troca haveria uma creche na empresa 24horas por dia, paga pelo estado. Ou seja, a proposta do Governo é que os contribuintes paguem uma creche (que devia ser uma obrigação da Autoeuropa, paga com os seus lucros!), a troco do aumento da exploração. A receita é a mesma de sempre: dinheiro público para lucros privados. Marcelo Rebelo de Sousa não podia deixar de opinar: na cerimónia de boas festas do Governo, o Presidente assinalou que cabia ao Governo garantir a paz social na Autoeuropa. Ou seja, cabia ao Governo calar os operários. A Comissão de Trabalhadores decidiu patrocinar a solução da creche, mas os trabalhadores não caíram na esparrela.
Site-Sul e a CGTP: negociar o quê?
No inicio do conflito, a imprensa vendeu a ideia de tudo se tratava de uma maquinação da CGTP e do PCP. Nada mais falso: a CGTP e o Site-Sul, ambos comandados pelo PCP, não se tem comportado melhor que as CT’s. A primeira greve, de 30 de agosto não teve um verdadeiro apoio por parte da CGTP. Já o Site-Sul também não tem estado à altura. Tal como a CT e a CGTP só falam em negociar. Claro que é preciso negociar, mas para que a empresa negoceie o ponto que mais interessa, o trabalho ao Sábado, esta tem de ser obrigada. Mas isso só se consegue pela luta. E de luta, ao que parece, é o que Site-Sul e a CGTP nem falam. Aliás, após os plenários que votaram uma nova greve, o Site-Sul, em vez de se comprometer a colocar o pré-aviso de greve, veio de novo apelar à negociação e acusar de populismo os trabalhadores que propuseram nova greve. Os dirigentes do Site-Sul repetem hoje as acusações que António Chora fez aos trabalhadores e sindicatos há alguns meses atrás. Afinal estas organizações sindicais comandadas pelo PCP querem o mesmo que o Governo que este partido apoia: a paz social. Ou seja, que os trabalhadores cedam mais a vez.
Solidariedade, Organização e luta!
O MAS está, mais uma vez, incondicionalmente ao lado da luta dos operários da Autoeuropa. Esta deveria ser a postura de toda a esquerda e de todo o movimento sindical. É preciso cercar esta luta de solidariedade e leva-la mais além. A luta dos trabalhadores da Autoeuropa deve ser levada a todo o país e transformada numa grande luta contra a exaustão no trabalho, pelo direito dos trabalhadores e dizer não às imposições dos patrões.
Os trabalhadores já viram que só podem contar consigo mesmos. CT e Sindicatos não merecem confiança. Os trabalhadores devem auto-organizar-se para lutar pela proposta e preparar a nova greve. Devem exigir da CT que que defenda a proposta decidida em plenário e ao Site-Sul que coloque já o pré-aviso de greve. Unidos e organizados, os trabalhadores da Autoeuropa vencerão!
Trabalhadores: confiem nas vossas forças, controlem os vossos representantes!
Todo o apoio à luta dos trabalhadores da Autoeuropa!