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Autoeuropa: que o circo comece!

O assunto que vos trago aqui hoje, é dirigido a todos vocês que aqui tenho como amigos. Trata-se de uma realidade que estou a viver, tal como de muitos companheiros meus de trabalho, e que diz respeito à greve agendada para o dia de amanha, 29 de Agosto, a partir das 23h30, e até às 24h do dia 30 do corrente mês, na fábrica da Volkswagen em Palmela, também conhecida por Autoeuropa.

Desde já gostaria de referir o seguinte. Nos dias que correm, cada vez temos mais a certeza que a informação disponibilizada nos principais canais de televisão, é fornecida muitas das vezes e cada vez mais, sem ser antes confirmada, assente na verdade que cai do céu sem se responsabilizar quem quer que seja, mas acima de tudo de forma a formatar e a direccionar o pensamento de quem a consome. No dia a dia temos cada vez mais a certeza disso e os exemplos são inúmeros.

Mas ainda temos mais essas mesmas certezas quando o universo daquilo que é noticiado nos toca pessoalmente. Vemos esses mesmos meios de informação, sejam eles televisivos, radiofónicos ou escritos, a divulgarem informação que não corresponde minimamente à verdade ou deturpada da realidade, e assim o é, pois tem um objectivo! E quando assim acontece, perguntamos a nós próprios, quanto dessa mesma informação que consumimos no dia a dia, e que não nos toca pessoalmente, corresponde à verdade!

Para além do que já aqui referi, e respeitante ao tema, a GREVE de dia 30 de Agosto na Volkswagen de Palmela, Autoeuropa, como que saídos do nada, ou de cartolas de magia, saem como já em outras tantas vezes, os Camilos, os Ferreiras, os Falcões, e tantos outros mais, iluminados da economia, com o dom da palavra e da sabedoria, sobre uma realidade da qual não conhecem nem fazem a mínima ideia, mas como é óbvio, o fazem a mando e em defesa dos interesses de alguém! Apenas não consigo compreender com tantos iluminados que temos neste país, o mesmo não saia do mesmo, nesta nossa democracia de 43 anos.

Mas a verdade é que os trabalhadores da Autoeuropa têm uma greve marcada para o próximo dia 30. E não porque os sindicatos assim o quiseram ou assim o impuseram. Os sindicatos neste processo são apenas e até agora, a “ferramenta legal” que os trabalhadores “precisaram” para a marcação de uma greve, face a uma administração intransigente e surda naquilo que quer impor aos seus trabalhadores, com a desculpa de uma produção que tem que ser feita e de cerca de 250 mil carros.

E esta tem sido a realidade dos trabalhadores da Autoeuropa desde que esta abriu. Cada vez que interessa retirar direitos de trabalho e regalias aos trabalhadores, os mesmos são chamados à pedra, e sempre um passo à frente daquilo que deveria ser o início da apresentação e discussão dos assuntos em causa. Na história da fábrica sempre foi assim. Foi com os Downdays, ou com a abdicação por parte dos trabalhadores das horas extraordinárias de 200% e redução das mesmas para 100%, mas acordo esse que a administração num passado recente veio a quebrar, aquando da governação de Passos e Portas, com base numa lei temporária que permitiu o pagamento dessas mesmas horas a um valor ainda mais baixo. E tudo isto se foi passando durante 25 anos com o consentimento e colaboração de uma maioria representativa na Comissão de Trabalhadores, que ao invés de defender os mesmos, têm sido as marionetas da administração. Mas sempre difundida pelos meios de comunicação como uma CT responsável, com sentido de diálogo, e defensora dos postos de trabalho. Postos de trabalho esses que foram ao longo de 25 anos sendo reduzidos de cerca de 5000 para 3500 directos, mas quase sempre com base numa produção regular e em volta dos mesmos números. E isto porque certamente tudo o que aprendemos até hoje no que toca às matemáticas certamente estará errado!

Mais uma vez e neste caso o problema foi exposto aos trabalhadores como se do mesmo estes tivessem a culpa, e assim sendo tenham que ver alterados os seus hábitos de vida, de descanso, familiares, sociais e de lazer, num modelo de horário inaceitável e que afectará em muito as suas vidas! Quando aqui o problema é outro! A produção dos 250 mil carros, não é possível fazer-se antes de mais, não devido aos horários praticados até hoje nas várias áreas da fábrica, e que assim sendo têm que ser alterados! Os 250 mil carros não se conseguem produzir devido sim ao espaço físico não o permitir, dentro daquilo que têm sido os horários praticados até hoje, ou até mesmo com um 3º turno de laboração. Ou seja, as linhas de produção existentes não o permitem! Não se estando a falar propriamente da serralharia da esquina ou do bairro, fábricas desta dimensão, e pertencendo neste caso ao grupo que pertence, preparam-se, inovam-se, para os volumes pretendidos, e na Fábrica de Palmela essa também foi uma realidade presente durante a sua existência. Então porque razão não o fizeram desta vez, quando até se diz que o investimento feito foi de cerca de 700 milhões de euros para a produção deste novo modelo??? Será que esse investimento foi mal aplicado ou nos locais errados??? E uma vez mais, a Comissão de Trabalhadores na sua maioria representativa, e com toda a experiência destes 25 anos de actividade, não soube argumentar nesta base com a administração. Nos plenários com os trabalhadores mostrou-se ao lado destes e defensora dos mesmos. Mas perante um anúncio e vontade de greve votada em plenário pelos trabalhadores, devido à posição intransigente da administração, decidiu esta, a CT, avançar de um dia para o outro com a votação de um referendo, sem que tivessem consultado em plenário quem representam, para a realização do mesmo, ou seja, os trabalhadores! No entanto no dito referendo, a brincadeira e a esperteza saiu-lhes furada, tendo sido o horário que a administração quer impor aos trabalhadores, rejeitado por 74% dos mesmos! O que se seguiu foi para os trabalhadores da fábrica de Palmela, algo inacreditável, com o principal responsável da já referida maioria representativa da Comissão de trabalhadores, em entrevista a um canal do estado, como a outros meios de comunicação da região, a culpabilizar sindicatos pela situação vivida na fábrica de Palmela!…e o mais estranho, com a demissão da comissão de trabalhadores por vontade da sua maioria representativa! Mas estranho só pelo momento escolhido! Já desde a discussão do acordo de empresa para 2017, e do qual trabalhadores e administração não chegaram a acordo, que muitos dos trabalhadores vinham pedindo a demissão da CT, algo que nunca se verificou. E tal acontece agora, quando os trabalhadores mais necessitam de serem representados, ficando assim os mesmos sem representação até Outubro, altura em que então se elegerá a nova Comissão de Trabalhadores!? Com entrevistas baseadas em mentiras, depois do que tinha sido decidido pelos trabalhadores em plenário e culpabilizando quem em nada até agora teve a culpa ou responsabilidade!!!??? Numa altura em que os trabalhadores precisam de representatividade face ao que está a ser discutido!!!??? Era esta então a comissão de trabalhadores na sua maioria representativa, tão responsável, dada ao dialogo e com provas dadas!!!???

Somos uma das melhores fábricas do grupo e com provas dadas ao longo de 25 anos, muitas das vezes à custa de direitos de trabalho e sem qualquer dúvida devido ao bom trabalho e esforço dos seus trabalhadores! Só é pena é que esse reconhecimento não seja na fábrica de Palmela semelhante aos de outras fábricas do grupo como na Alemanha ou até mesmo como já aconteceu no Brasil!!!

Por isso meus queridos amigos, àqueles que se deram ao trabalho de ler este longo texto, e que muito mais poderia ser escrito, não acreditem em tudo o que daqui para a frente, nos próximos dias, semanas ou meses, virem noticiado em relação à fabrica de Palmela no que diz respeito a este assunto!!!

Só para terem ideia, hoje começou a ser noticiado que o horário que administração quer implementar, é para os próximos dois anos e meio, algo que até agora nunca foi exposto aos trabalhadores desde que começou a discussão e aceitação ou não do mesmo!!!

 

Um trabalhador da Autoeuropa

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