Não se trata de um crescimento estrutural, mas de um modelo económico cultivado pela direita e reforçado pelo PS de transformar Portugal num país globalmente virado para o turismo, baseado em trabalho precário e na especulação imobiliária. Ao contrário do que afirma o governo, não é um crescimento para os trabalhadores, mas à sua custa.
Nos últimos dias soube-se que o PIB cresceu 0,8% no terceiro trimestre, mais 1,6% que nos mesmo período do ano passado.
O Governo congratulou-se, como seria de esperar. Este seria o resultado da política económica do Governo, segundo António Costa. O PCP apontou no mesmo sentido. O BE, por Mariana Mortágua, disse que “as notícias são boas e os dados positivos”. Como uma verdadeira coligação governativa, PS, BE e PCP têm o mesmo discurso, dando a entender que o crescimento do PIB anda a par com a melhoria das condições de vida de quem trabalha.
Marcelo Rebelo de Sousa afina pelo mesmo diapasão e vê como positivas as notícias. A direita fica calada, encurralada pela sua própria política castastrofista.
Estamos a crescer?
É excessivo afirmar que a economia está a crescer. Portugal encontra-se, como quase toda a Europa, em estagnação. O crescimento de 1,6% face ao semestre anterior e o crescimento de 1,8% previsto para este ano, pelo Governo, são valores pífios. Basta lembrar que, durante a crise, o PIB caiu mais de 7%, que a dívida pública é superior a 130% do PIB e os seus juros, mesmo em baixa, andam pelos 3%. Ou seja, a dívida mantém-se a um nível muito elevado, face ao PIB, e em tendência de crescimento.
Porque cresce o PIB?
O crescimento do PIB mede o crescimento do valor em dinheiro da produção, em bens e serviços. No caso, o crescimento registado provém de 1) exportação de serviços; 2) exportação de bens; 3) consumo interno;
O principal factor foi o crescimento do turismo, não por acaso, falamos do trimestre do Verão. Não se trata de um crescimento estrutural, mas de um modelo económico cultivado pela direita e reforçado pelo PS de transformar Portugal num país globalmente virado para o turismo, baseado em trabalho precário e na especulação imobiliária.
O segundo factor foi o crescimento das exportações de bens. Este crescimento através do aumento das exportações é o reflexo da desvalorização dos salários face ao exterior. Era, na essência, a estratégia da direita: cortar brutalmente nos salários para que o capital, em particular estrangeiro, investisse no país. Facilitaram-se os despedimentos, acabou-se com a contratação colectiva e facilitou-se a precarização. Em simultâneo, o BCE injecta milhões nos mercados financeiros e fez aumentar o crédito disponível. É esse o “segredo” do actual crescimento. Nos últimos anos, no Turismo, nos Call-Centers e nas fábricas baixaram os salários e aumentou a precariedade e o medo. Por isso, os capitalistas voltaram a investir. Não por acaso a Grécia e a Espanha são, junto com Portugal, quem mais cresce. Ao contrário do que afirma o governo, não é um crescimento para os trabalhadores, mas à sua custa.
É certo que os crescimento também vive do consumo interno, especialmente de bens duráveis (casa e carro, por exemplo). Porém, essa é uma componente marginal de um crescimento, já de si, marginal. A reposição de rendimentos está longe de compensar o que se perdeu nos anos da Troika. Em grande parte, o crescimento do consumo deve-se ainda ao crédito, que teve o maior aumento dos últimos anos.
Para conquistar de volta tudo o que foi roubado nos últimos anos, os trabalhadores devem voltar à luta. Esperar que PS, BE e PCP, por sua livre iniciativa, canalizem o crescimento económico para a carteira doa trabalhadores, é uma ilusão. Exemplos como a greve dos estivadores, dos seguranças do aeroporto de Lisboa ou dos trabalhadores precários do Centro Hospitalar do Oeste devem ser seguidos. O papel da esquerda não é do de defender a política do PS mas de preparar o regresso às lutas.