No passado dia 25 de Novembro, saímos à rua para dizer basta à violência contra as mulheres. O povo fez-se ouvir ecoando palavras de ordem como “Unidas contra a violência, quebra o silêncio!”, “Nem uma a menos!”, “Caladas nos querem, rebeldes nos terão!” ou “A luta é todo o dia, mulher não é mercadoria!”.
Num ano marcado por várias mobilizações de mulheres no mundo todo, verificou-se por cá maior adesão ao protesto. Este ano contam-se por cá 22 feminicídios e, se olharmos para os últimos 12 anos, os números apontam para 450 vítimas mortais, das quais dois terços destes crimes se deu dentro de casa. No resto do mundo, os dados revelam que esta é uma realidade que merece toda a nossa atenção e compromisso na criação de soluções que apoiem as mulheres e que se apresentem como alternativa.
O ingrediente surpresa deste ano foi a presença de elementos do governo na marcha. E a pergunta que se coloca é saber o porquê do PS estar tão empenhado em participar este ano nesta marcha, com figuras de destaque do seu governo, quando no passado nunca se interessou em participar de forma tão estruturada? Estará o governo, de facto, a mudar esta realidade? Para espanto dos participantes, ministros e secretários de Estado ocuparam a frente da marcha, seguindo num desfile silencioso. Sentia-se no ar o constrangimento das pessoas que se juntaram ali pelo fim da violência contra a mulher, inibidas em manifestar-se. No dia seguinte, uma notícia era publicada com o título “Governo em peso na marcha contra a violência sobre as mulheres”. E, bingo! Estão as condições reunidas para contaminar a opinião pública, passando a mensagem de que o necessário já estará a ser feito pelo fim da violência contra as mulheres. E, de facto, foi feito algo? Criou-se uma rede de casas abrigo com as condições necessárias para receber estas mulheres? Criaram-se esquadras de polícia vocacionadas para tratar este problema? Foi feita uma reforma legislativa com penas mais duras para quem praticar violência contra a mulher? Foi criado um plano de reinserção profissional das vítimas que estiverem desempregadas? Nada disto foi feito.
Querendo fazer algo, sobra ao governo o resto do ano para avançar com medidas que contribuam de forma efectiva para a eliminação dos casos de violência perpetuados pelo machismo. O governo não pode usar a mobilização de quem luta por uma causa para criar falsas aparências e servir-se dessa acção para sua propaganda! Não havendo uma análise crítica ao sucedido, facilmente se manipulam as consciências. Queremos um mundo onde as mulheres estejam livres de todas as formas de opressão machista, de modo a poderem expressar-se sem constrangimentos, devolvendo-lhes a confiança necessária para trazerem toda a sua energia para a esfera pública, onde fazem tanta falta! Será importante que no futuro esta Marcha seja construída não só por associações, mas também por outros colectivos, mulheres a nível individual e por todos/as aqueles/as que queriam participar. Na sociedade capitalista em que vivemos, a violência machista é mais um fruto do interesse da classe dominante em manter a mulher num papel secundário explorando a sua força de trabalho, seja na realização das tarefas domésticas e na criação dos filhos, seja impedindo a sua libertação por meio da precarização do trabalho e da diferença salarial.
O MAS está na luta pela construção de um movimento de mulheres trabalhadoras que se organizem para pôr fim ao machismo, à violência e à exploração! Junta-te a nós na luta contra a discriminação e desigualdade, por um mundo onde homens e mulheres marchem de facto lado a lado!