O problema dos incêndios é recorrente e vem de há muitos anos a esta parte. Desde a década de 1980, com os Governos de Cavaco Silva, que os interesses da indústria da madeira e celulose avançam continuamente.
Este foi o período em que os sucessivos governos PS, PSD e CDS-PP, sob o patrocínio da UE, pagaram indemnizações para que a produção agrícola fosse abandonada. Simultaneamente, aqueles mesmos governos foram abrindo caminho aos interesses da monocultura do eucalipto. Do desincentivo da agricultura à desertificação do interior do país foi um passo.
Como se pode ver, as políticas seguidas pelos sucessivos governos têm vindo a transformar o país num palheiro abandonado, pronto a arder a qualquer altura.
Desde então, a diversificação florestal é cada vez menor e o desinvestimento na floresta, por parte dos sucessivos Governos PS, PSD e CDS-PP, é permanente. O investimento em ordenamento do território é muito reduzido. O investimento na vigilância e manutenção da floresta tem vindo a desaparecer, com o desaparecimento dos guardas florestais. A prevenção e combate aos incêndios é mantida em serviços mínimos – não existem especialistas, nem profissionais, recaindo este gigante problema sobre as costas de bombeiros em regime voluntário. Como se não bastasse, o anterior Governo PSD/CDS-PP voltou a liberalizar a plantação de eucalipto, medida que o actual Governo PS fez questão de não reverter.
O ano de 2017 é o culminar desta constelação de políticas erradas, de defesa dos interesses financeiros e económicos das madeireiras e celuloses e dos profundos cortes no investimento público na floresta. Resultado? Mais de 500.000 hectares ardidos e mais de 100 mortos.
A reação do Governo PS, à sombra dos resultados eleitorais e obcecado com o controlo do défice, foi desastrosa e a direita, através de Assunção Cristas, como se nada tivesse a ver com o desastre florestal e humano, tenta vergonhosamente aproveitar-se da situação. Entre arrogância, desvalorização, aproveitamento e minimização de prejuízos políticos, a mensagem de Marcelo Rebelo de Sousa é clara: “se houver margem orçamental, que se dê prioridade à floresta e à prevenção aos fogos”. Ou seja, em primeiro lugar está o pagamento contínuo dos € 7/8 mil milhões de juros da dívida pública anuais à banca e o cumprimento do plano de Bruxelas. Só depois, se sobrar algum, pode ser que vá para a floresta.
As direções de BE e PCP têm a responsabilidade de contrariar esta visão de que o controlo orçamental se deve sobrepor às nossas vidas e ao meio ambiente. É hora de mobilizar as populações e defender um programa sério de profunda reestruturação florestal e territorial, a começar já neste Orçamento do Estado. Devem mesmo ponderar o fim do apoio que têm prestado ao actual Governo PS. A política que tem sido seguida por PS, PSD e CDS-PP não nos serve!
As nossas vidas valem mais que o défice e os lucros das celuloses! É necessária uma reestruturação florestal profunda! Combater os interesses das madeireiras e celuloses! Inverter a monocultura e diversificar a floresta! Aumentar o investimento público no ordenamento e manutenção do território! Investir na profissionalização dos meios de prevenção e combate a incêndios! Investir na agricultura e combate à desertificação do interior!