A Oligarquia Angolana, autoritária e corrupta, organiza-se em torno do MPLA. O MPLA actual nada tem a ver com o partido que encabeçou a luta heróica do povo Angolano pela sua libertação.
A casta burocrática que ocupou a liderança deste partido transformou-se numa oligarquia parasitária que, para se poder apoderar das rendas do petróleo e dos diamantes, que são explorados por potências estrangeiras, tem de controlar ferreamente o estado contra toda a oposição.
Por outro lado, os banqueiros e grandes empresários portugueses têm em Angola o seu último reduto de um passado Imperialista. Angola é, ainda hoje, é o país para onde existe maior exportação de capitais portugueses, ou seja, onde a CGD, a Mota-Engil, o antigo BES e outros obtém lucros sem fim, explorando a terra e o trabalho de um povo silenciado pelo regime do MPLA. A Oligarquia Angolana, além de garantir um regime autoritário onde os lucros das multinacionais portuguesas estão assegurados, ainda serve de “bolsa sem fundo” da descapitalizada burguesia portuguesa. Isabel dos Santos, por exemplo, cumpre esse papel: o de capitalizar a ZON, o BPI e outros com o dinheiro do petróleo angolano. Ou seja, ao mesmo tempo que Portugal é cada vez mais uma colónia financeira da finança europeia, os capitalistas portugueses, de forte tradição imperialista e colonial, ainda olham para Angola – e o resto da CPLP – como o seu “quintal” económico, de onde podem extrair lucros e rendimentos sem prestar contas nem ao povo nem às potências europeias. Nesse sentido a “burguesia” angolana não tem uma autonomia própria, por mais capital que possua. José Eduardo dos Santos, a sua filha Isabel e toda a oligarquia que vive em redor do aparelho político-militar do MPLA mais que uma classe dominante Angolana são um apêndice, poderoso e rico, mas um apêndice da burguesia portuguesa. Sem ela não poderiam realizar os seus negócios nem aceder à grande parte dos mercados financeiros mundiais, em particular europeus.
Porém a decadência da economia portuguesa e a sua subordinação cada maior, tornam-na cada vez mais “dependente” dos milhões que vêm de Angola. Os capitalistas portugueses têm sofrido eles mesmos uma série de reveses, como se viu na queda do Grupo Espírito Santo e na cada vez maior “espanholização” da banca portuguesa. Por isso temem que os “primos” angolanos procurem outros sócios, mais ricos, por exemplo entre os norte-americanos, também presentes na economia Angolana. Aliás, o recente pedido de intervenção do FMI em Angola, feito precisamente por José Eduardo dos Santos indicia isso mesmo.
Assim a vassalagem que PSD, CDS e PS prestam por igual ao MPLA é uma demonstração que estes partidos são, por igual, representantes da classe dominante portuguesa que tem no MPLA um parceiro prioritário, que teme perder.
Ainda mais trágica é o apoio dado pelo PCP a esse partido e regimes, que deveria ser o suficiente para que qualquer um que se considere comunista repudie este partido. O MPLA de hoje nada tem a ver com o que lutou pela libertação de Angola, nada tem de esquerda e de anti-imperialista. A prisão do PCP ao MPLA é um fóssil das antigas relações político-diplomáticas da guerra fria. Mas é mais que isso, é um sinal de como o PCP, no que é determinante, não se opõe ao ímpeto neocolonialista dos capitalistas portugueses que hoje, através da parceria com o MPLA, continuam a rapinar aquela nação.
O BE sim, tem o “mérito” de não apoiar este partido e este regime – é o mínimo que se perde a um partido de esquerda. Não obstante, não deixa de ser interessante ver como a presença de Paulo Portas no Congresso do MPLA- quem é que, na verdade, ficou surpreendido? – sirva para ofuscar uma realidade incontornável: 2/3 do governo português, dito de esquerda, avalizam e apoiam um governo e um partido corrupto e ditatorial em prol da finança e da burguesia nacional, que tanto têm a agradecer ao MPLA.
Sinais como a primavera Árabe ou a revolta da juventude Angolano ou a crise económica em Angola, potenciada pela queda do preço do petróleo, pressagiam tempestades no horizonte do MPLA. Quem sabe esteja a fermentar hoje a revolta popular que venha a retirar o MPLA do poder. Se isso acontecer, as ondas de choque chegarão em força a Portugal. A esquerda que não esteja, sem vacilar, ao lado do povo angolano contra o MPLA irá pagar caro essa traição. Porém isso só será possível com uma total independência face à burguesia portuguesa e aos seus partidos: PSD, CDS e PS. Não basta ser independente face ao MPLA, também é preciso denunciar sem vacilar a direita e o PS, coisa que hoje BE e PCP não fazem, por estarem reféns do governo de António Costa. Sem essa independência, a esquerda não terá como unir numa só luta trabalhadores portugueses e angolanos, contra quem os explora e oprime nem tão pouco voltar a levantar uma bandeira que se torna de novo essencial: Angola democrática, livre e independente!
Manuel Afonso