O que aí vem é um desinvestimento ainda maior na saúde (que é já praticada em regime privado ou semi-privado), um retrocesso brutal no direito ao aborto e uma crescente perseguição à liberdade de escolha das mulheres. As políticas machistas de Trump vão afectar as mulheres em geral, mas atacam de forma mais violenta os sectores mais pobres, mais precários e mais marginalizados da sociedade.
Na sua campanha eleitoral, Trump usou e abusou do machismo, tanto para atacar a sua adversária como para oprimir as mulheres em geral. Quantas vezes Trump emitiu comentários machistas com orgulho? Desde insultar mães a amamentar a afirmar que quando se é famoso é permitido assediar sexualmente as mulheres, a campanha do Trump esteve recheada de opressão em todas as suas vertentes. Trump não vê mal nenhum em sexualizar as entrevistadoras, Hillary, até a sua própria filha… e legitima vezes sem conta um discurso retrógrado que ataca os direitos reprodutivos, o salário mínimo, a igualdade, os cuidados de saúde, e os direitos das LBGT e dos negros.
E agora que foi eleito, o que podemos esperar?
Aborto
A posição inicial de Trump era pró-escolha (embora tenha sido sempre contra o aborto após as 20 semanas de gestação). Actualmente o novo presidente americano é abertamente anti-escolha querendo ilegalizar o aborto (permitindo somente em casos de violação, incesto ou quando a gravidez apresenta perigo para a saúde da mulher) e punir mulheres que o façam.
O aborto nos EUA é legal desde 1973. Se a lei for revogada, em 15 estados passará a ser novamente ilegal abortar, sendo que noutros sete estados existem leis estaduais que irão garantir o direito ao aborto. A solução que dá às mulheres que residem num estado onde passe a ser ilegal abortar é deslocar-se para um estado em que seja permitido. Trump, grande empresário e burguês, ignora que muitas mulheres não têm meios financeiros para viajar para outro estado (tendo ainda que custear o aborto). Políticas com estas só vão contribuir para aumentar o número de abortos ilegais, inseguros, que põem em causa a própria vida das mulheres trabalhadoras.
Vai nomear juízes anti-escolha para o Tribunal Supremo, facilitando a aprovação de leis como as que foram propostas pelo governador do estado de Indiana, Mike Spence, que obriga as mulheres a fazer uma cerimónia fúnebre para os seus fetos depois de abortar. A mesma lei estipula que será ilegal as mulheres abortarem no caso de deficiência do feto.
Saúde
Outro trunfo deste novo governo será a revogação de um acordo de saúde que possibilita a milhões de pessoas o acesso a seguros de saúdes, e que às mulheres terem métodos contraceptivos gratuitos e acompanhamento pré-natal. Aliás, depois do resultado das eleições, houve um boom de consultas nas clínicas no sentido de garantir métodos de contracepção mais duradouros. Milhares de mulheres afirmaram nas redes sociais que iriam por um DIU antes de Trump assumir funções porque não se sabe o que reserva o futuro.
Quer igualmente acabar com os departamentos de Planeamento Familiar, sob a retórica de que são uma fábrica de abortos e por isso o Estado não deve investir nestes departamentos.
Licença de maternidade
Trump acredita que a gravidez é uma experiência óptima tanto para a mãe como para o pai, mas diz que para as empresas é uma dor de cabeça… Por isso, a licença de maternidade passará a ser de 6 semanas (neste momento é 4 meses) e poderá continuar a não ser paga em nome da competitividade (actualmente o governo não legisla sobre a licença de maternidade paga, cabendo a cada empresa criar a sua própria política).
Cuidados infantis
Trump não planeia fazer nada para aliviar os custos dos cuidados infantis que recaem na totalidade sobre as famílias americanas e que muitas vezes se tornam mais dispendiosos do que as rendas e os custos com a alimentação.
Igualdade salarial
Trump também não tem intenção de atacar a diferença salarial, que vai dos 6% aos 22%, embora diga publicamente que se as mulheres fizerem um bom trabalho poderão receber o mesmo salário que os homens, eventualmente. Vai mais longe e afirma que a igualdade salarial não é uma bandeira das políticas públicas mas sim uma questão da responsabilidade das empresas que contratam mulheres.
Sintetizando, o que aí vem é um desinvestimento ainda maior na saúde (que é já praticada em regime privado ou semi-privado), um retrocesso brutal no direito ao aborto e uma crescente perseguição à liberdade de escolha das mulheres, a desresponsabilização crescente do Estado em matéria de licenças de maternidade, igualdade salarial etc. As políticas machistas de Trump vão afectar as mulheres em geral, mas atacam de forma mais violenta os sectores mais pobres, mais precários e mais marginalizados da sociedade.
A campanha de Trump e as suas propostas atacam directamente os direitos das mulheres, especialmente as da classe trabalhadora que, para além de sofrerem uma exploração brutal, diariamente começam a sentir na pele os efeitos de um presidente abertamente machista.
Por isso apelamos a todas as trabalhadoras para marchar juntas no dia 25 de Novembro, contra os Trumps desta vida, contra as políticas de violência, contra as agressões diárias. Basta de violência, de onde quer que ela venha!
Trabalhadoras do mundo, uni-vos!