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Entrevista na Autoeuropa: “Sou um dos 2 mil novos contratados a termo certo e decidi entrar na luta!”

Entrevista a João, jovem operário da Autoeuropa

 

MAS: Como foi a greve no dia 30 de Agosto? Foi forte? A fábrica parou?

João: Sim, a paragem da produção foi total graças à adesão massiva à greve por parte dos trabalhadores. Eu próprio sou um dos 2 mil novos contratados a termo certo e decidi entrar na luta, com o principal motivo de defender o meu/nosso futuro nesta fabrica, mesmo arriscando o meu emprego. Acredito que esta medida que estão a tentar nos impôr se tornará uma prática comum (e não temporária como dizem), e a partir desse momento, tentar reinvindicar no futuro que voltemos ao antigo horário será uma tarefa impossível.

 

MAS: Como estão a reagir aos ataques de que estão a ser alvo? Qual o estado de ânimo na fábrica depois da greve?

João: Penso que não estão a afectar em nada a nossa determinação em lutar contra este sistema de horário. Na minha opinião pessoal, a maioria dos comentários públicos acerca de qualquer notícia sobre esta greve são o reflexo do que há de mais atrasado na mentalidade portuguesa, onde nós, trabalhadores, temos obrigatoriamente de nos submeter a tudo o que a entidade patronal decide, como numa espécie de ditadura. Para ajudar a incrementar estas ideias a comunicação social manipula o público com informação falsa para expôr os trabalhadores como se estes fossem uns “calões”.

 

MAS: O que pensam das ameaças de deslocalização da produção? Os custos de produçao na Auto-Europa são muito elevados?

João: Existe sempre essa especulação mas felizmente grande parte dos meus colegas partilha a mesma opinião que eu. De que essa é mais um forma de espalhar o medo e de humilhar publicamente todos os trabalhadores da fabrica. Não acredito de todo nessa deslocalização, a Volkswagen fez agora muito recentemente a apresentação do novo modelo T-Roc que já está em produção, a marca tem que entregar os números planeados aos clientes, e tem obrigatoriamente de os produzir para aumentar a competitividade no mercado. A meu ver a marca nunca iria deslocalizar agora o modelo, com tudo o que já foi investido em infraestruturas e mão de obra especializada.

 

MAS: Há diferenças nos direitos e condições de trabalho dos novos trabalhadores?

João: Em relação a isso posso dizer que no meu contrato está uma condição que afirma que eu me disponho a trabalhar na empresa de segunda a domingo no horário que bem entenderem, enquanto que no dos meus colegas mais velhos está de segunda a sexta-feira, e tudo o resto é considerado trabalho extraordinário.

 

MAS: Quais sao os proximos passos? Há novos plenários marcados para ver novas formas de luta?

João: Até ao momento foi anunciada uma reunião do sindicato com a administração para dia 7 de Setembro.

 

MAS: O pensas sobre a demissão da CT e novas eleições?

João: Penso que foi o melhor caminho. Apesar de estar na empresa há relativamente pouco tempo, rapidamente me apercebi que a CT esteve sempre contra os trabalhadores, sendo que nos últimos plenários isso tornou-se mais claro, através de respostas arrogantes aos trabalhadores que decidiram tomar a palavra durante os plenários.

 

MAS: Qual achas que poderia ser o papel do governo, e dos partidos de esquerda que o apoiam, no conflito?

João: Penso que estão a ser completamente irrresponsáveis, visto que a greve está em destaque nos noticiários nacionais, que a empresa tem um impacto enorme no país e na regiao de Setúbal, contribui para 1% do pib nacional, tem tanto impacto na nossa indústria e nas exportações, etc., é um completo desrespeito por quem aqui trabalha que não intervenham e nos apoiem.

 

01/09/2017

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