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Médicos: dar condições a quem trabalha é dar saúde a quem adoece!

Esta semana quarta e quinta-feira são dias marcados por uma luta na saúde em Portugal. Os médicos deste país, com greve agendada para estas 48 horas, mostram sem surpresas já no primeiro dia um elevado nível de adesão.

Após meses a empatar os sindicatos com promessas vãs de atender algumas necessidades mínimas e já antigas do sector, a realidade dos profissionais e serviços de saúde viu muito pouco ser concretizado pelo actual ministério de Adalberto Campos Fernandes. O corte drástico que se havia prometido com a política do anterior governo da Troika representado na saúde por Paulo Macedo, têm sido na realidade alguns passinhos tímidos no sentido de repor o que o SNS já teve, antes do massacre austeritário ter cortado profissionais, hospitais, centros de saúde e outros recursos para alimentar as bestas insaciáveis da alta finança protegidas pela UE e companhia.

Exige-se a reposição do pagamento das horas extraordinárias – válido para qualquer trabalho, onde quem é obrigado a 50, 60 ou mais horas de labuta por semana sabe que é no fundo uma indeminização por se ter a vida (pessoal, familiar, social…) estragada. Outros pontos contemplam a redução do número de utentes por médico de família para que possa haver tempo suficiente para avaliar e acompanhar devidamente cada utente e o combate à indiferenciação dos jovens recém-licenciados sem vaga para a especialidade que se vêem ultimamente a braços com processos de despedimento no SNS. E não menos importante, a limitação do horário normal do trabalho em serviço de urgência num máximo de 12 horas seguidas e o direito ao descanso compensatório, princípios já contemplados (e bem!) em profissões como pilotos de aviação ou camionistas. Que o diga quem escreve estas linhas, tantas vezes forçado (sim, forçado) a trabalhar 24 horas seguidas sem apelo nem agravo em condições físicas degradantes e desgastantes para profissionais e doentes. Se até uma simples conta de somar sai com dificuldade nessas circunstâncias, quanto mais acertar um diagnóstico menos óbvio ou fazer um procedimento invasivo delicado!

E porque a falta de condições salariais e de trabalho não é um exclusivo dos médicos mas é comum a outros profissionais da saúde que sofrem mais exploração e precariedade, e, porque o SNS é de todos – fazia mais sentido que a greve também fosse dos enfermeiros, assistentes operacionais e outros que no dia-a-dia seguram com o seu esforço o que ainda resta do SNS!

 

AT, médico do Serviço Nacional de Saúde

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